Comunicação interna digital com acessibilidade é obrigação legal e ética das empresas


Foto das mãos de uma pessoa segurando um smartphone. Na tela há ícones de pessoas. Há figuras estilizadas sobrepostas na foto de perfis humanos conectadas por linhas brancas, simbolizando uma rede. O fundo contém objetos desfocados, como um caderno, uma caneta e uma xícara de café.

Imagine você como profissional com cegueira ou baixa visão que deseja acessar o sistema de Recursos Humanos (RH) da empresa onde trabalha para solicitar férias e percebe que ele não funciona com seu leitor de tela. Ou, então, recebe um comunicado importante da diretoria por e-mail em formato de imagem sem descrição. 

Agora, imagine que é uma pessoa autista e em seu caminho há uma TV corporativa com vídeos intermitentes cheios de estímulos visuais, sem legendas ou avisos prévios. Você poderia ser, também, alguém com mobilidade reduzida dos membros superiores e que precisasse preencher uma pesquisa de clima que exigisse apenas comandos de mouse e cliques precisos.

Estes exemplos podem ser hipotéticos para você, mas, infelizmente, é real para milhões de profissionais com diferentes tipos de deficiência que trabalham em organizações no Brasil e mundo afora. Por isso, equipes de RH e de comunicação devem trabalhar juntas no planejamento e adequação de todos os canais digitais internos para que não haja barreiras de acessibilidade comunicacional no ambiente de trabalho.

Se essa realidade faz parte do seu trabalho ou de pessoas que você conhece, essa matéria vai ajudar muito! Nela, abordamos conceitos e dicas práticas para tornar a comunicação interna das organizações em geral mais inclusiva e acessível para todas as pessoas.

Afinal, o que é acessibilidade digital?

Acessibilidade digital é a garantia de que qualquer pessoa, independentemente de suas habilidades ou limitações, possa acessar, compreender e interagir com conteúdos e sistemas digitais. Isso envolve desde aspectos técnicos (como compatibilidade com tecnologias assistivas) até questões de linguagem (uso de textos claros, simples e objetivos).

Quando falamos de comunicação interna, isso significa garantir que todos os canais digitais usados para informar, engajar ou orientar colaboradores e colaboradoras estejam acessíveis.

Por que isso importa na comunicação interna?

A comunicação é uma “ponte” entre a organização e as pessoas que fazem parte dela. Continuando nesta mesma analogia, se essa ponte está cheia de barreiras, excluímos talentos, minamos o engajamento e, muitas vezes, desrespeitam os direitos humanos. Tornar a comunicação interna acessível é uma etapa essencial para construir ambientes de trabalho mais inclusivos, diversos e colaborativos.

Além disso, a acessibilidade é prevista por lei. No Brasil, a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) estabelece que os ambientes digitais — como sites, portais, sistemas e aplicativos — devem ser acessíveis, promovendo igualdade de oportunidades para todas as pessoas.

É comum haver confusão com a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/1991), que exige que empresas com 100 ou mais funcionários e funcionárias contratem uma porcentagem de pessoas com deficiência. No entanto, essa lei trata da inserção no mercado de trabalho, e não aborda diretamente a acessibilidade digital. 

Ou seja, não basta contratar. É preciso garantir que essas pessoas tenham acesso real aos sistemas e canais de comunicação da empresa. A LBI complementa esse cenário ao reforçar que a acessibilidade é um direito e uma responsabilidade compartilhada por todas as organizações.

Quais canais devem ser acessíveis?

Todos!

Profissionais de comunicação muitas vezes concentram esforços em redes sociais e websites, mas se esquecem dos canais internos. A acessibilidade deve estar presente em TVs corporativas; sistemas de intranet, RH e de gestão de projetos; comunicados enviados por e-mails, WhatsApp; formulários de pesquisa de clima, entre outros.

Todos eles devem considerar contraste adequado entre fundo de tela e letras, textos legíveis, compreensíveis e inclusivos, vídeos legendados e com audiodescrição (quando houver), estrutura clara, navegação intuitiva, compatibilidade com tecnologias assistivas, acessibilidade via teclado, imagens com descrições, entre outras diretrizes de acessibilidade digital.

É preciso, também, tomar cuidado com o uso de emojis, figurinhas ou outros tipos de imagens com ironia, pois podem não ser compreendidos por todas as pessoas. 

7 dicas para tornar a comunicação interna mais acessível

A boa notícia é que acessibilidade digital não precisa ser complexa. Ela exige atenção, planejamento e vontade de fazer diferente, de realmente querer que todas as pessoas colaboradoras sintam-se parte da organização. 

Seguem algumas dicas práticas de como conduzir esse processo de adequação dos canais digitais internos:

1. Mapeie os canais e formatos utilizados

Liste todos os canais digitais de comunicação interna da organização e identifique quais conteúdos circulam por eles. Isso ajuda a entender onde estão os principais pontos de atenção.

2. Forme um time ou comitê diverso

Inclua pessoas com deficiência, profissionais de tecnologia, RH e comunicação. As diferentes perspectivas de um grupo com características diversas ampliam a percepção sobre barreiras que podem passar despercebidas.

3. Adote a linguagem simples e inclusiva

Evite jargões, siglas sem explicação, frases longas ou rebuscadas. Uma comunicação clara beneficia todas as pessoas é um dos pilares da acessibilidade. É possível ampliar ainda mais o engajamento do público interno ao agregar linguagem inclusiva em todas as comunicações. 

4. Use ferramentas que testam acessibilidade

Há recursos gratuitos que ajudam a avaliar contrastes de cores, navegabilidade por teclado e estrutura de textos. Ferramentas como o Lighthouse ou o Color Contrast Analyzer são bons pontos de partida. É possível conferir itens básicos aplicando estes 10 testes rápidos de acessibilidade para fazer em sites e aplicativos.

5. Garanta alternativas para diferentes formatos

Se o conteúdo for em vídeo, inclua legendas e janela de Libras. Se for imagem, insira texto alternativo que a descreva de forma objetiva e clara. Evite depender de apenas um meio (por exemplo, só áudio ou só visual).

6. Treine as equipes envolvidas

Equipes de design, redação, desenvolvimento e de gestão de conteúdo precisam estar conscientes e capacitadas para aplicar os princípios de acessibilidade digital no dia a dia.

7. Crie uma política de acessibilidade

Formalize os princípios que guiarão a produção de conteúdo acessível na comunicação interna. Isso ajuda a manter a consistência mesmo com mudanças de equipe.

Acessibilidade é inclusão na prática

Ser acessível é ir além do discurso. É garantir que toda e qualquer pessoa – com ou sem deficiência, com diferentes níveis de letramento digital, fluência em leitura ou velocidade de interpretação – consiga participar plenamente do ambiente corporativo.

É hora de parar de pensar que acessibilidade é algo “para depois” ou “para um público específico”. A acessibilidade digital é para todas as pessoas. E começa com pequenas mudanças nas escolhas que fazemos todos os dias.

E lembre-se: você pode contar com o apoio da equipe do Web para Todos nessa jornada de transformação. Além de todos os conteúdos educativos gratuitos em nosso site e em nossos perfis nas redes sociais, possuímos uma vasta rede de especialistas com e sem deficiência treinada para ajudar organizações de todos os setores e portes a se adequar às normas de acessibilidade internacionais e nacionais, entre elas a recém-lançada ABNT NBR 17225. É só enviar um e-mail para contato@mwpt.com.br solicitando uma conversa sobre isso.


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