Tem sido cada vez mais comum organizações de diversos setores se arrependerem de investimentos realizados em acessibilidade digital, seja para adaptação de seu site, seja na contratação de soluções baseadas em inteligência artificial compostas por diversos tipos de ferramentas automáticas que prometem tornar um site acessível de forma instantânea.
Se você faz parte desse grupo de profissionais, não se culpe. Cada vez mais, a temática da acessibilidade digital vem ganhando espaço na nossa sociedade, mas ainda temos um grande desafio pela frente: conscientizar o mercado sobre o que realmente torna um projeto web acessível.
Para isso acontecer efetivamente, quem contrata esses serviços precisa entender com um pouquinho mais de detalhes alguns aspectos de experiência de navegação das pessoas com deficiência, como e para que servem as ferramentas automáticas. Tão importante quanto, é saber checar se o serviço entregue está, de fato, preparado para receber a visitação deste público.
Passar um validador automático na página entregue e inserir a URL para avaliar o desempenho em uma ferramenta online, por exemplo, são ações básicas que podem, de imediato, fazer com que sejam mapeadas algumas barreiras graves. Dessa forma, é possível solicitar revisões e ajustes à equipe contratada.
Nesta reportagem, reunimos uma série de informações valiosas para que, a partir de agora, você tenha muito mais autonomia em todo o processo de contratação para não ser enganado ou enganada, e assegurar que o serviço ou ferramenta contratada realmente cumpra com o prometido.
Lembre-se: acessibilidade digital de verdade, comprometida e transformadora, não se faz (ainda!) de forma automática. Ela demanda conhecimento técnico e, principalmente, mudança de cultura.
O que você precisa saber primeiro
Acessibilidade digital é lei
O Brasil conta com algumas leis que são aliadas na promoção da acessibilidade na web. A Lei Brasileira de Inclusão (LBI) é considerada um grande avanço em relação aos direitos da pessoa com deficiência e o artigo 63 estipula que todas as páginas web de organizações que tenham representação no país sejam acessíveis a elas.
E um dos requisitos é que o site esteja conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. Ou seja, mais um motivo para não apostar apenas em soluções automáticas que não aplicam essas diretrizes na estrutura do site e não eliminam as barreiras de navegação e compreensão do conteúdo.
Acessibilidade digital é boa para todo mundo
É muito comum que as pessoas pensem que acessibilidade é boa só para quem possui uma deficiência visual mais severa. Na verdade, um site ou um aplicativo acessíveis são fáceis de serem navegados por quem possui ou não deficiência, por pessoas idosas, com baixo letramento e por quem está aprendendo a lidar com o mundo digital.
Por que você quer um site acessível?
Investir em acessibilidade digital beneficia tanto as pessoas com deficiência quanto as empresas. Ao criar um site acessível, você contribui para um mundo mais inclusivo e digitalmente acessível para todo mundo.
Entender o que motiva você a querer que o site de sua organização seja acessível revela a estratégia da sua decisão. Mostra, também, os riscos e oportunidades, a verba que terá que destinar ao projeto, o nível de esforço necessário, entre outros aspectos.
Por isso, antes de continuar lendo este texto, recomendamos que você reflita sobre este ponto conhecendo algumas das respostas mais comuns que chegam até nós para esse questionamento.
Confira algumas boas práticas que você precisa conhecer antes de contratar um serviço digital
Preparamos uma curadoria de boas práticas de acessibilidade na web nas áreas de conteúdo, desenvolvimento e design. O nosso objetivo é que, a partir desses materiais, você consiga entender melhor sobre o que é acessibilidade digital na prática.
Caso queira se aprofundar um pouco mais, pode conferir também o “Guia de acessibilidade digital para marcas inclusivas”, que traz dicas variadas para simplificar o processo de adequação dos canais digitais.
Concentre as decisões em especialistas em acessibilidade digital
O mais recomendado é que a organização tenha ao menos uma pessoa especializada em acessibilidade digital em seu time. Dessa forma, ela poderá avaliar com mais precisão se as diretrizes de acessibilidade estão sendo contempladas antes de qualquer projeto digital ser executado por equipe interna ou externa.
Esse tipo de profissional deve concentrar as decisões de contratação de serviços prestados por empresas terceirizadas e de ferramentas automatizadas que serão incluídas em sites e aplicativos.
Caso a organização não tenha demanda interna suficiente para justificar a contratação de um profissional especializado nesse assunto, a recomendação é que se busque o apoio de consultores ou consultoras autônomos para as avaliações pontuais.
O que você deve incluir no briefing ou na RFP (request for proposal)
Há uma série de recomendações de acessibilidade que precisam ser seguidas antes de começar um projeto. Em 2008, o W3C e especialistas do Google, Microsoft, IBM e empresas especializadas em acessibilidade criaram as Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG). Elas são o padrão oficial aceito em diversos países, inclusive no Brasil.
Profissionais que forem atender ao seu pedido de execução de site ou aplicativo têm que seguir essas diretrizes para que lhe entregue um projeto com acessibilidade e de acordo com a lei.
Peça referências de trabalhos digitais anteriores que tenham contemplado acessibilidade, conhecimento da WCAG 2.2 (que é a versão mais atualizada), sempre considerando design, programação e conteúdo.
Como checar o trabalho realizado
Conheça algumas ações que você pode realizar para verificar se o site que você acabou de receber está ou não acessível.
Use ferramentas de validação automática
Você pode contar com nosso serviço gratuito de teste básico para ter uma ideia geral de como está a acessibilidade do site. É só enviar um e-mail para contato@mwpt.com.br com a URL da página que gostaria que analisássemos. Nossa equipe de especialistas fará a análise básica e enviaremos a você um e-mail com o resultado e dicas de como adequar a página de maneira sustentável.
Para ter uma visão mais aprofundada, você pode avaliar a acessibilidade com o AMAWeb, ferramenta brasileira desenvolvida pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pelo Centro Tecnológico de Acessibilidade do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), com apoio do Ministério Público Federal.
Ela não faz alterações no site avaliado, mas aponta sugestões de melhorias. Por isso, é essencial que o time de especialistas que cuida do seu site elimine manualmente as barreiras mapeadas pelo validador.
O AMAWeb consiste em um sistema computacional avaliador de acessibilidade que extrai o código HTML (URL, arquivo ou código fonte) de uma página web e faz a análise do seu conteúdo. A ferramenta faz a avaliação automática das páginas de acordo com as recomendações do WCAG.
Alguns testes manuais que você pode fazer
Teste o site navegando pelo teclado
Você pode navegar pelo teclado usando a tecla TAB. Preste atenção nos links (confira se consegue enxergar a marcação ao redor de cada palavra ou termo) e observe se consegue percorrer, de maneira sequenciada, todas as áreas do site usando apenas esse recurso.
Teste o site com um leitor de telas
Existem diversos tipos de leitores de tela, mas indicamos que o NVDA, que é uma versão gratuita disponível para quem utiliza o sistema Windows. Se você for usar um computador Mac, aí é só ativar o “voice over” utilizando o atalho “command+F5”.
Comece a navegar pela tecla TAB e as setas, vá passando pelos links, botões, imagens e ouça se o texto pronunciado pelo leitor de telas está compreensível.
Cheque se as imagens estão com texto alternativo
Esse texto também é conhecido como “ALT text” e é escrito no código do site onde foi anexada a imagem. Você pode saber se ele foi incluído e se está compreensível clicando em cima da foto com o lado direito do mouse e depois em “Inspecionar”. O browser abrirá uma área ao lado do site com vários códigos, mas é preciso checar apenas a seção marcada em azul claro e conferir se ali está a descrição da imagem e se o texto está condizente com o que ela retrata.
Você também pode utilizar uma extensão do Chrome chamada Image Alt Text Viewer. quando ativada, basta posicionar o mouse sobre a imagem que abrirá uma caixa de diálogo informando se há ou não texto alternativo. Caso haja, confira se o que está escrito descreve de forma satisfatória a imagem.
Confira se os vídeos apresentam legenda em português e janela de Libras – Língua Brasileira de Sinais.
E, por falar em Libras, todo conteúdo do site deve poder ser traduzido para este idioma, que é utilizado por pessoas surdas sinalizantes no Brasil. A tradução pode ser feita por intérpretes humanos ou por tradutores automáticos, como o da Hand Talk e do VLibras.
É importante destacar que todas essas iniciativas ajudarão você a verificar a acessibilidade mínima que um site deve ter. Há uma segunda etapa mais manual que mostrará se os textos estão escritos de maneira acessível, se a navegação está intuitiva, se as imagens estão adequadas, entre outros requisitos.
Mas, ao seguir as etapas que indicamos neste texto, você evitará muitos problemas futuros e desperdício de tempo e dinheiro. Se a agência ou o profissional que você contratar não tiverem capacitação nessa área, indicamos ainda que estudem a nossa série “Aprenda a fazer sites acessíveis desde o começo”, em que apresentamos todo passo a passo para se fazer um site acessível.
Confira:
E se mesmo assim precisar de mais ajuda, você pode contar com a equipe do Movimento Web para Todos! Acesse a página Nossos Serviços e saiba como podemos auxiliar nesse processo de transformação.
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