“É uma reflexão diária de inclusão e do exercício da empatia”, destaca Luana Pablos


Foto de Luana Pablos em primeiro plano. Ela é branca, tem cabelos castanhos escuros, lisos e compridos, que estão presos para trás. Seu sorriso é largo e seus olhos também são castanhos. Veste uma camisa estampada e colorida e está apoiada em uma parede de vidro com prateleiras de madeira.

Muitas organizações têm o desejo de iniciar o que chamamos de “jornada pela acessibilidade digital”, mas não sabem por onde começar. Suas equipes sentem falta de conversar com profissionais que já passaram por esse processo para aprenderem com seus erros e acertos.

O universo corporativo é complexo e, geralmente, exige uma série de articulações internas para que um projeto seja aprovado e implementado. Mas tudo fica mais prático e rápido quando a liderança da empresa está engajada e apoia a incorporação da acessibilidade digital como política interna.

Esta é a dica mais básica e a primeira etapa a ser cumprida nesta jornada. Mas existem várias outras que são fundamentais para que o projeto ganhe escala dentro da organização e que as diretrizes de acessibilidade sejam realmente incorporadas em todos os processos e passe a ser algo natural naquele ambiente.

Luana Pablos, coordenadora de Marketing e Comunicação do escritório Machado Meyer Advogados, é uma entusiasta deste tema e não tem medido esforços para tornar a empresa onde trabalha uma referência no mercado no que diz respeito à acessibilidade digital. Na entrevista a seguir, ela conta como tem sido essa jornada, desafios enfrentados, soluções encontradas e dá uma série de dicas para quem está começando a trilhar esse caminho.

WPT: O que levou o escritório Machado Meyer Advogados a querer investir em acessibilidade digital? Qual foi o “ponto de virada” e quando isso aconteceu?

Luana: Conforme nossas iniciativas de Diversidade e Inclusão (D&I) foram avançando e ganhando cada vez mais força dentro da cultura do escritório. A questão da acessibilidade já vinha sendo mapeada pela nossa área de Responsabilidade Social Corporativa, liderada pela Helena Rabethge e também pelo sócio Daniel Szyfman, membro do Comitê de D&I e um dos grandes incentivadores do tema no escritório. 

O primeiro passo foi um workshop com a Eli Maciel, da Espiral Interativa, para todo o time de Marketing e Comunicação, para começarmos a compreender os ajustes necessários que precisaríamos aplicar em nossos canais de comunicação internos e externos. Acredito que não há um só ponto de virada, são vários conforme o aprendizado do time avança e a linguagem inclusiva vai se tornando natural na produção do conteúdo. É uma reflexão diária de inclusão e do exercício da empatia.

WPT: Como tem sido o processo de tornar os canais digitais internos e externos do Machado Meyer Advogados mais acessíveis? Quais as principais ações que vocês têm feito?

Luana: Eu acho que adequar os canais existentes é o trabalho mais longo, pois é necessário remodelar toda uma estrutura existente, como “consertar” um projeto pronto. Começamos pelo nosso site institucional, intranet, informativos por e-mail (internos e externos) e canais de mídias sociais, sempre com o apoio da agência parceira especializada, a quem eu recorro sempre em momentos de dúvida. 

Atualmente, estamos adaptando os treinamentos internos em vídeo e já lançamos dois com acessibilidade. Apesar de já termos iniciado essa jornada, sabemos que todos esses canais precisam ser revisitados com frequência, pois sempre tem algo que podemos melhorar.

WPT: Quais foram as principais dificuldades que encontraram nessa jornada? E o que fizeram para superá-las?

Luana: O maior desafio eu diria que é a conscientização de todas as pessoas colaboradoras, afinal, é uma empresa com mais de mil integrantes. Aqui, tivemos o privilégio de termos a alta liderança “a bordo” (ou seja, participante do processo), pois é impossível implementar qualquer iniciativa sem o apoio de quem está à frente das organizações. 

Uma estratégia que usamos internamente foi a criação de um guia de comunicação inclusiva para o nosso grupo de “Parceiros da Comunicação”, que são pessoas de todas as áreas administrativas (RH, Financeiro, TI, etc.) que geralmente estão à frente de temas de comunicação em suas áreas. O guia traz algumas dicas para despertar a reflexão das nossas pessoas, não só para acessibilidade, como também para outros aspectos da linguagem inclusiva, como a neutra e não-sexista.  

WPT: Há uma equipe dedicada que concentra as ações e decisões de acessibilidade digital no Machado Meyer Advogados? 

Luana: Acredito que, de alguma forma, todo o time de Marketing e Comunicação acaba liderando as ações do ponto de vista dos canais, pois temos o time de design que olha mais para a aplicabilidade do tema em layouts, comunicação interna e externa na produção de conteúdo textual, mídias sociais para tornar nossas publicações mais acessíveis, entre outros. 

Relatamos de forma recorrente ao time de Responsabilidade Social Corporativa e a integrantes do Comitê de Diversidade e Inclusão responsáveis pela frente PcD. Além disso, temos um grupo multidisciplinar de Marketing Digital que, dentro de seus objetivos em aprimorar os canais digitais do Machado Meyer, também inclui os debates de acessibilidade em recorrências semanais.

WPT: Quais dicas você daria para as organizações que querem investir em acessibilidade digital, mas não sabem por onde começar?

Luana: São várias, mas vou tentar listar aqui as que foram fundamentais para nós:

  1. Envolver a alta liderança na importância do tema – essas pessoas precisam estar engajadas e serão fundamentais quando vocês encontrarem dificuldades no caminho.
  2. Caso não tenha um comitê dedicado aos temas de Diversidade e Inclusão, como temos aqui no Machado Meyer, é necessário ter pelo menos um grupo multidisciplinar que irá coordenar e liderar a iniciativa – são muitas frentes, além da comunicação, e todas devem ser tratadas com a mesma relevância.
  3. Ter abertura para a desconstrução e aprendizado! Além do workshop que fizemos com a Espiral Interativa, outras pessoas do time se envolveram em outros cursos, leituras, vídeos sobre o tema.
  4. Aqui vou deixar uma frase da Eli Maciel que “vive na minha cabeça” e que nos ajuda em momentos de dúvida: “não existe acessibilidade 100%, mas existe o mais acessível possível que conseguimos chegar dentro de cada canal”. Adaptabilidade é a palavra-chave!

Em resumo: acredito que é um processo difícil, longo, mas é essencial quando pensamos no que está ao nosso alcance enquanto pessoas cidadãs buscando por uma sociedade mais acolhedora, justa e inclusiva.


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