Conheça a profissão de tradução e interpretação de Libras


Foto em primeiro plano de Paloma Bueno em frente a uma parede verde. Ela é mulher branca, com olhos verdes claros e cabelos castanhos bem curtos e enrolados.

No Brasil há mais de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva, segundo o IBGE, e boa parte delas é sinalizante, ou seja, que se comunica prioritariamente por meio de língua de sinais. Desde 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida como forma legal de comunicação e expressão e é principalmente por meio dela que pessoas surdas sinalizantes se comunicam no país.

Se você não faz parte desse grupo, imagine como seria sua vida sem ouvir e sem compreender a Língua Portuguesa. Complicado, não é mesmo?

Por isso, é fundamental que haja profissionais de tradução e interpretação em Libras em eventos presenciais ou remotos, nas escolas e universidades, em cultos religiosos, nos cinemas, em shows e teatros, em programas de TV, e por aí vai. Dessa forma, ampliamos consideravelmente a possibilidade de compreensão do conteúdo que está sendo divulgado e permitimos que essas pessoas também participem ativamente de nossa sociedade. Isso também se chama inclusão.

Convidamos a tradutora e intérprete de Libras Paloma Bueno, que faz parte da rede do Movimento Web para Todos, a nos ajudar a entender um pouco mais sobre esta profissão que tem ganhado cada vez mais importância no mercado brasileiro.

Paloma traduzia e interpretava Libras como hobby ou diversão até concluir sua graduação em Gestão de Recursos Humanos. Mas ela foi incentivada pela própria comunidade surda a seguir esta profissão e a se aprofundar no tema. Acabou fazendo uma pós-graduação em interpretação de Libras e um mestrado em Linguística Aplicada.

Atua profissionalmente como tradutora e intérprete de Libras há mais de 10 anos. Desde então, já traduziu dezenas de filmes para cinema, comerciais para TV e internet, propagandas eleitorais, eventos corporativos, videoaulas, videoprovas, programas jornalísticos, lives, entre várias outras experiências. 

Paloma é afiliada ao SINTRA (Sindicato Nacional dos Tradutores), da ABRATES (Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes), da APIC (Associação Profissional de Intérpretes de Conferência) e da BLISS (Brazilian Language Industry Association). 

O que ela mais gosta é conhecer pessoas diferentes e estar em ambientes onde não teria acesso se não fosse pela sua profissão, que foi regulamentada apenas em 2010.

“É uma área que demanda de nós, profissionais, um investimento em educar o mercado sobre boas práticas, seja com conteúdo em redes sociais, seja fazendo reuniões para explicar como as coisas funcionam e o ideal para que os objetivos sejam alcançados, que é prestar um serviço a contento para a comunidade surda sinalizante”, explica Paloma Bueno. 

Neste bate-papo conosco, Paloma conta sobre sua trajetória e explica sobre as habilidades exigidas a profissionais que desejam atuar nesta área.

WPT: O que te motivou a escolher a profissão de intérprete de Libras?

Paloma: Na verdade, foi a profissão que me escolheu. Conforme eu aumentava meu contato com a comunidade surda, mais eu era convidada por ela e indicada para trabalhos voluntários e remunerados. Foi um caminho sem volta. Aí, tive a consciência de que tinha que estudar mais para fazer jus ao título, pois mesmo as pessoas surdas indicando meu trabalho dentro de suas comunidades, eu não conseguia me intitular intérprete. Neste contexto, busquei uma pós-graduação em interpretação em Libras.

WP: Como é o trabalho de intérprete de Libras? 

Paloma: Há duas grandes vertentes: a tradução e a interpretação. A que mais atuo é na tradução, que nada mais é do que gravação de propagandas. Neste caso, regravo quantas vezes forem necessárias.

Já a interpretação, que atuo em menor escala, são as simultâneas em eventos, palestras, reuniões e TV. Inclusive, trabalho na equipe de intérpretes da TV Cultura para o Jornal da Cultura e eventualmente no Roda Viva.

WPT: Há alguma diferença em sua atuação no ambiente físico e no digital? Há necessidade de uma qualificação especial para atuar no online?

Paloma: Trabalho com tradução remota em Libras desde 2018, bem antes da pandemia, e já estava bem familiarizada com as tecnologias necessárias para este trabalho. É a área que mais gosto, tenho mais controle do meu tempo e do espaço.

A diferença, na minha opinião, é que no ambiente físico em eventos, por exemplo, eu sofro muito mais com as interferências externas, como ruídos do ambiente que podem me atrapalhar. Confesso que muitos ruídos me deixam mais exausta do que no ambiente virtual. Interpretação em Libras é um trabalho que requer muito esforço mental e físico.

Para trabalhar online é preciso fazer investimentos consideráveis, pois é uma área muito ligada e próxima à produção de vídeo. Assim, requer computadores, câmeras, iluminação, softwares e acessórios adequados para fazer uma entrega de qualidade. Além disso, também precisamos desenvolver conhecimentos tecnológicos e instrumentais para realizar os trabalhos. 

WPT: Quais as habilidades exigidas para exercer essa profissão?

Paloma: Gosto de separar por partes: habilidade técnicas, tecnológicas e não técnicas. Principais habilidades técnicas são linguística, comunicação, técnicas de tradução, conhecimento prévio e da área de atuação.

Para desenvolver habilidades tecnológicas é preciso ter muita facilidade em lidar com softwares e com diferentes formatos de arquivos. 

Já as “famosas soft skills”, ou habilidades comportamentais exigidas em profissionais de tradução e interpretação em Libras estão o gosto de pesquisar, curiosidade e “jogo de cintura”. 

WPT: Intérpretes de Libras precisam sempre trabalhar em dupla? Como funciona essa parceria?

Paloma: O ideal  e recomendado por associações internacionais, nacionais e sindicais é que a gente trabalhe sempre em dupla, principalmente em eventos com duração maior que uma hora, pois o trabalho é cognitivo e fisicamente desgastante. 

WPT: O que é preciso fazer para ingressar e ter sucesso na carreira de intérprete de Libras?

Paloma: Para ingressar, dependendo da instituição, é preciso ter formação inicial como extensão universitária ou uma graduação em tradução e interpretação em Libras, domínio da Língua Portuguesa e da Libras.

Para ter sucesso, já exige “um degrauzinho” a mais. É preciso ter humildade para aprender, principalmente no começo da profissão, aceitar correções e entender que aquilo é precioso para seu crescimento. É importante também ter bons relacionamentos interpessoais, participar de eventos da área, congressos e seminários para atualização profissional.

WPT: Que mensagem você deixaria a quem tem interesse em seguir essa profissão?

Paloma: Estude muito, o mercado está em forte expansão, inclusive em sinais internacionais. A área tecnológica é um caminho sem volta, é preciso saber o mínimo para atender a clientes mais exigentes.


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