Os desafios e oportunidades do setor de educação com as aulas remotas na pandemia


Arte com fundo vermelho e texto em branco e preto. No centro está escrito: 28 de abril, dia da educação. Nem 1 pra trás. Há ícones de sinal de positivo com a mão e de balão de diálogo.
Acessibilidade digital ainda está longe de ser uma realidade no setor de educação no Brasil.

Hoje, 28 de abril, comemora-se o Dia da Educação. É uma data que exige grandes reflexões e debates interdisciplinares para que toda sociedade possa contribuir para melhorar a qualidade da educação no mais amplo sentido.

Enquanto a pandemia do coronavírus obrigou que as aulas passassem a ser remotas de uma hora para outra, havia um problema sério de infraestrutura que impedia milhares de estudantes a terem acesso ao conteúdo online. Segundo a Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros (TIC Domicílios) de 2018, cerca de 30% dos domicílios brasileiros não tinham computador nem acesso à internet.

E quem conseguia acessar a rede de suas casas, 4 em cada 10 estudantes não tinham condições de acesso adequados para o contexto da educação remota e 38% compartilhavam com outras pessoas os aparelhos celulares em que estudavam, segundo dados da Plataforma JET, da Fundação Roberto Marinho

Do lado do corpo docente a situação também não era muito melhor. Antes da paralisação das aulas presenciais, 88% dos professores e professoras nunca tinham dado aula a distância. Além disso, 83% declararam que não se sentiam preparados para o desafio. Com isso, o nível de ansiedade desses profissionais estava altíssimo, segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Península com cerca de quatro mil docentes entre julho e agosto do ano passado.

Outro fator importante a ser considerado tornando esse cenário ainda mais desafiador é o fato de que as plataformas de ensino remoto ainda apresentam grandes barreiras de acessibilidade e de não haver integração das tecnologias assistivas aos conteúdos didáticos. Com isso, milhões de estudantes com deficiência no país não puderam acompanhar as aulas online mesmo que tivessem acesso aos recursos tecnológicos necessários em sua casa.

Por isso, o Movimento Web para Todos junta-se a cerca de 100 organizações ligadas à educação no Brasil e apoia a campanha #Nem1PraTrás, desenvolvida pela Fundação Roberto Marinho por meio do canal Futura, que são nossos apoiadores. A campanha foi inspirada nos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da ONU – Organização das Nações Unidas.

“Nossa contribuição neste Dia da Educação é chamar a atenção da sociedade para dois fatores cruciais que precisam caminhar juntos para que haja acesso à informação, que é a infraestrutura para garantir a conectividade e a acessibilidade na web”, destaca Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos.

Ela explica que a pandemia evidenciou ainda mais a necessidade de se investir amplamente em conhecimento a respeito das diretrizes de acessibilidade digital. “Cada vez mais tudo está conectado à internet, desde as coisas mais simples às mais complexas. Todas as pessoas são ao mesmo tempo consumidoras e produtoras de conteúdo na web, o que mostra a necessidade em disponibilizar sempre esse conhecimento para todo mundo, independentemente de suas habilidades ou deficiências. Isso, inclusive, é um direito garantido por lei”, pontua Simone.

O ensino remoto também trouxe oportunidades 

A pesquisa do Instituto Península mostrou também que o principal legado da pandemia para a profissão docente é a importância da tecnologia para uso pedagógico, que passa a ser vista como principal aliada da aprendizagem e da valorização de professores e professoras.

Muitas escolas, especialmente as particulares, viram nessa crise uma oportunidade para alavancarem o ensino a distância e inserirem recursos digitais em sua metodologia de ensino. Essa prática também tem mostrado possibilidades de expandir o acesso a alunos e alunas que por diversos motivos não poderiam frequentar as aulas presenciais, seja por questões de mobilidade, médica, entre outras. 

As ferramentas virtuais, que até então eram usadas apenas para reuniões online, viram seus acessos crescerem exponencialmente para outros usos, como o do ensino remoto. As principais têm investido em melhorias desde o início da pandemia e têm passado a incorporar cada vez mais recursos de acessibilidade. Ainda estão longe do ideal, mas viram ali uma oportunidade de novos negócios.

Essa “digitalização das aulas” é algo que veio para ficar e tende a evoluir no sentido de incluir cada vez mais o corpo docente e discente no universo digital como forma de ampliar o aprendizado. E isso também vai gerar oportunidades para quem produz materiais didáticos, por exemplo, pois terão que repensar formatos mais acessíveis em todos os sentidos e, com isso, chegarão a mais consumidores.

Dicas de como adotar as regras de acessibilidade digital nas aulas online

Uma das coisas que o Web para Todos tem falado bastante desde seu lançamento é que o primeiro e mais importante passo a ser dado na jornada pela acessibilidade digital é a conscientização de que há um problema sério de exclusão na web e que está nas mãos de cada pessoa combatê-lo.

Segundo o Censo de 2010, há cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência no Brasil. Muitas delas dependem de legendas em tempo real, de descrição das imagens nos materiais didáticos, de gráficos legendados e não apenas com cores, entre vários outros quesitos mínimos para poderem aprender o conteúdo. Estamos falando de alunos e alunas neurodiversas, com cegueira, baixa visão, daltonismo, surdez, dislexia entre outras deficiências.

Como a pauta de hoje é educação, reunimos várias dicas para docentes tornarem suas aulas e materiais didáticos mais acessíveis considerando toda diversidade estudantil.

Como preparar uma apresentação em PPT acessível

  • Se você usa o pacote Office da Microsoft, ative o recurso “verificador de acessibilidade” na barra de ferramentas na parte superior. Assim, o programa mostrará a você de forma automática sempre que for necessário ajustar algum tópico, como inserir descrição em uma imagem, ajustar contraste de cor, tamanho de fonte, ordem de leitura etc.
  • Use as fontes com tamanho mínimo de 25 pontos e prefira as sem serifa, como Arial, Tahoma e Verdana. 
  • Cuide bem do contraste entre o fundo de tela e a letra para que pessoas com baixa visão ou daltonismo não sejam prejudicadas. Por exemplo, não use fundo preto e texto em vermelho ou fundo verde e texto azul, pois podem ser invisíveis para quem não enxerga uma dessas cores.  
  • O Power Point permite que você ative a exibição de legenda automática em português no modo apresentação. Ative esse recurso quando souber que há estudantes com dificuldade de ouvir seu áudio por qualquer que seja o motivo. O Google Slides também deverá disponibilizar em breve esse recurso.

Como criar materiais didáticos acessíveis

  • Sempre alinhe os textos à esquerda.
  • Lembre-se de usar aqui também as fontes sem serifas e com tamanho mínimo entre 14 e 16 pontos.
  • Evite escrever em itálico, pois essa formatação pode confundir a compreensão de algumas pessoas.
  • Siga as mesmas regras de contraste citadas anteriormente.
  • Quando usar gráficos, faça legendas diretas para facilitar a compreensão independentemente das cores. Lembre-se que pode haver pessoas que não conseguem visualizar as cores da mesma forma que você.
  • Se for usar tabelas, inclua símbolos para que a informação possa ser interpretada independentemente das cores.
  • Evite frases extensas. O ideal é ficar entre 15 e 20 palavras.
  • Descreva todas as imagens. 
  • Se for utilizar vídeos, cuide para que tenham legenda, além de Libras e audiodescrição se houver estudantes que precisem desses recursos.
  • Se você utiliza o Word, da Microsoft, pode acionar também o “validador de acessibilidade” neste programa enquanto prepara seu material.

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