Barreiras digitais enfrentadas por uma pessoa com baixa visão no ambiente de trabalho


Foto em close do Carlos Barbosa. Ele é homem branco, cabelos curtos e loiros, barba e bigode castanhos claros. Usa óculos de sol com armação quadrada pequena e veste camisa preta estampada com com folhas brancas. Atrás dele há parte da fachada do Congresso Nacional, em Brasília.

Por Rodrigo Souza*

São inúmeras as dificuldades que pessoas com deficiência visual precisam enfrentar desde a infância até a vida adulta. A falta de acessibilidade em ambientes físicos e digitais ainda é uma barreira recorrente no dia a dia de diversas pessoas. No ambiente de trabalho essa realidade não é diferente.

Carlos Barbosa, 29 anos, passou grande parte da sua infância em um orfanato em Salvador (BA) até ser adotado pelo pedagogo Aroldo Barbosa da Silva, que trabalhava na instituição. E foi ainda criança, que as primeiras dificuldades de enxergar começaram a surgir. Ainda na infância, Carlos foi encaminhado para o Instituto de Cegos da Bahia (ICB). Na instituição, ele começou o processo de alfabetização e foi também neste período que o jovem passou a ter mais conhecimento sobre a baixa visão.

Esse processo foi transformador tanto para Carlos quanto para seu pai, que começou a lidar com os desafios diários do filho no sistema educacional tradicional e decidiu seguir carreira como Educador de pessoas com deficiência visual.

Quando começou a frequentar a escola regular, Carlos precisou criar os próprios métodos para acompanhar os colegas de classe. “Durante toda a minha vida eu tive que me adaptar, sou formado Música e na faculdade não tinha acessibilidade, eu mesmo fazia minhas adaptações. Tenho uma memória e uma mente muito aguçada”, comenta.

De lá para cá pouca coisa mudou, pois há sete meses Carlos trabalha em um grande banco nacional, mas continua criando as próprias estratégias para poder vencer as barreiras da falta de acessibilidade no sistema da empresa.

“Eu trabalho com atendimento ao público, ajudo os clientes nos caixas eletrônicos e, também, em toda a agência. Como eu lido com o atendimento ao cliente, eu quero que eles se sintam confortáveis. Então eu criei um método para gravar todas as figuras das máquinas, pois eu não consigo ler nada. Eu também gravei as posições de todas as máquinas”, pontua o bancário.

Além dos caixas eletrônicos, Carlos também conta que todo o sistema do banco não dispõe de acessibilidade para que ele possa exercer seu trabalho. “O sistema do banco é padronizado, não tem recurso de aumentar a letra. Quando eu cheguei lá eu sofri muito, pois tinha que explicar para eles que eu não sou cego, eu enxergo. O que eu tenho é baixa visão e muitas pessoas não entendem”, lamenta.

A BAIXA VISÃO

Frequentemente confundida com a cegueira, a baixa visão é uma condição que está entre a cegueira e a possibilidade de ver. Pessoas com baixa visão possuem limitação severa de visualidade e dificuldades de enxergar, mas ainda assim, possuem resíduo visual. Entretanto, muitas vezes precisam do suporte da bengala e do cão-guia para se locomover e também do apoio de tecnologias assistivas para terem independência e autonomia plena. Para ser considerado baixa visão é necessário ter uma acuidade visual inferior a 30%. Além disso, a baixa visão não pode ser corrigida por óculos convencionais, lentes de contato, medicação ou cirurgia.

“Algumas pessoas acham que eu sou míope e pensam que os óculos irão resolver, mas é difícil porque ninguém entende. Eu me cadastrei nessa vaga pelo site do banco, o site é acessível. Mas o problema é o sistema, o meu chefe já tentou de tudo”.

LIGA VOLUNTÁRIA

Carlos também é membro da Liga Voluntária do Movimento Web Para Todos e contribui ativamente para a transformação da web brasileira em um ambiente mais inclusivo por meio de suas experiências.

“Eu sou bastante ativo nas redes sociais, inclusive no Instagram. Eu consigo observar todos os detalhes da foto aproximando a tela do celular no meu rosto, mas se tem a descrição de imagem na postagem é um apoio ainda maior que tenho”.

Dessa forma, fica evidente que a falta de conhecimento da sociedade sobre a baixa visão influencia de forma direta na ausência de iniciativas de acessibilidade. Assim, Carlos é apenas um entre tantos profissionais que apenas precisam de um ambiente digital mais inclusivo para exercer seu trabalho com ainda mais competência. Ganha a empresa, o colaborador e os clientes, ou seja, todos saem ganhando.

*Rodrigo Souza é jornalista e um dos voluntários do Movimento Web para Todos.


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