Confira 13 dicas imperdíveis sobre acessibilidade digital de conteúdo


Pessoa sentada com um laptop nas pernas e com as mãos no teclado do equipamento. A tela mostra diversas palavras na ferramenta de busca do navegador.
Pessoa digitando em um laptop. Foto: Pixabay / Creative Commons.

Ao longo da jornada de quase um ano do Movimento Web para Todos, recebemos várias dúvidas sobre acessibilidade digital. Muitas delas acabam sendo relacionadas à acessibilidade de conteúdos na web.

Convidamos Elsa Villon, especialista em acessibilidade de conteúdo digital, para responder as 13 perguntas mais frequentes. Confira o resultado!

1 – Preciso descrever os emojis que coloco nos meus textos #PraCegoVer?

Elsa | Não é necessário! Há plugins e aplicativos disponíveis que reconhecem o uso das famosas “carinhas” e geram o texto compatível aos leitores de tela. Muitas redes sociais, como o Facebook, além de sites, também têm essa preocupação. Os desenvolvedores dessas plataformas têm atuado para a acessibilidade, embutindo essa informação no próprio código-fonte.

2 – Como posso descrever um GIF animado para cegos?

Elsa | A principal pergunta ao se descrever para cegos (imagens, GIFs, tabelas, mapas etc.) é: qual é a informação que esse conteúdo está me passando?

Se você conseguir respondê-la, mais da metade da descrição está pronta.
Em termos práticos: há duas maneiras. Para GIFs com muito conteúdo em texto, vale separar frame a frame.

Exemplo: GIFs promocionais ou informativos sobre inscrições, datas, eventos.

Já os GIFs mais recreativos, famosos memes, vale contextualizar o conteúdo de uma maneira sucinta. Exemplo: Chloe, uma garota de aproximadamente quatro anos, loira, está sentada na cadeirinha e faz uma careta de dúvida antes de sorrir.

3 – Preciso descrever cores nas hashtags #PraCegoVer?

Elsa | Sim! Muito! Considere também que pessoas cegas, com baixa visão e daltônicas também podem ser beneficiadas com essa informação. 

Uma simples informação pode eliminar, ao mesmo tempo, duas barreiras: comunicacional e atitudinal. As pessoas cegas – de nascença ou não – têm suas próprias referências cromáticas. Só porque elas não enxergam as cores do mesmo jeito que as pessoas videntes, não quer dizer que não as sintam, ou que não tenham referências anteriores à perda da visão. 

Vale usar a mesma lógica para pessoas daltônicas: elas enxergam as cores, mas de maneira diferente. Então, por que privá-las dessa informação?

4 – Uso muito o WhatsApp corporativo e gosto de compartilhar vídeos, fotos e GIFs. Como tornar tudo isso acessível nesse canal? Se eu for descrever cada uma dessas peças em detalhes, o post ficará gigante e temo perder a atenção dos meus clientes videntes.

Elsa | 
O WhatsApp é um aplicativo dinâmico para a troca rápida de informações. Se você busca repassar informações que não estejam acessíveis por ela, vai encontrar barreiras. Isso porque não existe acessibilidade 100%. Nem na internet, nem no mundo.

No caso de fotos e GIFs, vale pensar na descrição mais curta para incluir todo mundo.

Já no caso de vídeos, é mais complexo, pois exige audiodescrição. No futuro, a expectativa é que os vídeos já serão produzidos com esse recurso. Até lá, vale recorrer às descrições mais simples que sintetizem o conteúdo do vídeo.

5 – Por que vocês dizem que devemos escrever sempre em ordem direta e usar frases curtas?

Elsa | Porque essa prática facilita a compreensão. Na faculdade de jornalismo, a ordem direta é regra: sujeito + verbo + complemento. Se facilita a compreensão de pessoas sem deficiência, também facilita a vida de pessoas com deficiência. Fora os leitores de tela para cegos e avatares digitais de Libras.

As deficiências têm diversas nuances e nem sempre são evidentes. Há também as pessoas com deficiências intelectuais (Síndrome de Down, Autismo, Síndrome de Asperger) e cognitivas (dislexia, discalculia, transtorno de déficit de atenção).

Um exemplo é o ator Tom Cruise. Ele é disléxico e não consegue memorizar seus roteiros pela leitura. Todos os conteúdos são gravados em áudio para que ele possa ouví-los e memorizá-los. Nem todo mundo tem uma equipe disposta a isso, então vale a empatia e a solidariedade aos disléxicos, autistas e tantas outras pessoas que não são o Tom Cruise.

6 – Os textos das seções de um site também devem ser curtos para serem mais acessíveis? Qual o tamanho ideal?

Elsa | A premissa para a acessibilidade de um texto é sempre a mesma, mas não há um tamanho ideal. Considere a lógica da internet: trazer cada vez mais informação, de maneira cada vez mais simples. E simples nem sempre é um longo texto.

Vale pensar na comunicação digital como um todo, analisar sites similares, buscar inspirações e até mesmo falhar. Afinal, as grandes melhorias e os maiores avanços não surgem assim?

7 – Por que não devo usar metáforas no meu conteúdo?

Elsa | Novamente precisamos relembrar de pessoas com deficiência intelectual e cognitiva. Em alguns graus de autismo, por exemplo, a pessoa entende tudo o que lhe é transmitido de maneira literal. As figuras de linguagem, entre elas, a metáfora, não proporcionam isso.

Se você disser para alguém com determinado grau de autismo que “passou o dia preso à cadeira trabalhando”, ela vai acreditar que ficou sem levantar o dia todo.

Outro exemplo é: “Estou morrendo de fome”. Pode ser que ela chegue com muita comida para evitar que você venha à óbito.

São diretrizes e boas práticas para que a informação chegue para cada vez mais gente. Será que a metáfora vale a exclusão? Fica a questão.

8 – O conteúdo do meu canal têm o humor como base. Uso muitas metáforas e piadas. Como posso manter essa essência e me tornar acessível a todos? Se eu modificar meu texto para algo chato perderei meu público. O que devo fazer?

Elsa | Não existe nada que seja acessível a todos. E, mesmo sendo lei, a acessibilidade ainda é uma opção. Talvez pense na acessibilidade como uma oportunidade, e não um desafio.

Acessibilizar um conteúdo não é torná-lo maçante ou antiquado, mas sim, fazer com que mais pessoas riam das suas piadas. Muitas dúvidas? Procure humoristas com deficiência, porque sim, PCDs também fazer humor – e de qualidade. =D

9 – Por que é preciso incluir legenda e Libras nos vídeos? A legenda já não é suficiente para que o surdo entenda?

Elsa | Porque muitos surdos não são oralizados e alfabetizados, ou seja, são surdos sinalizados, que só falam Libras ou a Língua de Sinais de seu país. Além disso, o português, no caso do Brasil, é o nosso idioma dominante, não dessa população. E, mesmo quando oralizadas, acompanhar a legenda pode ser desconfortável e tirar a atenção do conteúdo.

Pense em como é assistir um vídeo em inglês com legenda em inglês se você não é fluente em inglês. Não seria melhor ter uma legenda no seu idioma? Libras é a legenda no idioma dos surdos no Brasil.

10 – Há alguma forma de saber se estou escrevendo corretamente do ponto de vista da acessibilidade digital? Há algum app ou recurso tecnológico que posso utilizar no momento da produção de conteúdo?

Elsa | Não, essa tarefa ainda é humana. Ainda bem, afinal, pessoas com deficiência também são humanas.

11 – Tenho usado podcasts na minha comunicação. Pensando em acessibilidade, devo tomar algum cuidado especial com o roteiro? Como fazer um podcast acessível também para surdos?
Elsa | O roteiro deve seguir as premissas do texto acessível e, para os surdos, vale a transcrição e intérprete de Libras.

12 – Minha comunicação é basicamente em vídeo e sempre estou entrevistando alguém. Posso treinar e controlar melhor a minha fala, mas não tenho como fazer o mesmo com o entrevistado. Como contornar essa situação para garantir a acessibilidade dos meus vídeos?

Elsa | Vale contextualizar a importância da acessibilidade para o seu entrevistado. A empatia pelo próximo é contagiante. Pense o seguinte: se ele tiver acesso ao roteiro das pergunta antes, pode se preparar melhor e te ajudar a produzir vídeos cada vez mais acessíveis.

13 – Preciso descrever imagem também no stories? Cego também acessa esse recurso do Facebook e Instagram?

Elsa | Cego usa tudo isso e muito mais. Mas aqui, novamente, temos a plataforma, que é limitada, e o uso que fazemos dela. Os stories – com exceção de transmissões ao vivo – transmitem informações por 10 segundos. Vídeos de 10 segundos podem ser pensados ou não para funcionar apenas com o recurso do áudio. Já com imagens e textos, isso não é possível.

Pense sempre no uso que fazemos dos recursos disponíveis e para quem fazemos. Tem muitos amigos cegos? Então produza conteúdos pensando neles também, consulte-os, pergunte qual é o uso deles para essa ferramenta e de que maneira você pode otimizar as suas redes sociais. Eles vão curtir, compartilhar e comentar. 😉

Matéria publicada no dia 14/9/2018 e atualizada em 24/10/2022.

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