Por que acessibilidade digital é urgente em tempos de coronavírus?


Foto de duas mãos em um teclado de um laptop. A tela mostra uma pessoa com máscara e, ao fundo, há uma ilustração de um pulmão com símbolos do vírus coronavírus.
Foto: Pixabay.

Em tempos de isolamento social por conta do coronavírus, a maioria da população mundial está voltada para a vida online: empresas criando conteúdos para promover seus produtos e serviços, pessoas trabalhando em casa, professores e alunos adotando o ensino a distância entre outras atividades. Todos estão se reinventando e buscando formas de compartilhar conteúdos relevantes na web: organizações, causas, sociedade civil, governo. O desafio é para todos. 

E é aí que trazemos algumas reflexões. O acesso a serviços e informações está disponível para todas as pessoas? A sua empresa está preparada para proporcionar o trabalho remoto a todos os colaboradores? Produz conteúdos profissionalmente ou somente para sua vida pessoal? Conhecimento é uma ferramenta poderosa para transformar a web em um ambiente mais acessível para todos, inclusive quem possui algum tipo de deficiência.

Mas será que essas pessoas também conseguem acessar esses conteúdos? Infelizmente, a resposta é não. Apesar de toda a evolução da vida digital, é comum ainda  ouvir um depoimento de alguém que “acabou tendo que sair de casa” porque não conseguiu fazer as compras online. 

Isso acontece basicamente por uma razão: a falta de acessibilidade digital. Menos de 1% dos sites brasileiros estão preparados para receber a visitação de pessoas com deficiência, segundo estudo realizado por nós, em parceria com o W3C e a Big Data Corp. Um cenário alarmante, considerando que um quarto da nossa população (45 milhões de pessoas) possui algum tipo de limitação (Censo IBGE/2010). 

Que tal aproveitar o atual momento de reclusão para se aprofundar no tema e descobrir como você pode contribuir para transformar essa realidade de exclusão digital? Preparamos um conteúdo especial que contribuirá para você vir com a gente nessa jornada. Conheça e compartilhe nas suas redes para que mais pessoas sejam impactadas também! 

Por que pensar na acessibilidade digital?

O que não faltam são argumentos. Listamos aqui cinco razões para que a acessibilidade digital seja colocada em prática:

1) É lei!
Em vigor desde janeiro de 2016, a Lei Brasileira de Inclusão (art. 63) diz que todas as páginas web de organizações que tenham representação no país devem ser acessíveis a pessoas com deficiência. Ou seja, sua empresa/organização pode ser multada, caso alguma pessoa com deficiência sinta-se lesada por não conseguir interagir por meio do seu site, caso ele não esteja acessível

2) Amplia o mercado de atuação.
No Brasil, há cerca de 45 milhões de pessoas com deficiência (Censo2010/IBGE) e a maioria delas encontra  dificuldades ou não consegue navegar na web devido às barreiras de acesso em sites e aplicativos. Ao fazer essa adaptação digital, sua empresa poderá interagir também com essa parcela gigante da população.

3) Não é tão complicado tornar sites e apps acessíveis.
As diretrizes do WCAG 2.1 são bem detalhadas e didáticas, e valem para o mundo todo. Para os novos projetos, se a acessibilidade for contemplada no início, não há trabalho extra, além do aprendizado inicial para conhecer as diretrizes. Nos projetos já desenvolvidos, é possível adotar a acessibilidade por etapas, fazendo com que as atualizações já incorporem as melhores práticas.

4) Acessibilidade é bom para o projeto!
Isso porque sites, sistemas e aplicativos acessíveis carregam mais rápido, ganham melhores posições nas buscas orgânicas, são mais intuitivos e fáceis de interagir.

5) Investir em acessibilidade digital faz bem para a sociedade,
A consequência direta é a inclusão – é permitir que todo mundo tenha acesso a serviços básicos de saúde, alimentação, educação, entretenimento e compras na web, independentemente de possuir alguma deficiência. Além disso, faz bem para o profissional que entende do assunto: ele passa a se diferenciar no mercado como especialista em acessibilidade, e ainda traz um propósito social inspirador para as tarefas que realiza.

Coloque a acessibilidade digital na sua rotina 

Sem dúvida alguma, ter acesso à vida online em tempos de isolamento social é essencial para qualquer cidadão se manter ativo – seja para se informar, estudar, se divertir e e aproveitar melhor o seu tempo de quarentena. E essa fase tem se revelado, para todos, como um período de muito aprendizado. 

Pensando nisso, preparamos algumas dicas e links para você adotar uma presença online acessível e inclusiva. Destacamos que esses pontos são importantes não só para quem trabalha com o online – podemos (e devemos) adotá-los também nas nossas redes sociais pessoais! 

1) Seus canais digitais conversam com todos? 
Não vai adiantar o seu site estar acessível, se as suas redes sociais, por exemplo, não estão. E vice-versa. E não estamos falando apenas de código e descrição de imagens. Estamos falando aqui de experiência do usuário. O formulário está acessível para cegos?

A área de Fale Conosco traz opção ao 0800, para que surdos possam entrar em contato? O vídeo institucional da sua empresa está com Libras, legenda e audiodescrição?  É essencial mapear como se dá a interação de pessoas com diferentes deficiências com os seus canais digitais.

2) Produza conteúdos acessíveis 
É fato que temos muito mais informações sendo produzidas, já que existem menos pessoas nas ruas e a web  é onde elas estão interagindo. Que tal aproveitar esse momento para deixar o conteúdo que você produz acessível para muito mais pessoas?  Posts nas redes sociais, artigos, vídeos, podcasts, PDFs e tantos outros formatos podem ser adaptados para chegarem até as pessoas com deficiência visual, auditiva, cognitiva, intelectual e física!

Que tal começar pelas dicas abaixo? 

  • Todo conteúdo digital não textual deve conter descrição da imagem (fotos, ilustrações, tabelas, gráficos, gifs);
  • Na descrição de imagens, seguimos uma fórmula simplificada: formato (arte? foto? gráfico? vídeo?) + sujeito + paisagem + contexto + ação;
  • Evite redundância na descrição. “Foto ilustra” é pleonasmo. Seja simples, direto;
  • Evite, na descrição de imagens, adjetivos que representam juízo de valor (bonito, feio, bom, mau etc.);
  • Os conteúdos em vídeo devem ter audiodescrição. Ela deve contextualizar o conteúdo em vídeo sem atrapalhar a compreensão do áudio original 

Curtiu? Temos mais sugestões de boas práticas de conteúdo acessível no nosso site

E as dúvidas mais comuns que recebemos? Saiba mais na nota: “Conheça 13 dicas imperdíveis sobre acessibilidade digital de conteúdo”. 

3) Aprenda a fazer sites e plataformas acessíveis
Acreditamos que a acessibilidade deve fazer parte da rotina do desenvolvimento para eliminar barreiras e incluir pessoas. Para isso acontecer, é essencial considerar essas quatro frentes: planejamento, conteúdo, design e desenvolvimento. Em cada uma delas, há uma série de recomendações com base nas diretrizes WCAG2.1, que devem ser adotadas para tornar um ambiente digital acessível para todos.

Confira o passo a a passo que criamos para você entender e aprender mais sobre o assunto

4) Insira legenda nos vídeos e amplie audiência
É cada vez mais comum encontrar vídeos legendados na web. Isso acontece principalmente porque as legendas aumentam o alcance das publicações. Quem se beneficia delas? Todo mundo, inclusive os quase 10 milhões de brasileiros com deficiência auditiva (Censo 2010/IBGE). Também estima-se que 85% dos vídeos do Facebook sejam assistidos sem áudio  – outro ótimo exemplo de como a produção de conteúdo acessível beneficia pessoas com e sem deficiência.

No nosso site, explicamos como fazer legendas em vídeos no Facebook. Esta nota do blog da Hotmart também é um conteúdo interessante que mostra diversas formas de inserir legendas nos vídeos é

E para quem pensou em inserir legenda nos Stories, vale conferir este tutorial da produtora de conteúdo Luciana Levy: “Vídeo legendado para stories” no canal dela no YouTube com dicas de ferramentas para você baixar e utilizar

5) Podcast também pode ser acessível! 
O hábito de ouvir podcasts está aumentando. O Brasil já ocupa o segundo lugar do ranking de consumo desse tipo de conteúdo, de acordo com pesquisa do Podcast Stats Soundbites, e está atrás apenas dos Estados Unidos. 

Outro estudo, realizado pela Associação Brasileira de Podcasters (Abpod), afirma: existem 2 mil podcasts ativos no país. Muitas empresas já perceberam que eles podem ser ferramentas importantes para suas marcas e já passaram a incluí-los em  suas estratégias de comunicação. 

Se você é um produtor de podcasts ou quer começar a produzir esse tipo de conteúdo, precisa ter alguns pequenos cuidados para permitir que eles estejam disponíveis para pessoas com deficiência. Apresentamos, no nosso site, diversas dicas que vão facilitar o processo de adaptação. Conheça as dicas que preparamos no nosso site para você fazer podcasts acessíveis

6) Converta seus textos em áudio 
Todo mundo pode se beneficiar de conteúdos em áudio, principalmente as pessoas idosas, disléxicas, semianalfabetas e com algum tipo de deficiência visual. O áudio democratiza o acesso a informações e colabora para a inclusão digital. 

Existem diversas ferramentas que convertem texto em áudio, como a a Audima, parceira do Movimento Web para Todos. Com base em inteligência artificial, ela melhora a experiência de navegação na web para este público, fazendo com que essas pessoas acessem informações que não conseguiriam, caso estivessem apenas no formato de texto. 

7) Torne seu negócio online acessível 
Muitas vezes, por falta de acessibilidade (e até mesmo conhecimento sobre!), as lojas violam não só a Lei Brasileira de Inclusão, como também o Código de Defesa do Consumidor e o Decreto de Comércio Eletrônico. É possível fazer a sua parte e deixar a sua loja virtual acessível também para milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência e, assim, atrair novos consumidores! 

Falta de descrição de imagem, inexistência de avatar de Libras e péssima navegação pelo teclado são algumas das barreiras encontradas por este público ao tentar comprar online. Uma realidade encontrada em 99% dos sites brasileiros, segundo estudo que realizamos em parceria com o W3C e o Idec.

A pressão das vendas, limitação tecnológica e equipe enxuta, aliados à falta de informação, leva muitos lojistas a acreditarem que adaptar seus sites é muito complexo. O ideal, de acordo com especialistas em varejo online, é ir adaptando aos poucos, conforme o aprimoramento da performance da loja, e também procurar envolver sempre consumidores com deficiência na jornada de adaptação.

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