Conheça a rotina de uma consultora em audiodescrição


Doriane Vasconcelos em uma varanda. Ela é mulher branca e tem cabelos pretos e ondulados. Veste blusa amarela e usa batom vermelho.

Há muitas definições para o conceito de audiodescrição, que tem se tornado cada vez mais popular à medida que se amplia a consciência coletiva sobre a importância de recursos de acessibilidade.

Lucinéa Vilella, criadora do grupo de pesquisa Mídia Acessível e Tradução Audiovisual (MATAV), da UNESP de Bauru, e integrante da rede do Web para Todos, é grande estudiosa do assunto. Ela explica que audiodescrição é uma modalidade de tradução que descreve de forma objetiva imagens. É uma tecnologia assistiva que inclui especialmente quem tem deficiência visual. Mas esse recurso beneficia também pessoas idosas, com dislexia e neurodiversas.

Pode e deve ser utilizado em qualquer tipo de comunicação visual, como televisão, cinema, apresentações de dança, ópera, exposições artísticas e na web.

Lucinéa, que também integra a Associação Brasileira de Audiodescrição (ABAD), tem como uma das missões difundir as boas práticas desse tipo de tradução, que exige conhecimento técnico e especialização. Afinal, uma audiodescrição mal-feita pode ser mais prejudicial para a compreensão do conteúdo do que a ausência dela.

Doriane Vasconcelos, consultora em audiodescrição e integrante da Liga Voluntária do Movimento, compartilha dessa mesma opinião. Para ela, a audiodescrição pode fomentar a inclusão, transformar vidas e empoderar pessoas. 

“Esse tipo de tecnologia assistiva proporciona ampliação de conhecimento, potencializa entendimentos, cria oportunidades de acesso a direitos assegurados, aumenta a capacidade de análise crítica sobre a imagem mostrada com palavras, dentre outras finalidades. É como se pudéssemos, por algum momento, devolver a visão de quem a perdeu”, explica Doriane.

Ela é formada em Administração e atualmente cursa Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades na Universidade Federal da Bahia. É também servidora pública e consultora em audiodescrição desde 2020. 

Doriane nasceu com glaucoma, doença que afeta o nervo que liga o olho ao cérebro e leva a perda de visão. Ela teve baixa visão até os 16 anos e depois ficou cega. Doriane gosta de viver sua vida com autonomia e independência, ajudando pessoas que também lidam com barreiras de acesso.

A seguir, acompanhe o bate-papo que tivemos com ela e aprenda mais sobre a profissão de consultora em audiodescrição.

WPT: Como é o trabalho de profissionais de audiodescrição?

Doriane: O trabalho de profissionais de audiodescrição é estabelecido conforme a dinâmica e os alinhamentos definidos entre a equipe contratada. Roteiristas analisam a imagem e fazem o roteiro. Em seguida, encaminham o material para quem estiver atuando no papel de consultoria em audiodescrição. Quando necessário, mais profissionais se envolvem no projeto para fazer dupla checagem na imagem e no texto. Depois disso, vem a etapa da narração (em caso de obras audiovisuais) e da edição. Saliento que o consultor ou consultora atua em todas as etapas até que o produto seja finalizado.

WPT: Quais as habilidades exigidas para exercer essa profissão?

Doriane: Ter domínio do idioma, ter a consciência de que a pesquisa constante é fundamental, ter sinergia e saber trabalhar em equipe, ter comprometimento com a qualidade do serviço, ser responsável para que as entregas sejam cumpridas no prazo. É preciso ter também empatia, capacidade de análise crítica, ser detalhista, buscar se qualificar com frequência, saber ouvir, ter persuasão, saber respeitar o papel e a importância de cada integrante da cadeia produtiva da audiodescrição, dentre outras esperadas a um bom profissional dedicado em sua área de atuação.

WPT: Qual é o papel de cada pessoa em uma equipe de profissionais de audiodescrição?

Doriane:  O principal papel de cada pessoa em uma equipe de audiodescrição é garantir qualidade ao roteiro da obra para que chegue da maneira mais adequada e aderente ao público-alvo. 

A equipe é composta por:

  • Roteirista: quem elabora o roteiro com base na imagem mostrada.
  • Revisor ou revisora: quem confere a imagem com base no que foi traduzido em roteiro. 
  • Consultor ou consultora: profissional com deficiência visual que analisa, examina, revalida, identifica problemas e sugere melhorias no roteiro. Também aponta os resultados indesejados e mostra as oportunidades de melhorias. 
  • Narrador ou narradora: quem narra o roteiro pós-revisão e pós-consultoria. 
  • Editor ou editora: quem insere as gravações das unidades descritivas no produto audiovisual.

WPT: O que é preciso fazer para ingressar e ter sucesso na carreira de audiodescrição?

Doriane: Primeiramente, é preciso buscar um curso de qualificação na área. Depois, é se dedicar bastante, ser responsável, gostar de estudar e pesquisar constantemente. É ser humilde, ter foco e saber ouvir e trabalhar em equipe. Deve conhecer as normas que orientam o recurso, com seus pilares e suas diretrizes. 

WPT: Que mensagem você deixaria a quem tem interesse em seguir essa profissão?

Doriane: Essa profissão é ao mesmo tempo encantadora e desafiadora. A audiodescrição é viva, flexível e dinâmica. Por tal razão, requer constante atualização de repertório de conhecimento visual e não visual. A área está em crescente expansão, o que é uma boa oportunidade. Embora a atividade seja regulamentada, a profissão de audiodescrição ainda não foi. Caso deseje atuar nessa área, tenha amor. 

Para concluir, assinalo que a gratificação maior é a satisfação das pessoas ao consumirem o recurso com qualidade e reconhecerem o trabalho da equipe que realizou o roteiro de audiodescrição considerando contexto, obra e público-alvo.


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