Matéria publicada no dia 05 de abril de 2022. Atualizada no dia 06 de abril de 2022.
Pessoas com deficiência encontram diversas barreiras ao navegar pela web e, para que um projeto digital seja verdadeiramente acessível e inclusivo, é ideal entender mais sobre a navegação desse público e os desafios enfrentados. Pra te ajudar nessa jornada, listamos nesta reportagem as 5 principais e como é possível eliminá-las.
Imagens sem descrição
Imagens com descrição são essenciais para pessoas com deficiência visual severa que usam leitores de tela, pessoas com baixa visão, neurodiversas ou idosas e ainda trazem relevância para a postagem, melhorando o SEO (Search Engine Optimization que, em português significa a otimização do conteúdo para os mecanismos de busca) do seu site.
Dicas simples para fazer descrições de imagens
- Use a fórmula simplificada: formato (foto? GIF? mapa? tabela?) + elemento principal + contexto/paisagem + ação
- Descreva também elementos relevantes e cores.
- Use, sempre que possível, verbos no presente (evite gerundismo).
- Elimine os pleonasmos: foto mostra, arte exibe etc.
- Não use adjetivos que façam juízo de valor.
- Descreva apenas o que tiver certeza (sem subjetividade).
Quer saber mais sobre como fazer descrições de imagens? Acesse essa série de dicas da nossa campanha #ImagensQueFalam!
Conteúdos sem janela de Libras e legendas
Essencial para quem tem variados graus e tipos de deficiência auditiva, esses recursos também beneficiam pessoas neurodiversas, idosas e outros públicos.
Libras
- Para pessoas surdas usuárias de Libras.
- Pode ser gravada ou em tempo real.
- Em vídeos, é recomendado ter um intérprete humano ocupando sempre, pelo menos, 25% do lado direito da tela.
- Em sites, a orientação é o uso de avatares digitais de Libras.
Legendas
- Para pessoas surdas que compreendem a língua portuguesa e outros públicos.
- Pode ser automática ou feita em tempo real pelo recurso da estenotipia.
- Precisa ter fundo preto e fontes com cores contrastantes.
Falta de audiodescrição
Essencial para pessoas com deficiência visual severa, a audiodescrição beneficia também pessoas neurodiversas e pessoas idosas. Ela pode ser gravada em estúdio (editada e mixada ao som original); ao vivo e roteirizada, como no cinema ou no teatro; ou simultânea, feita por especialista, ao vivo e sem roteiro.
Dicas para a audiodescrição
Objetividade: direta, sem monotonia e exageros.
Compatibilidade: adequada ao perfil/público da obra.
Diferenciação: áudio diferente do som original, inserções entre os diálogos, respeitando pausas, efeitos, ruídos e trilhas.
Sites que não estão preparados para uma boa navegação por teclado
Basicamente, quando se fala sobre navegação por teclado, você imagina literalmente a utilização de um teclado para navegar pelas páginas. Mas existem outros contextos para entender melhor esse conceito: uma associação muito simples é o uso de controles remotos de televisão ou videogame.
A seleção dos canais, o acesso a menus diferentes em um aparelho que possua internet, a escolha das letras para escrever o nome de um filme na área de busca de um serviço de streaming ou dar um nome para o seu personagem exemplificam isso. Então, similarmente, está acontecendo um acesso por elementos de uma interface com utilização de um foco visível, que indica em que local você está na tela, sem o apoio de um mouse.
Já quem usa um leitor de telas vai fazer um acesso totalmente diferente. Ele será por meio de atalhos: uma combinação de teclas para navegar por títulos de páginas, parágrafos, links e imagens.
Por isso, é preciso levar em consideração que há diferenças em seu uso:
- Pessoas usuárias de teclado (uso opcional)
Quem não usa o mouse, mas pode ver o conteúdo.
- Pessoas usuárias de leitores de telas (uso essencial)
Quem não usa o mouse e não pode ver o conteúdo.
Mas o que temos que levar em consideração na “navegação por teclado”?
- Foco visível.
- Ordem de navegação: deve seguir uma ordem lógica de interação de acordo com seu formato de leitura e elementos interativos.
Formulários sem acessibilidade
Boa parte dos formulários já é acessível, como os do Google. Mas nem todos são. Então, é preciso prestar atenção em algumas questões. Uma das mais fundamentais é a ausência do entendimento da semântica no código na hora de programar o formulário.
Por exemplo, se um formulário possui o campo Nome, mas no código isso não tiver escrito, a pessoa vidente vai conseguir entender; já o leitor de telas, utilizado por uma pessoa com deficiência visual, vai indicar apenas “editar texto”. Então, ela vai chegar naquele campo sem saber o que precisa preencher ali: é o nome? O e-mail? A senha?
O conteúdo também é muito importante: um campo de CPF pode ser facilmente entendido por brasileiros e brasileiras. Mas será que pessoas estrangeiras vão saber que se trata do Cadastro de Pessoa Física?
Práticas fundamentais para formulários acessíveis
- Utilize código semântico na programação.
- Labels (rótulos no código que indicam o que precisa ser preenchido ali, como no exemplo do nome) são obrigatórios, sempre associados aos respectivos campos.
- Ter descrições claras e inteligíveis.
- Sempre que for necessário, traga instruções adicionais (dê um exemplo do que você espera naquela resposta).
- Agrupe as opções em tópicos (“Dados pessoais”, “Sobre seu acesso na web”, “formas de pagamento preferidas” etc.).
- Caixas de seleção com diferentes opções devem estar dentro de um atributo de código chamado “fieldset”. Dessa forma, ele cria uma linha ao redor dessa caixinha, mostrando que tudo o que está ali faz parte da resposta daquela questão/campo do formulário.
- Não negligencie as mensagens de erro. Mostre a quem navega o que está errado e como é possível resolver.
- Não esqueça do foco visível.
Por que ainda existem essas barreiras?
Essa realidade de barreiras ou de falta de acessibilidade digital não é recente. Ela só surge com uma cara nova nesse momento de pandemia, no qual diversas soluções online foram lançadas. Mas o acesso das pessoas com deficiência continua não sendo uma prioridade.
Apesar da WCAG (Web Content Accessibility Guidelines, traduzido para o português como Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo na Web) existir desde 1999, esse documento é um pouco complexo. Atualmente, são 78 critérios diferentes e cada um deles tem um conteúdo muito rico e extenso. As informações acima podem até assustar, mas existem diversos grupos e profissionais, assim como o próprio Movimento Web para Todos, que disponibilizam informação de qualidade de maneira simplificada sobre acessibilidade digital. O especialista Marcelo Sales é um deles. Ele criou o toolkit de acessibilidade, um pacote de ferramentas desenvolvido para facilitar e simplificar o entendimento das diretrizes de acessibilidade da WCAG.
*Este conteúdo faz parte do conhecimento criado para o evento do Movimento Web para Todos em parceria com o Google, que aconteceu em outubro de 2021.
Assista ao painel “5 principais barreiras que dificultam a interação de pessoas com deficiência com marcas no digital” na íntegra:
Confira também:
- Guia de acessibilidade digital para marcas diversas e inclusivas
- Pessoas com deficiência visual ainda sofrem com velhas barreiras na web
- Barreiras de navegação na web e soluções para garantir um conteúdo acessível
- Barreiras de navegação enfrentadas por pessoas cegas
- Não confie em ferramentas “milagrosas” de acessibilidade