Sites com boa estrutura e adequados para leitores de telas é a necessidade assistiva mais desejada, diz estudo

Primeira parte do estudo “Panorama da Acessibilidade Digital no Brasil” traz percepções de pessoas com deficiência sobre este cenário


Arte com o texto em destaque: Panorama de Acessibilidade Digital no Brasil, edição 2023, primeira parte sobre percepções de pessoas com deficiência. Logos da Hand Talk e WPT.

A Hand Talk, startup alagoana focada na tradução automática de Línguas de Sinais, e o Movimento Web para Todos acabaram de lançar o 1º estudo sobre o Panorama da Acessibilidade Digital no Brasil. A pesquisa contou com a participação de pessoas com deficiência, profissionais da acessibilidade e especialistas em acessibilidade digital, somando 647 respondentes. 

Os resultados do estudo serão divulgados em 3 partes, sendo a primeira delas com foco nas percepções de pessoas com deficiência em relação ao atual cenário da acessibilidade digital no país. “Ter dados profundos sobre acessibilidade no Brasil sempre foi um desafio. Essa iniciativa visa clarear ainda mais o cenário em nosso país para que possamos progredir na diminuição das barreiras de acessibilidade”, comenta Ronaldo Tenório, CEO e co-fundador da Hand Talk.

De acordo com outro estudo do Movimento Web para Todos feito em parceria com a BigDataCorp e Ceweb/Nic.br em 2022, menos de 1% dos sites brasileiros são acessíveis para as pessoas com deficiência. Nesse contexto, é imprescindível entendermos a maneira como a acessibilidade digital está sendo implementada e o quanto ela é priorizada pelas organizações. 

Dessa vez, foi possível compreender a percepção de pessoas com deficiência em relação ao andamento das ações de acessibilidade digital e inclusão no mercado corporativo e na prestação de serviços, além de mapear expectativas e opiniões deste público em relação ao futuro da pauta no país.

“Esse estudo é fundamental para termos informações mais precisas sobre o que impede ou dificulta o avanço da cultura de acessibilidade digital dentro das organizações para combatermos o problema de forma colaborativa“, conta Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos.

Conheça a seguir alguns destaques deste primeiro recorte do Panorama da Acessibilidade Digital no Brasil.

NECESSIDADES ASSISTIVAS NO AMBIENTE ONLINE

As quatro necessidades assistivas em ambientes online mais votadas pelas pessoas com deficiência que responderam a pesquisa são:

  1. Sites com boa estrutura para que leitores de tela funcionem bem.
  2. Atendimento online especializado para pessoas com deficiência. 
  3. Atendimento especializado disponível 24 horas por dia.
  4. Opção de traduzir os conteúdos escritos nos sites para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A opção menos selecionada pelo público da pesquisa foi a necessidade de realizar ajustes visuais e de layout, como aumentar ou diminuir fontes, pausar GIFs ou ocultar imagens. Esse tipo de funcionalidade é normalmente oferecida por meio dos chamados “toolkits”, que são ferramentas de ajustes visuais automáticos que a pessoa usuária pode ativar ou não, conforme a necessidade. 

Esse tipo de ferramenta foi a mais classificada como ‘péssima’ em comparação com as demais (leitores de tela instalados no sistema operacional ou em sites, ferramentas de tradução para Libras, atendimento com intérprete de Libras, ferramentas de correções automáticas de acessibilidade no código de sites, legendas automáticas, extensões gratuitas oferecidas pelo Google Chrome). 

As pessoas com deficiência que participaram do estudo valorizam mais as extensões gratuitas oferecidas no navegador do que esses “toolkits”, já que estas extensões têm praticamente as mesmas funcionalidades e são melhor avaliadas pelas pessoas entrevistadas.

O estudo também revelou que 45% das pessoas com deficiência não participam da tomada de decisão em relação à compra de ferramentas que ajudam a implementar as práticas de acessibilidade digital. “A organização que quer genuinamente fazer algo útil, funcional e inclusivo precisa considerar as opiniões de pessoas usuárias e especialistas em acessibilidade digital. Assim, ela não perderá tempo nem dinheiro no processo”, destaca Simone.

ACESSIBILIDADE DIGITAL EM ALTA

Sobre as pautas de diversidade e inclusão nos ciclos sociais das pessoas com deficiência entrevistadas, 58,5% afirmam que este assunto está presente em suas interações; 20,7% dizem que essas conversas diminuíram e a mesma porcentagem afirma que esse tipo de diálogo não faz parte dos seus ciclos sociais.

De alguma forma, o aumento do debate sobre essa pauta também é percebido nas organizações. Cerca de 33% do público respondente afirmou perceber uma mudança cultural sobre a importância da acessibilidade digital no corporativo.

O crescimento da representatividade de pessoas com deficiência na mídia, seja na televisão, em propagandas ou até como influenciadoras em redes sociais, por exemplo, têm contribuído muito para que esse tema ganhe escala na sociedade. “Este é um movimento crescente e sem volta. Acessibilidade digital está diretamente relacionada à pauta socioambiental valorizada pelo mercado e sociedade”, lembra Simone.

A RELAÇÃO ENTRE ACESSIBILIDADE DIGITAL E AS PRÁTICAS ESG

As práticas ESG são um conjunto de padrões e boas práticas que visam definir se uma empresa é socialmente consciente, sustentável e corretamente gerenciada. A sigla ESG, em inglês, reúne os três pilares desse movimento: Ambiental, Social e Governança. Organizações que adotam essas práticas correm menos riscos de enfrentarem problemas jurídicos, trabalhistas e fraudes, além de serem mais valorizadas pelo mercado.

As pessoas com deficiência que participaram do estudo elencaram o pilar social como sendo o de maior prioridade nas empresas onde trabalham (71%). Os pilares Governança e Ambiental vêm em segundo e terceiro lugares, respectivamente, com 57% e 51% das respostas.

Acessibilidade digital, por sua vez, “é a possibilidade e a condição de alcance, percepção, entendimento e interação para a utilização, a participação e a contribuição, em igualdade de oportunidades, com segurança e autonomia, em sites e serviços disponíveis na web, por qualquer pessoa, independentemente de sua capacidade motora, visual, auditiva, intelectual, cultural ou social, a qualquer momento, em qualquer local e em qualquer ambiente físico ou computacional e a partir de qualquer dispositivo de acesso”. Esta é a definição do W3C Brasil.

“Com base nessas definições e no resultado desse primeiro recorte do estudo, fica claro que as organizações precisam enxergar a acessibilidade digital como um dos mecanismos para cumprirem as práticas ESG, especialmente as voltadas para o social”, destaca Simone.

Outro dado interessante revelado na pesquisa são as causas sociais mais apoiadas neste ano pelas empresas onde trabalham. As três principais são: inclusão de pessoas com deficiência (50%), igualdade racial (46.2%) e inclusão de grupos LGBTQIAP+ (43,4%). Equidade de gênero continua sendo uma das causas prioritárias (41,5%), mas aparece em quarto lugar. Etarismo vem em último, com 26,4% do público afirmando que a empresa sequer se posiciona a respeito dessa causa.

INICIATIVAS DE ACESSIBILIDADE DIGITAL NAS EMPRESAS

As pessoas com deficiência também elencaram no questionário da pesquisa quais são as iniciativas relacionadas à acessibilidade mais trabalhadas em suas atuais empresas. As três principais são a contratação de especialistas em diversidade e inclusão, adaptação dos ambientes físicos e digitais e abertura de vagas afirmativas para pessoas com deficiência. 

Cinquenta e sete por cento responderam que as empresas onde trabalham possuem projeto ou iniciativa em relação à acessibilidade digital. Mas é um processo ainda embrionário e em desenvolvimento dentro das organizações, já que ações como a contratação de especialistas no assunto ou o investimento em treinamentos periódicos especificamente sobre a acessibilidade digital, por exemplo, não são adotadas pelas empresas deste recorte de público como as principais práticas.

Quando perguntadas sobre a inclusão nos ambientes físicos e digitais, 48,2% das pessoas respondentes afirma que as empresas se preocupam com isso, mas que ainda têm muito a melhorar. Apenas 25,8% afirmam que a estrutura online e offline da empresa é inclusiva de maneira satisfatória.

O estudo também quis saber se as equipes das empresas onde as pessoas com deficiência trabalham seguem as diretrizes listadas no guia WCAG (Web Content Accessibility Guidelines, traduzido para o português como Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo na Web). Um dado preocupante é que 29% do público respondente afirma não saber o que WCAG significa ou que as empresas não seguem essas diretrizes.

O principal objetivo da empresa ao adotar iniciativas de acessibilidade digital, segundo as pessoas que responderam a pesquisa, é promover a inclusão de pessoas colaboradoras com deficiência no espaço de trabalho (30). Na sequência, vem a necessidade de cumprir a legislação que exige a acessibilidade nos canais digitais oficiais das empresas (29). O terceiro objetivo é seguir as diretrizes WCAG (21).

“Isso nos mostra, mais uma vez, que temos um longo caminho pela frente de conscientização e educação em torno da temática da acessibilidade digital”, comenta Simone.

PRINCIPAIS DESAFIOS PARA IMPLEMENTAR PROJETOS DE ACESSIBILIDADE DIGITAL

Os dois desafios mais marcados pelo público com deficiência foram a falta de conhecimento sobre a acessibilidade digital e conseguir convencer outros times essenciais a aderir ao projeto. Um outro desafio citado foi a falta de um setor dedicado a essas ações, visto que isso ajudaria tanto na aderência de outros times ao projeto, quanto também na disseminação de conhecimento sobre o assunto na empresa.

A falta de conhecimento sobre acessibilidade digital corrobora com o dado apresentado anteriormente, em que a contratação de especialistas em acessibilidade digital e o investimento em treinamentos periódicos sobre o tema são ações de menor aplicação nas iniciativas das empresas, segundo este recorte de público. Portanto, isso representa um alerta para as ações que realmente modifiquem a cultura organizacional acerca do tema, como programas educacionais e periódicos.

Sobre o nível de influência das pessoas com deficiência no momento de contratação de ferramentas, 44,8% do público respondente afirma não participar da tomada de decisão em relação à compra de ferramentas assistivas. Isso pode representar uma má prática dessas empresas ao não trazer para perto o público que é diretamente impactado por essas ações, segundo analistas do estudo.

METODOLOGIA

O Panorama da Acessibilidade Digital no Brasil é um estudo exploratório que tem o objetivo de ampliar o debate e a consciência da sociedade como um todo para a importância deste tema.

Foi realizada uma pesquisa quantitativa, com perguntas abertas e fechadas, divulgada digitalmente. Foi conduzida por meio de um questionário online de auto preenchimento voluntário, com 63 questões. A pessoa participante poderia escolher entre um formulário acessível em Libras ou apenas em português escrito. As respostas foram coletadas entre 26 de junho a 31 de julho de 2023.

Neste período, foram recebidas 647 respostas no total, incluindo pessoas com deficiência, especialistas em acessibilidade digital e profissionais de áreas que se relacionam com a temática.

Esse grupo foi composto por 68% pessoas sem deficiência, 30% com deficiência (auditiva, física, intelectual, visual) e 2% preferiram não informar.

Acesse o e-book para ler o conteúdo completo da primeira parte do estudo sobre o Panorama da Acessibilidade Digital no Brasil.


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