Desafios e caminhos para priorizar acessibilidade digital nas empresas


Captura de tela da 16ª reunião virtual da Liga Voluntária. Há 17 pessoas com câmeras abertas e sorrindo, e outras 7 com suas câmeras fechadas.
Captura de tela da reunião online da Liga Voluntária do WPT que aconteceu no dia 2 de outubro de 2024

Apesar dos avanços nas políticas de inclusão, a acessibilidade ainda é um desafio em muitas empresas. Em um mercado cada vez mais competitivo e atento às práticas de diversidade, a dificuldade de transformar o discurso em ação continua evidente. Mas o que impede que a acessibilidade – digital ou qualquer outra – seja de fato uma prioridade? E como as lideranças podem ser protagonistas nessa transformação? 

Mais do que uma questão de responsabilidade social, tornar os ambientes físico e digital acessíveis é uma estratégia que impacta diretamente na produtividade, no bem-estar e na inovação de toda a equipe. 

Neste texto, exploramos os obstáculos, reflexões e ações práticas para que a acessibilidade se torne uma realidade no dia a dia das organizações. Este conteúdo é fruto de um debate que tivemos na reunião da Liga Voluntária no dia 2 de outubro deste ano, que contou com a participação especial de Aline Morais e Rafael Públio, líderes na consultoria Santa Causa.

Acessibilidade ainda é um desafio nas empresas

É notável que há uma grande dificuldade de priorizar a acessibilidade – em qualquer um de seus aspectos – em projetos e programas, mesmo em organizações que reconhecem sua importância e que se dizem comprometidas com as práticas ESG (sigla, em inglês, para Environmental, Social and Governance; que pode ser traduzido para Ambiental, Social e Governança).

O desconhecimento ainda é um dos principais obstáculos. “Apesar de muitos avanços e informações disponíveis, a resistência ainda persiste em várias organizações. Isso nos mostra que é fundamental um processo contínuo de sensibilização”, comenta Simone Freire, idealizadora do WPT.

Também tem um papel crucial na promoção da acessibilidade o cumprimento das exigências legais, como a Lei Brasileira de Inclusão (LBI). Mas, como foi debatido na reunião, a fiscalização ainda é inconsistente, o que enfraquece o impacto dessas leis. Aline sugeriu que o incentivo a denúncias em massa poderia estimular avanços, ressaltando o papel do Ministério Público em casos de interesse coletivo.

Participantes da Liga também questionaram sobre o papel da liderança na implementação de iniciativas de acessibilidade. Para Rafael, “a priorização da acessibilidade depende do engajamento genuíno da liderança. Sem isso, dificilmente os projetos avançam.” 

A falta de continuidade das iniciativas após a saída de líderes engajados revela a necessidade de uma mudança cultural mais profunda, onde a acessibilidade seja institucionalizada e não dependa apenas de poucas pessoas ou de um departamento.

Educação e inclusão: um caminho para o futuro

Outro ponto de destaque na conversa foi a importância de inserir a acessibilidade como um tema obrigatório nas universidades. A ideia de inclui-lo no currículo de cursos como comunicação e arquitetura surgiu durante a regulamentação da LBI, mas não foi adiante. 

A Liga acabou de formar um Grupo de Estudos focado em buscar soluções para expandir o tema da acessibilidade digital nas universidades, visando criar um impacto duradouro no ensino superior. “Estamos com ótimas expectativas sobre os resultados que este grupo vai gerar, pois temos ali docentes e outros perfis de profissionais de diversas regiões do país. Essa diversidade é uma baita riqueza que temos”, afirma Simone.

Rafael complementou dizendo que “a integração do tema de acessibilidade nas universidades é essencial para formar profissionais mais conscientes para criar ambientes e experiências inclusivas desde o início de suas carreiras.” Essa iniciativa poderia ser o início de uma mudança significativa no mercado de trabalho, onde a acessibilidade seja um pilar desde a formação dos profissionais.

Inteligência artificial e acessibilidade digital: desafios e oportunidades

Na reunião também foram trazidos à tona os desafios da aplicação de inteligência artificial (IA) para melhorar a acessibilidade. Claudemir Silva, um dos participantes da Liga, compartilhou experiências de sua empresa, que está testando o uso de IA para automatizar processos de acessibilidade digital. No entanto, Rafael alertou sobre os riscos de a IA reproduzir preconceitos presentes nas bases de dados e reforçou a necessidade de um olhar humano sobre essas tecnologias.

Aline complementou a discussão ao afirmar que “a inteligência artificial pode ser uma grande aliada, mas é fundamental garantir que seu uso realmente promova a inclusão, e não reforce exclusões já existentes.”

Acessibilidade em plataformas de recrutamento: um paradoxo a ser superado

Mileide Silva, outra colega da Liga, trouxe uma reflexão importante sobre a acessibilidade de sites de recrutamento. Ela observou que muitos desses sites, apesar de promoverem a inclusão, ainda apresentam diversas barreiras de acessibilidade digital, o que dificulta ou até impede uma pessoa com deficiência de aplicar para determinadas vagas.

Essa contradição entre discurso e prática é um lembrete de que a acessibilidade deve ser parte integral da estratégia de qualquer organização que realmente se compromete com a inclusão. “É responsabilidade da empresa dona da vaga garantir que seu processo seletivo seja acessível e inclusivo, cabe a ela exigir isso das plataformas de recrutamento, é a imagem dela que está em jogo”, reforça Simone. 


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