No dia 7/11, participamos do VIII Fórum da Internet no Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Essa foi a primeira vez que o Fórum discutiu acessibilidade digital. Foi assim que nasceu o nosso painel “Violações invisíveis: acessibilidade e dilemas da inclusão na Internet brasileira”.
Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, e Suzeli Rodrigues Damaceno, coordenadora do Movimento Web para Todos, conduziram o painel com a participação de representantes de diversos setores da sociedade: empresarial, governamental, terceiro setor e a comunidade científica e tecnológica.
O painel teve a colaboração do Eduardo Laurentino, cofundador do Tecs – Grupo de Computação Social da USP. Ele preparou o estudo “A acessibilidade digital e a governança da internet no Brasil” especialmente para ser usado como base do nosso encontro. O material mostra por que devemos adotar a acessibilidade digital como compromisso.
“Vemos, como solução, trabalhar a base de profissionais que estão desenvolvendo soluções web (desenvolvedores, conteudistas e designers). Estou militando como empresária social e líder do movimento para que as pessoas entendam e tenham essa consciência de que eles vão fazer toda a diferença na hora de fazer essa transformação social para uma web acessível”, disse Simone Freire durante o painel.
Como foi o painel
Se você não foi ao evento, não se preocupe! Destacamos três perguntas centrais e reunimos as respostas dos especialistas em tópicos para que você entenda melhor o cenário e os desafios da acessibilidade digital no Brasil. Confira o relatório completo sobre o painel no site do evento. Além disso, você pode assisti-lo, na íntegra, no canal do NIC.br.
Por que a web brasileira está longe de ser um ambiente acessível e inclusivo?
- Falta informação e conhecimento técnico por parte de quem desenvolve sites e aplicativos e das organizações;
- Falta empatia, convivência com a pessoa com deficiência. Ela ainda não é parte do nosso dia a dia;
- Falta interesse por parte das organizações em querer adaptar seus sites e aplicativos para que fiquem acessíveis. Há uma omissão evidente por parte de muitas organizações;
- Muitas organizações ainda estão com uma visão equivocada sobre o mercado como um todo e as oportunidades que oferece;
- Falta conhecimento e amadurecimento em relação às leis vigentes;
- Falta respeito ao outro;
- Falta investimento em pesquisa e maior integração da academia às demandas urgentes do mercado.
Quais são as oportunidades de mercado que vocês identificam que as organizações estejam perdendo devido à falta de acesso?
- O Brasil tem 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência; 1,3 bilhão de pessoas no mundo. Juntas, essas pessoas respondem por US$ 7 trilhões em poder de compra anual no mundo, dos quais pelo menos R$ 22 bilhões são no Brasil;
- Melhoria da usabilidade e da visibilidade nos canais digitais;
- Diferencial competitivo para os profissionais e organizações que têm essa visão;
- Há diversas oportunidades em todas as áreas para desenvolvimento de tecnologia, já que tudo está ficando cada vez mais digital;
- Criação de um novo sistema de ensino à distância que envolva tecnologia e novas metodologias de ensino, aprendizado e desenvolvimento de materiais digitais para que a pessoa com deficiência também seja incluída nesse universo;
- Criação de novo serviço de atendimento ao consumidor nos meios digitais.
Quais são as soluções para que esse cenário de falta de acesso seja revertido e a web seja o ambiente inclusivo que sempre deveria ter sido?
- Formação massiva da base de profissionais que desenvolvem e mantém aplicações web;
- O Governo ser cada vez mais permeável para que a sociedade, em especial os jovens, trabalhem de forma conjunta;
- Não esperar que a solução venha apenas do Governo, mas unir todos os setores para resolver os problemas;
- Incluir as pessoas com deficiência em todos os debates e projetos;
Parar de “fazer PARA as pessoas com deficiência” e passar a “fazer COM as pessoas com deficiência”; - Fortalecer a cultura de acessibilidade em tudo que é feito na internet, em todas as aplicações digitais;
- Pressionar o judiciário e o poder público para que as leis vigentes seja de fato aplicadas;
- Estimular que as pessoas denunciem mais os sites e aplicativos não acessíveis;
- Contratar mais pessoas com deficiência para ampliar o convívio e a empatia;
- Ampliar o número de organizações que tenham o Selo de Acessibilidade da SMPED, pois isso estimula a conscientização e o interesse em manter a acessibilidade permanente em seus sites.
Os participantes do painel
Representando o setor empresarial:
Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos e fundadora da Espiral Interativa.
Representando o setor governamental:
Ciro Pitangueira de Avelino, Secretário Adjunto da Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação, do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão;
Fabíola Calixto de Souza, Coordenadora de Tecnologia e Acessibilidade Digital – Prefeitura de São Paulo;
Representando o terceiro setor:
Sarah Barreto Marques Ribeiro, Secretária de acessibilidade e ajudas técnicas da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB);
Bárbara Simão, pesquisadora em telecomunicações e direitos digitais no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC).
Representando a comunidade científica e tecnológica:
Tiago Maritan, professor efetivo do Centro de Informática da Universidade Federal da Paraíba, pesquisador do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (LAViD) e coordenador do projeto Suite VLibras.
Moderadora:
Suzeli Rodrigues Damaceno, coordenadora do Movimento Web para Todos.
Relator:
Eduardo Laurentino, bacharelando do Instituto de Matemática e Estatística da USP – Universidade de São Paulo.