Deficiência visual e ensino a distância


Ilustração contendo quatro desenhos de quatro pessoas sentadas em mesas de estudo, equipadas com notebooks. Ao centro, a imagem de um notebook aberto com a tela de uma professora apresentando uma aula online conecta os desenhos.

Por Henrique Berg, Dr.*

O ensino a distância é uma atividade que vem se popularizando muito nos últimos tempos e, mais recentemente, bastante impulsionado pela necessidade de isolamento social devido à pandemia da Covid-19.

O cenário contribuiu para evidenciar também que esse formato de ensino apresenta vantagens econômicas significativas: a redução de investimentos em infraestruturas físicas, gastos e tempo com deslocamentos de profissionais e estudantes, além de possibilitar a aplicação de aulas remotas para mais pessoas e de qualquer lugar do planeta, eliminando-se aí uma barreira muito presente no formato tradicional – a física.

Por outro lado, a chegada definitiva do ensino a distância na vida de milhões de brasileiros e brasileiras passou a exigir mais de todo mundo: de infraestrutura tecnológica dentro da própria casa ao desafio de aprender uma nova forma de estudar, por meio dos conteúdos virtuais.

Nesse sentido, uma metodologia que vem tendo sinergia com os meios virtuais são as metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Elas usam diferentes ferramentas, buscam ativar diferentes funções cerebrais e visam criar uma meta cognição do conhecimento, arraigando na mente.

Hoje em dia, temos experiências virtuais desde um chat com amigos e amigas, uma reunião profissional, uma atividade em grupo ou em salas de aula. Então, “sentimos na carne” as limitações desses meios. A necessidade de concentração, a inabilidade com as diversas plataformas e ferramentas, a dificuldade em se conversar privadamente com colegas e as limitações tecnológicas que são as mais comuns. Agora, imagine uma pessoa com deficiência! 

Mesmo com as iniciativas de equipes de pesquisa, de gestão e de profissionais em aumentar a acessibilidade do mundo contemporâneo, pessoas com deficiência encontram inúmeras barreiras físicas ou virtuais. Diante desse problema, uma revisão em bancos de artigos científicos (scopus.com, webofknowledge.com e scielo.org) buscou saber o que se tem feito pelo mundo para permitir a acessibilidade de pessoas com deficiência visual a ambientes virtuais de aprendizagem.

Questões da deficiência

As primeiras questões são referentes à deficiência propriamente dita. O tempo despendido e a concentração de uma pessoa com deficiência visual são até três vezes maiores que uma pessoa sem deficiência [1]. Como segundo ponto foi detectada a falta de preparação dos professores e professoras, forçados a um novo meio sem o devido preparo.

Entretanto, além das limitações encontradas, identificou-se as ferramentas que são usadas para apoiar estudantes com deficiência. O “mediador” [1] [2], um profissional que domina a tecnologia e interage com professores e estudantes, atendendo as diferentes limitações de acessibilidade, sendo responsável por “adicionar descrições significativas considerando a forma dos usuários navegarem, de maneira a tornar um conteúdo compreensível da melhor forma” [2]. O mediador ou mediadora vem da mesma ideia da usada em salas presenciais quando há intérpretes de Libras.

Como processos das metodologias ativas, é importante juntar as características do estudante na participação no processo de avaliação, pois dessa forma poderão incorporar o processo e entenderem seus significados [3] [4]. Também, desenvolver o ensino misto ou combinado (“blended/hybrid”) permite que estudantes  experienciem diferentes inputs, formas diferentes de se relacionar com o conhecimento e o conteúdo educacional e, através disso, criar uma meta cognição, permitindo a construção de sua realidade e desenvolvam a motricidade fina e auditiva [1].

Métodos e ferramentas

Nesse processo de revisão, as seguintes ferramentas foram identificadas para dar apoio às atividades virtuais das metodologias ativas:

Áudio Realidade Virtual – Uso de áudio em 3D, gravação de efeitos sonoros que simulam sons produzidos por alto-falantes ou fones de ouvido que transmitem a sensação de estar em um ambiente. Permite que a pessoa com deficiência construa um mapa mental das edificações ou móveis de uma sala.

BlindAid – Sistema para quem acabou de perder a visão que permite o desenvolvimento de mapas cognitivos compreensíveis.

Java Access Bridge (JAB) – O API oferece uma interface que atribui nomes acessíveis e descrições para elementos gráficos em Java. Mas é distante da realidade de docentes.

Leitor de tela – Principal ferramenta da pessoa com deficiência visual, que é um software que traduz conteúdo textual da tela do computador em voz. Ele lê a programação html da página sequencialmente.

MATLAB – Permite fazer aplicações lineares de fórmulas da matemática para pessoas com deficiência visual.

MoodleAcc+ – Oferece diversos serviços a quem desenvolve  “e-learning”: ferramenta de assistência a alunos e alunas, ferramenta de assistência a autores e autoras, ferramenta de geração de curso acessível e ferramenta de avaliação da plataforma de acessibilidade. Desenvolvido para docentes, porém para quem tem habilidade prévia com o Moodle.

OCR – Reconhecedor de Caractere Óptico (Optical Character Recognition) lê textos impressos e converte em textos digitais que podem ser compreendidos pelo leitor de telas.

Whiteboard – Interação síncrona entre estudantes, docentes e outras pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem: eficiência, flexibilidade, versatilidade, oportunidade para acessar conteúdo multimídia, apoiar múltiplas necessidades em uma lição e capacidade de visualizar a classe enquanto ensina.

Progressos

Assim, percebe-se que existem progressos no desenvolvimento de metodologias ativas para pessoas com deficiência visual e um número crescente de ferramentas. Porém, ainda existe a necessidade de se capacitar profissionais, pois o “mediador ou mediadora” é um novo profissional da educação e nem sempre está disponível. É importante também ter se em mente a importância da criação de uma variedade de objetos de aprendizagem, que sejam acessíveis às pessoas com deficiência e dar oportunidades para que estudantes  aprendam diferentes modos.

REFERÊNCIAS

[1] BASANTES, Andrea V.; GUERRA, Frank E.; Naranjo, Miguel E.; Ibadango, Daniela K.. – Los Lectores de Pantalla: Herramientas Tecnológicas para la Inclusión Educativa de Personas no Videntes – Información tecnológica; 29(5); 81-90; 2018-10

[2] FREIRE, A.P., LINHALIS, F., BIANCHINI, S.L., FORTES, R.P.M., PIMENTEL, M.d.G.C. Revealing the whiteboard to blind students: An inclusive approach to provide mediation in synchronous e-learning activities (2010) Computers and Education, 54 (4), pp. 866-876.

[3] LUQUE, L., De OLIVEIRA BRANDÃO, L., Kira, E., Brandão, A.A.F., Inclusion in computing and engineering education: Perceptions and learning in diagram-based e-learning classes with blind and sighted learners (2017) Proceedings – Frontiers in Education Conference, FIE, 2017-October, pp. 1-8.

[4] OUERTANI, HC, ALHUDHUD, G, CHORFI, H., Optimizing E-Learning Cognitive Ergonomics Based on Structural Analysis of Dynamic Responses, International Journal of emerging technologies in learning, 2019.


*Henrique Berg é um dos especialistas voluntários do Movimento Web para Todos. Publicitário pela Unisinos no campo de pesquisa e planejamento, com mais de 35 anos atendendo varejo, indústria e governos. Doutor em Mídia do Conhecimento pela UFSC, com pesquisa de acessibilidade digital de pessoas com deficiência. Professor universitário das disciplinas de Marketing e Pesquisa Científica. Currículo completo na plataforma Lattes.

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