Matéria atualizada no dia 23 de julho de 2024.
Essa é a principal pergunta que deve ser feita e respondida antes de iniciar qualquer processo que envolva tornar um site acessível. A resposta vai mostrar a você o caminho que escolherá seguir, o impacto que quer gerar dentro e fora da organização, os riscos e oportunidades, a verba que terá que destinar ao projeto, o nível de esforço necessário, entre outros aspectos.
Para ajudar nessa reflexão, listamos algumas das respostas mais comuns que chegam até nós para esse questionamento.” Incluímos dicas e orientações para ajudar você a tomar a melhor decisão e não se arrepender depois.
Quero tornar meu site acessível porque minha empresa foi notificada por um órgão regulatório
Existem organizações que querem tornar seu site acessível para resolver algum processo judicial em andamento, já que a legislação brasileira garante às pessoas com deficiência o direito à acessibilidade digital.
Nesses casos, é comum encontrarmos dois perfis de empresas: aquelas que querem apenas “se livrar” logo do problema e as que aproveitam a situação para mudarem seu comportamento dentro e fora da organização.
No primeiro caso, geralmente são contratados serviços pontuais para adequar o site conforme as diretrizes internacionais de acessibilidade, mas não percebemos nenhum engajamento da organização para incluir de fato pessoas com deficiência na web. E, assim, o site deixa de ser acessível logo na primeira atualização de conteúdo porque quem está ali não sabe o que deve ser feito.
Empresas que querem apenas “se livrar logo do problema” também costumam recorrer a soluções automatizadas conhecidas tecnicamente como “overlays”, que prometem eliminar barreiras diversas para deficiências variadas de uma só vez, sem qualquer intervenção técnica, somente com a instalação de um “toolkit” de acessibilidade no site. E, dessa forma, acreditam que o “problema” está solucionado – o que é um grande erro.
Não existem “ferramentas milagrosas”, ou seja, não há tecnologia capaz de eliminar sozinha todas as barreiras de acessibilidade automaticamente. São necessários vários ajustes manuais e validações de pessoas com os mais variados tipos de deficiência para tornar um site acessível de fato.
Quem recorre a esse tipo de solução, além de não estar resolvendo, na prática, o problema de acesso para esse público, pode piorar a usabilidade geral para milhares de outras pessoas (como as idosas), além de aumentar os riscos de ataques externos e não resolver sua pendência com a justiça.
No caso das empresas que aproveitam a situação jurídica para mudar seu comportamento em relação às pessoas com deficiência, percebemos o início de um processo bem interessante de criação de cultura de acessibilidade. Elas geralmente contratam um serviço especializado para a adequação do site e investem em treinamento de suas equipes para que os mesmos erros não sejam novamente cometidos. Dessa forma, o conhecimento vai sendo disseminado dentro da organização e ela começa a querer incluir, de fato, pessoas com deficiência no ambiente digital.
Quero tornar meu site acessível porque está “na moda” e vai ser bom para minha marca
Temos acompanhado um crescimento constante do debate em torno da importância da valorização da diversidade para a sociedade como um todo. E não dá para sustentar programas de diversidade sem que o conteúdo dos canais digitais estejam acessíveis a todas as pessoas – seria muita incoerência, não é verdade?
Mas se uma organização decide apenas criar um bom discurso em torno da diversidade para mostrar ao mercado que é moderna e “descolada”, logo logo ela acaba sendo desmascarada e o estrago em sua imagem será inevitável.
O mesmo acontece quando se decide tratar acessibilidade digital dessa forma superficial com o intuito de “parecer acessível”. E uma das formas muito utilizadas nesses casos é incorporar recursos como barras de acessibilidade (que oferecem aumento de fontes, zoom de tela, contraste de cores, textos em áudios, entre outros recursos) para passar a impressão de que houve preocupação com a usabilidade de quem possui deficiência.
Por falta de informação e conhecimento técnico, muitas empresas acreditam que, dessa forma, possam até estar contribuindo positivamente também. Mas, na verdade, estão pagando (muitas vezes caro!) por recursos que são nativos do próprio navegador, são gratuitos e devem ser escolhidos de acordo com a preferência de quem precisa deles.
Como foi dito anteriormente, acessibilidade digital demanda adoção de práticas internacionais, cuidado e respeito às pessoas, assim como num bom programa de valorização e apoio à diversidade.
Outra situação comum de quem deseja “parecer acessível” é a contratação de um serviço pontual de adequação de site ou aplicativo sem se preocupar em entender por que aquilo está sendo feito e quais critérios foram utilizados. Assim que o site é refeito e a empresa retoma seu gerenciamento, e muito provavelmente na primeira atualização de conteúdo ele já deixará de ser acessível.
Para evitar que isso aconteça, é essencial que os times responsáveis pelos canais digitais da organização tenham conhecimento técnico para manterem a acessibilidade que foi entregue, seja nos códigos, no design ou no conteúdo.
Ter um site verdadeiramente acessível é sim muito bom também para a imagem de uma organização, pois vai mostrar ao mercado e a quem quiser se candidatar a vagas de emprego que ali se leva a sério programas de inclusão. A empresa vai se destacar num cenário em que ainda menos de 3% dos sites ativos do Brasil estão acessíveis à navegação de pessoas com deficiência. Mas se não forem considerados corretamente os critérios de acessibilidade digital conforme descrito no WCAG 2.2, a imagem corporativa poderá ser prejudicada.
Quero tornar meu site acessível porque estou contratando pessoas com deficiência
É realmente fundamental que o site esteja acessível para atrair mais pessoas que queiram se candidatar à vaga e elas consigam conhecer melhor a empresa, decidirem se querem ou não participar do processo seletivo e terem sucesso no preenchimento do cadastro.
Aliás, vale uma nota especial sobre esse último ponto, pois é preciso pensar na acessibilidade em todas as etapas. Infelizmente, é comum encontrarmos sites com algumas páginas acessíveis e outras não, especialmente aquelas que levam a serviços praticados por empresas parceiras, como meios de pagamento e recrutamento de talentos.
É importante saber que é responsabilidade da organização garantir a acessibilidade em “toda a sua casa digital”, ou seja, em todo seu site ou aplicativo independentemente se a operação é feita por terceiros.
Outro aspecto muito importante a ser considerado é a adequação dos canais digitais utilizados internamente. Caso contrário, profissionais com deficiência que acabaram de ingressar na empresa poderão encontrar dificuldades ao executar suas funções porque a intranet, sistemas ou ferramentas colaborativas, por exemplo, não estarão acessíveis.
Se a empresa está realmente interessada em ter um time diverso e não só cumprir a cota legal de pessoas com deficiência em seu quadro, esse poderá ser também um bom motivo para se iniciar um processo interno de aculturamento a respeito da acessibilidade digital.
Quando o time responsável pelas novas contratações for em busca de serviços sérios para tornar seus canais digitais acessíveis, há uma grande probabilidade de se rever e ajustar vários outros processos dentro da organização que tenham relação com esse tema. E, assim, a acessibilidade passa a fazer parte da cultura da organização em todos os aspectos.
Quero tornar meu site acessível porque levo a sério o processo de diversidade e inclusão em minha empresa
Essa é a melhor decisão que uma empresa pode tomar no sentido de se criar a verdadeira cultura de acessibilidade digital e não ser enganada por soluções superficiais, mas que prometem tornar um site acessível em sua integralidade, de forma instantânea e automática.
E quando essa cultura está bem estabelecida internamente, a organização atuará de acordo com a legislação brasileira, terá mais sucesso nos programas de atração e retenção de talentos, ampliará mercado e perceberá benefícios diretos à sua imagem corporativa.
Além disso, reforçará suas iniciativas em ESG, que é um conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança que pode ser usado para guiar investimentos e escolhas de consumo focadas em sustentabilidade. ESG são as iniciais das palavras em inglês de Environmental, Social and Governance, que em português significam Ambiental, Social e Governança.
Neste contexto, a acessibilidade digital entra como um importante conector do pilar S (Social), já que é impossível pensar num mundo mais inclusivo, justo e democrático sem que todas as pessoas possam exercer sua cidadania na sociedade digital.
Quem quer ter canais digitais acessíveis porque leva a sério o processo de diversidade e inclusão deve iniciar o processo da seguinte forma:
- Fazendo uma revisão de todos os canais digitais da organização para planejar a adequação de todos eles. Exemplos de canais digitais: site, intranet, plataformas ou ferramentas colaborativas, sistemas, TV corporativa, totens eletrônicos, aplicativos, entre outros.
- Caso haja equipe interna dedicada aos canais digitais, investir em treinamento sobre as diretrizes de acessibilidade nas áreas: programação, design, UX ou experiência de usuário e conteúdo.
- Criação de guia de acessibilidade digital personalizado para a realidade da empresa para que sirva de referência a profissionais atuais e que venham compor o time futuramente.
- Se não tiver equipe interna e for contratar serviço externo de acessibilidade digital, saber antecipadamente o que deve ser contratado para a escolha correta de quem for prestar o serviço. Após a contratação, acompanhar a evolução do projeto e ir checando ao longo do caminho se o que está sendo entregue está contemplando ou não as diretrizes de acessibilidade conforme o WCAG 2.2. Confira nessa matéria o passo a passo de como contratar e checar serviços de acessibilidade digital.
- E por último, mas não menos importante, é sempre incluir pessoas com deficiência em seus projetos, especialmente as que mais enfrentam mais barreiras no universo online, como quem tem cegueira, baixa visão, tetraplegia, surdez e pessoas que se encaixam em quadros de neurodiversidade, entre outros perfis.