Desafios de estudantes com surdez nos ambientes virtuais de aprendizagem


Foto de um homem negro com um aparelho auditivo, ele sorri olhando para o celular enquanto faz um sinal em Libras

A aprendizagem de pessoas surdas que não foram alfabetizadas em língua portuguesa e têm como primeira língua a Libras – Língua Brasileira de Sinais – é um grande desafio. Isso acaba ficando ainda mais evidente quando pensamos em aulas online. A pedagoga, mestre e doutora em educação Adriana Botto Vianna conta que, mesmo nos cursos de graduação presenciais, existem disciplinas a distância que utilizam ambientes virtuais de aprendizagem.

Ela é coordenadora do núcleo de acessibilidade do Grupo Cruzeiro do Sul e trabalhou o tema em seu artigo: “O estudante surdo e os desafios na interação com ambientes virtuais de aprendizagem”. O documento foi uma forma de avançar e entender mais sobre o tema para atender estudantes com deficiência na instituição. “Essa questão apareceu, na minha vida, no ano de 2013. Sou professora universitária, atuo no curso de Pedagogia e com o crescimento do acesso ao ensino superior uma parcela de pessoas, que não tinham acesso a esse nível de ensino, começam a chegar às universidades e, dentre elas, as pessoas com deficiência”, explica.

A seguir, resumimos alguns dos pontos principais citados por ela no artigo. Confira! 

Ambientes virtuais de aprendizagem podem ser acessíveis? 

Sim. Uma ferramenta acessível é aquela que permite que qualquer pessoa navegue e interaja dentro de um ambiente virtual, independente das preferências e formas de navegação.

Como tornar esse ambiente acessível? 

Ele precisa seguir as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG), do W3C. Esse guia traz aspectos fundamentais para garantir que qualquer pessoa, com deficiência ou não, possa navegar pelas páginas da web, como sites, blogs e ambientes virtuais de aprendizagem, garantindo que a informação seja compreendida por qualquer um.

Confira alguns princípios norteadores da acessibilidade: 

  • Fornecer alternativas em texto para todo o conteúdo não textual, como caracteres ampliados, fala e símbolos.
  • Usar uma linguagem mais simples.
  • Ter áudio e vídeos pré-gravados com audiodescrição, legendas e Libras.
  • Possibilitar que usuários e usuárias tenham controle sobre a cor, o tamanho das letras e o player de vídeo ou áudio.
  • Todos os comandos devem ser acessados por meio do teclado.
  • Não definir limite de tempo para que o usuário ou usuária possa ler, pausar e compreender a informação.
  • Facilitar o acesso à informação destacando os títulos.
  • Fornecer diferentes formas de acesso.
  • A informação deve estar descrita de forma simples, clara e que todas as ações sejam previsíveis, ou seja, não deve haver mudanças durante a navegação.
  • O conteúdo deve ser suficientemente robusto, ou seja, consistente e confiável para quem irá utilizá-lo.

E estudantes com surdez neste contexto?

Para o desenvolvimento da pesquisa foram aplicadas entrevistas semiestruturadas em uma instituição de ensino superior da cidade de São Paulo. A pesquisa contou com a colaboração de seis estudantes com surdez de diferentes cursos de graduação da instituição; seis intérpretes de Libras e a coordenação do núcleo de acessibilidade da instituição que fez a pesquisa. Os dados coletados revelaram os seguintes desafios:

  • Vídeos sem legendas ou com legendas rápidas.
  • Vídeos sem janelas de Libras.
  • Textos longos e complexos.
  • Material visual voltado apenas para alunos e alunas ouvintes.
  • Ausência de intérprete.
  • Sem recursos para tirar dúvidas.
  • Sem autonomia para estudantes com surdez no processo de aprendizagem.

Para a professora, pensar um ambiente virtual de aprendizagem inclusivo passa por uma mudança de cultura e esse movimento não é simples e nem rápido, mas é possível. “A partir do momento que se compreende que há, de fato, uma cultura surda, que o bilinguismo é o melhor caminho para o processo educacional desses sujeitos, considerando a Libras sua primeira língua, vemos o surgimento de um novo patamar de conquistas. Conquistas essas ainda muito pequenas diante do que se pode avançar”, complementa ela.

Quer saber mais sobre o trabalho de Adriana? Acesse o artigo “O estudante surdo e os desafios na interação com ambientes virtuais de aprendizagem” na íntegra.

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