IA avança nas descrições de imagens, mas ainda não substitui a revisão humana


Ilustração de um celular gigante com um robô projetado na tela e um balão de diálogo com a palavra "hi!". Ao redor, há quatro pessoas, sendo que duas mexem em celulares e outras duas em laptops. Há também símbolos que remetem à engrenagem, dúvidas, diálogo etc.

Por Ellen Berton, Luciana Molina, Odenilton Júnior e Wybson Santana.*

No centro das inovações tecnológicas e sociais dos tempos atuais, a inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel cada vez mais impactante na criação de conteúdo acessível para pessoas com deficiência visual. Em uma era digital em constante evolução, é fundamental a inclusão de todas as pessoas, independentemente de suas habilidades. A acessibilidade digital não é apenas um recurso conveniente, mas um direito fundamental. E a IA está se revelando uma ferramenta poderosa para tornar a web e outras formas de conteúdo mais acessíveis a todo mundo.

O avanço da IA na descrição de imagens trouxe uma nova esperança para pessoas cegas e/ou com baixa visão, oferecendo-lhes a oportunidade de acessar informações visualmente apresentadas de maneira mais eficaz e independente. Ferramentas como o ChatGPT, Bing/Copilot e Be My Eyes têm sido fundamentais nesse processo, fornecendo descrições detalhadas e precisas das imagens.

No entanto, mesmo com esses avanços, persiste uma lacuna na acessibilidade digital: a falta de bancos de imagens que permitam a essas pessoas buscar e selecionar fotos de forma autônoma. Embora alguns bancos forneçam descrições básicas, muitas vezes essas descrições são interpretativas e não atendem totalmente às necessidades de quem tem deficiência visual.

Odenilton Júnior, professor e especialista em acessibilidade digital e audiodescrição, é usuário de IA para descrição de imagens, relata sua experiência como pessoa cega: “Minhas leituras sobre inteligência artificial começaram há bastante tempo, e assim que o ChatGPT foi lançado em sua versão paga, reconheci de imediato seu potencial para facilitar as tarefas do meu dia a dia.” Ele desenvolveu seu próprio ChatGPT personalizado para auxiliá-lo nessa missão, destacando a precisão e detalhamento das análises das imagens.

No entanto, Odenilton também aponta as limitações da IA, observando que ainda é necessário um olhar humano para garantir a precisão e a adequação das descrições de imagens. Ele destaca a importância de investir em acessibilidade digital desde a concepção de qualquer projeto.

Wybson Santana, engenheiro de software, buscando aumentar sua presença no LinkedIn, enfrentou o desafio de criar conteúdo com imagens devido à sua deficiência visual. Para superar essa dificuldade, optou por experimentar o Copilot com GPT 4 via Bing AI. Embora tenha encontrado uma ferramenta acessível e de uso simplificado, encontrou limitações, como a resolução fixa das imagens e descrições imprecisas geradas pelo sistema. Apesar disso, acredita que futuros avanços na tecnologia proporcionarão maior autonomia na criação e descrição de imagens para pessoas com os mais variados tipos de deficiência visual.

Da perspectiva de profissionais de audiodescrição, como Luciana Molina, a IA pode ser vista como uma ferramenta complementar ao trabalho humano. Luciana ressalta que a IA pode fornecer descrições básicas de imagens, mas a tradução dessas descrições em audiodescrições precisas requer conhecimento crítico e habilidades tradutórias. Ela enfatiza a importância de profissionais com capacitação adequada para adaptar e aprimorar as descrições geradas pela IA, garantindo uma experiência significativa para pessoas com deficiência visual.

Apesar dos desafios enfrentados, é inegável o impacto transformador que a inteligência artificial está trazendo para a interação das pessoas com deficiência visual no mundo digital. Ao oferecer autonomia e empoderamento, a IA está revolucionando não apenas a forma como essas pessoas navegam na web, mas também como criam conteúdo para as redes sociais.

Ellen Berton, professora de Marketing e Copy voltada para pessoas com deficiência visual, ressalta o poder positivo da IA na promoção da inclusão digital. Ela destaca a capacidade da IA de criar conteúdo inclusivo para as redes sociais e enfatiza a importância de se definir claramente a mensagem e o propósito do conteúdo antes de utilizar esse tipo de ferramenta para sua criação. Essa abordagem estratégica é crucial para garantir que o conteúdo seja verdadeiramente impactante e relevante para o público-alvo.

E para quem deseja  iniciar sua jornada na produção de conteúdo acessível, Ellen recomenda o uso do ChatGPT para a geração de textos e do Bing/Copilot para a criação e descrição de imagens. No entanto, ela ressalta a importância fundamental da revisão manual, destacando a necessidade de evitar o uso indiscriminado do famoso “copia e cola”. Essa prática garante não apenas a precisão e qualidade do conteúdo, mas também promove uma abordagem mais ética e responsável na criação de conteúdo digital.

A colaboração entre inteligência artificial e humana é essencial para garantir que o conteúdo digital seja verdadeiramente inclusivo e acessível.. À medida que avançamos rumo a um futuro mais inclusivo, é imperativo continuar investindo em tecnologias e práticas que promovam a acessibilidade digital para todas as pessoas, independentemente de seus perfis ou habilidades.

*Ellen Berton, Luciana Molina, Odenilton Júnior e Wybson Santana fazem parte da Liga Voluntária do Movimento Web para Todos.


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