Líderes inspiradores enxergam além do seu dever com o negócio e com a sua equipe. São aqueles que têm plena consciência de sua responsabilidade social e entendem que, por meio de sua voz e de sua influência, podem contribuir para transformar positivamente a sociedade.
João Bezerra Leite é um deles. Engenheiro eletrônico formado pela Escola de Engenharia Mauá, com especializações na Columbia University, FGV, Singularity University, entre outras instituições, traz na bagagem mais de 30 anos de experiência como executivo nos segmentos de tecnologia, banking e payments.
Nomeado recentemente Embaixador do Web para Todos, sua relação com a temática da acessibilidade digital começou em 2015, quando liderava o time de Tecnologia da Informação de uma grande instituição financeira. “Na época, alguns dos meus analistas de sistemas que tinham deficiência visual fizeram provocações do tipo: ‘Queria muito me orgulhar de desenvolver aplicativos bancários que eu também pudesse utilizar’”, lembra.
Foi a partir desse momento que sua equipe estruturou um time de acessibilidade digital com o objetivo de trazer essa consciência para a instituição. “Assim, iniciamos a jornada de implantação do WCAG em todo o ciclo do desenvolvimento”, conta.
Neste bate-papo, Bezerra – que tem atuado como investidor, mentor e conselheiro em startups – fala sobre as barreiras de acesso, a falta de profissionais especializados e a importância de fazer parte do Movimento.
Movimento Web para Todos – Quais são, na sua opinião, as principais barreiras que ainda impedem as empresas de tornar sua presença digital acessível para as pessoas com deficiência?
João Bezerra – As três barreiras principais são: a desinformação (ignorância sobre o assunto), a falta de empatia e de estímulo de negócios (bom para as vendas).
Movimento Web para Todos – O que mais o incomoda diante da atual realidade de que menos de 1% dos sites brasileiros estão adequados para receber a visitação deste público?
João Bezerra – Primeiro, o que me incomoda são os milhões de brasileiros desassistidos e que poderiam ser incluídos no mundo digital. Segundo, a falta de visão das empresas. Essa é uma super oportunidade de negócios, que pode trazer um grande diferencial e ganhos incríveis de imagem para companhias conscientes e que apoiam a causa da diversidade.
Movimento Web para Todos – A falta de especialistas em acessibilidade digital é um dos grandes desafios para reverter esse cenário de exclusão. Que mensagem você gostaria de passar, principalmente para os profissionais de tecnologia, para que se desenvolvam também nessa área?
João Bezerra – Realmente é verdade. É um tema ainda pouco difundido e há pouquíssimos programas de formação. Atualmente, um analista que conheça acessibilidade digital, padrão WCAG, está muito valorizado no mercado. Portanto, para os profissionais de sistemas, esse é ainda um nicho muito interessante. E para instituições de ensino e empresas de tecnologia é uma oportunidade, porque, além do mais, acessibilidade digital em sites no Brasil é obrigatória por lei.
Movimento Web para Todos – Quais ações podem ser adotadas pelas empresas para que a acessibilidade digital seja colocada em prática no dia a dia da organização?
João Bezerra – Um trabalho de conscientização é muito importante. As pessoas não têm ideia da dificuldade que uma pessoa cega tem para navegar em um site. É importante disseminar o conhecimento do padrão WCAG para as equipes de tecnologia. E minimamente criar uma célula de acessibilidade digital encarregada de trabalhar as diretrizes de acessibilidade para o conteúdo da web.
Movimento Web para Todos – O que significa, para a sua vida, ser nomeado Embaixador do Movimento Web para Todos?
João Bezerra – Poder ajudar e também ser voz do Movimento Web para Todos é um orgulho, além de uma oportunidade de aprendizado. Há também a satisfação pessoal de fazer parte desse time e de ver pequenos passos iniciais acontecerem. Eles é que possibilitarão a aceleração da nossa curva de inclusão.