Universidades começam a implantar a temática da acessibilidade digital


Foto de várias pessoas sentadas em frente a notebooks enfileirados sobre uma mesa de madeira. Na imagem é possível ver apenas parte de seus braços e mãos que tocam mouse, teclado e papeis.
Tema da acessibilidade digital é tratado em sala de aula e contribui para a formação de profissionais (Foto: iStock)

Por Daniela Nunes*

Em março de 2022, o Movimento Web Para Todos entrevistou Vânia Ribas Ulbrich, professora e pesquisadora. Na ocasião, a docente trouxe a importância da acessibilidade como parte da formação de profissionais. “Acessibilidade digital deveria ser disciplina dentro dos cursos universitários”, comenta. 

No ensino superior, a acessibilidade digital ainda não tem o seu espaço na grade curricular, mas há docentes que já trabalham para incluir o assunto nas disciplinas que ministram. Carmen Justo, publicitária e professora do Centro Universitário Barão de Mauá, chama atenção sobre como a temática é tratada nas instituições. “A acessibilidade digital não existe como disciplina. O que existe, regulamentado hoje, são os núcleos de inclusão e acessibilidade. Geralmente, o que também tem são as disciplinas de Libras, que são optativas e em cursos de licenciatura é obrigatória. Fora isso, não se fala mais nada a respeito de acessibilidade nas universidades”, afirma a professora. 

Com o objetivo de levar o assunto para a sala de aula, Carmen incluiu a temática em uma disciplina que ministra há três anos. “A disciplina é de inovação, um dos tópicos é trabalhar acessibilidade digital, então trabalhamos a parte tecnológica e a parte que envolve a criação publicitária. Fazemos a descrição de imagens, a melhoria dos sites, mas o que estamos focando é nos trabalhos experimentais. Inserimos isso como um tópico para que no planejamento tenha esse cuidado. De repente temos um público em que, ao não olhar para essas questões, estamos desprezando”, explica Carmen. 

A ideia de trabalhar o tema em sala de aula nasceu a partir da pesquisa de doutorado da professora, que enxergou a necessidade de tratar da temática com profissionais em formação. Assim como Carmen, Lucinéa Vilella, docente da Unesp – Universidade Estadual Paulista, também aborda o tema com os alunos e alunas. Lucinéa é professora dentro da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design, do Campus Bauru. 

Ela atua na área da língua inglesa e sua linha de pesquisa é em acessibilidade audiovisual e estudos da tradução. Em Bauru, Lucinéa é responsável por coordenar o grupo de pesquisa MATAV – Mídia Acessível e Tradução Audiovisual. Desde 2013, o grupo promove ações dentro da universidade que envolvem a temática. “Promovemos ações que pensem em recursos para pessoas com deficiência. Especificamente ao que se refere a legendas e a audiodescrição, de todo e qualquer conteúdo, para as pessoas que não enxergam e não ouvem. O nosso campus pode declarar que tem ações de acessibilidade a partir das atividades do grupo de pesquisa, que consistem também em minicursos, palestras e eventos”, completa.

Além do grupo, a professora também destaca que ministra a disciplina de rádio, televisão e internet. Em 2019, a matéria sobre acessibilidade foi implantada na grade curricular em um dos cursos que leciona. “A disciplina envolve a formação de estudantes sobre dois recursos audiovisuais. Trata sobre audiodescrição, dublagem e linguagem aplicadas a pessoas com deficiência auditiva e visual, com materiais em inglês. É uma disciplina do primeiro ano e a turma se aprofunda e conhece esses recursos. A partir disso, recebem estímulo para inserirem essas ferramentas e introduzirem nas produções que criarão”, explica Lucinéa. 

Além de Carmen e Lucinéa, outro docente também trata do tema nas disciplinas que leciona. No Cesar School, a temática da acessibilidade é abordada na formação de designers. Marcelo Penha, professor na instituição, é responsável por lecionar as disciplinas de acessibilidade 1 e 2 no mestrado profissional em design e na graduação. “Nesse contexto, o foco é a acessibilidade de forma geral para passar os conceitos e aplicações em design”, conta. De acordo com o professor, além das disciplinas no mestrado, a graduação de design também aborda a temática.

Segundo Marcelo, na graduação em design, a grade dos últimos semestres do curso apresenta as disciplinas chamadas de tópicos contemporâneos. “A ideia é trazer temáticas em alta em relação às demandas profissionais da área. A direção do curso observou que pedidos  sobre acessibilidade têm crescido de maneira exponencial, então foi inserido esse tema na graduação também”, completa. 

Ali, a disciplina é dividida em duas modalidades. “Na primeira unidade o foco é a acessibilidade de forma geral, falamos sobre os conceitos e legislação. Na unidade dois, partimos para a parte prática. Trabalhamos em como tornar as soluções digitais acessíveis, tanto web como mobile”, complementa Marcelo. 

Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, comemora as iniciativas citadas nesta reportagem e destaca que elas podem e devem servir de inspiração para outras universidades que ainda não começaram a pensar sobre isso. “Não dá mais para admitirmos um cenário de exclusão digital, com menos de 1% dos sites brasileiros acessíveis a pessoas com deficiência”, ressalta Simone.

“Existem diretrizes de acessibilidade digital claras e elas estão disponíveis gratuitamente na web. Mas profissionais que desenvolvem aplicações digitais ainda não sabem disso e da necessidade de incorporá-las em todos os projetos. Por isso é tão urgente e fundamental que as universidades incluam logo esse tema de maneira transversal em todas as disciplinas”, finaliza Simone.

*Daniela Nunes é jornalista em formação e uma das voluntárias do Movimento Web para Todos.


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