Criando experiências em sala de aula para mostrar a importância da acessibilidade


Foto panorâmica de sala de aula da CESAR School, com 5 estudantes em uma mesa redonda. Estão com os olhos vendados, utilizam fones de ouvido enquanto interagem com seus celulares em uma dinâmica de acessibilidade.
Estudantes durante dinâmica de acessibilidade em uma das aulas de design na CESAR School, de Recife. (Foto: Arquivo pessoal de Marcelo Penha)

Por Marcelo Penha* 

Cada vez mais, os canais digitais estão se tornando o principal meio de contato entre público e marcas. Logo, um site acessível faz com que as empresas impactem um público maior. Infelizmente, grande parte dos projetos de soluções digitais ainda são guiados pela cultura da atitude excludente: o desenvolvimento dessas soluções é voltado para uma “pessoa padrão”, sem se considerar as diversidades sensoriais e funcionais.

Mas, é possível mudar esse cenário. Quem é  especialista em acessibilidade pode nortear ou coordenar o projeto para ajudar a implantar essa  cultura em uma empresa. Todavia, na prática, implementar acessibilidade exige a participação de vários  profissionais em um projeto, como designers. 

Nesse cenário, temos uma boa notícia: algumas instituições de ensino superior, como a CESAR School, de Recife, já incluem a disciplina na grade curricular dos seus cursos de Design, tanto no bacharelado, como no mestrado, formando profissionais com uma base para contribuírem na implementação da acessibilidade digital.

Chegamos, então, a uma questão que vale uma reflexão: como docentes de cursos de Design podem criar experiências para estudantes com o objetivo de ampliar a empatia e, ao mesmo tempo, mostrar na prática a importância de se considerar a acessibilidade em qualquer projeto?

Várias dinâmicas podem ser aplicadas em sala de aula com esse objetivo, mas vamos destacar três delas aqui, que rendem muitas respostas positivas de estudantes.

Dinâmica 1 – O que foi dito?

Nesta atividade, coloca-se um vídeo (importante que seja curto) de um palestrante ou de uma palestrante propositalmente sem áudio e legendas. Vídeo iniciado, docente sai da sala para “ir pegar água”, como exemplo de simulação. Na volta, após o término do vídeo, pede-se para a turma falar o que achou do conteúdo.

Essa dinâmica em particular, ocorre no início da disciplina, na fase de conscientização, e tem o intuito de fazer com que percebam que toda informação deve ser fornecida em formato alternativo para ser acessível a muito mais gente.

Dinâmica 2 – Vamos desenhar?

Essa dinâmica consiste em mostrar, na prática, o diferencial de se colocar uma boa descrição nas imagens em canais digitais, utilizando duas postagens publicadas no Instagram. No primeiro momento, coloca-se para a turma apenas o texto “Sextou!” (de um post sem descrição de imagem), e pede-se que desenhem o que  esperariam ver.

Na sequência, é colocado o texto “Feliz aniversário!” e a descrição da imagem presente no segundo post. Mais uma vez, é solicitado que desenhem a foto publicada.

O resultado: uma diversidade de situações desenhadas para o primeiro texto, nenhuma próxima da imagem apresentada. Já no segundo caso, todos os desenhos, à sua maneira, se aproximam da imagem real.

Dinâmica 3 – Interagindo com o celular sem o sentido da visão

Para essa atividade, em um primeiro momento, ensina-se o funcionamento do leitor de tela. Finalizada essa etapa, convida-se estudantes a vendar os olhos e realizar uma interação básica nos seus celulares.

Vale uma observação importante aqui: o objetivo dessa dinâmica não é que estudantes naveguem como se fossem pessoas cegas. Além da prática com o leitor de tela, os demais sentidos de uma pessoa com deficiência visual, como a audição e o tato, são mais aguçados, influenciando na experiência.

O ponto central é que percebam na prática que a acessibilidade faz diferença quando ela está presente. Dessa forma, a tarefa proposta é realizar uma operação matemática na calculadora.

Inicialmente, a grande maioria acredita que não irá conseguir. Mas, em geral, quase todo mundo têm sucesso na atividade, e relata o quanto essas experiências mudaram as suas visões sobre o tema. 

Listo a seguir alguns comentários de estudantes que participaram dessas dinâmicas:

Foi uma experiência muito importante de imersão no universo da ausência de visão. Entendemos um importante mecanismo de desenvolvimento de empatia.

Sem dúvida, foi um exercício de empatia muito rico.

Essas experiências despertaram em mim o dever como designer de estar atenta e contribuir para que as pessoas com deficiência sejam de fato incluídas em todos os projetos e tenham uma experiência adequada e feliz com os produtos e serviços que irei desenvolver.

Legal, né? Com essas e outras ações, seja em sala de aula, seja no nosso dia a dia profissional e pessoal, conseguimos contribuir para a busca de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.

 *Marcelo Penha é professor nos cursos de design na CESAR School e faz parte da Liga Voluntária do Movimento Web para Todos.


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