Barreiras de navegação enfrentadas por pessoas neurodiversas na web


Foto de perfil de um jovem branco com cabelos loiros em ambiente externo. Ele olha atentamente para um tablet e toca a tela com seus dedos.
É preciso entender a experiência de navegação de pessoas neurodiversas para projetar com acessibilidade.

Nossa equipe recebe muitas dúvidas relacionadas à acessibilidade com foco nas pessoas neurodiversas. Quais são as melhores práticas para incluir este público no digital? Quais as barreiras mais comuns? Como tornar a comunicação mais inclusiva? São algumas das perguntas que chegam até a gente.

Compilamos uma série de dicas bacanas com base em artigos publicados na web e aqui mesmo no Web para Todos para ajudar nossa rede nesse desafio. Vale sempre reforçar que, ao adotar as melhores práticas para acessibilizar conteúdos de qualquer natureza, estamos também tornando a experiência melhor para todo mundo, e não só pessoas com algum tipo específico de deficiência.

Entendendo a experiência de pessoas neurodiversas

A Talita Pagani, especialista em acessibilidade digital e uma de nossas embaixadoras, explica que é difícil generalizar dificuldades que afetam pessoas com diferentes deficiências cognitivas, mas existem alguns pontos em comum. “Por exemplo: palavras escritas de forma incorreta, ou usando jargões e gírias, podem gerar dificuldade de compreensão do conteúdo para pessoas com déficit de atenção, dislexia, autismo e deficiências de aprendizagem”, comenta. Já páginas que contenham uma estrutura complexa, com muitas ações a serem tomadas, grande volume de conteúdo e banners rotativos, podem causar uma “sobrecarga” cognitiva para estes mesmos transtornos. Então, não precisamos de muito esforço para entender que páginas simples, com poucos elementos, são desejáveis para incluir esse grupo de pessoas.

A verdade é que aborda-se pouco a acessibilidade digital com foco nas pessoas neurodiversas. Infelizmente, por falta de conhecimento, a atenção de quem trabalha com a temática está mais voltada para quem não enxerga ou não escuta. “Mas a acessibilidade é uma questão de conteúdo adequado, de as pessoas conseguirem compreender o que está na tela, de não se sentirem desconfortáveis, de terem suporte caso não entendam algum número, termo, porcentagem”, enfatiza a especialista.

E aí? Bora mudar essa realidade e entender um pouco mais sobre como tornar seu conteúdo acessível também para essa importante parcela da população? 

Previsibilidade

Garanta que a navegação é estável por todo o site ou app. Ou seja, menus que não mudam de lugar, elementos importantes permanecem estáticos para navegação de pessoas que podem ter alguma dificuldade de compreensão e necessitam de previsibilidade, por exemplo.  Na prática, a pessoa deve saber onde ela está e até qual lugar pode ir na aplicação. Sempre que possível, forneça instruções sobre os próximos passos em uma tarefa que dependa de várias etapas, como cadastros.

Adaptabilidade 

É importante que a página permaneça legível e funcional em um zoom de tela que possa chegar a 300% – os textos devem se ajustar adequadamente! As imagens também devem permanecer legíveis (é comum elas “pixelizarem” quando o zoom é aplicado). Outra dica importante nessa frente de adaptabilidade é garantir que as imagens estejam com texto alternativo, para o caso de a conexão cair e a página carregar no modo offline. 

Multiformatos

Para atender o maior número de pessoas neurodiversas, é essencial que a informação seja apresentada em mais de uma forma. Um ícone nem sempre é uma representação óbvia de uma ação ou conteúdo, assim como um rótulo de botão pode ser mais difícil de compreender caso a pessoa tenha alguma dificuldade com escrita.

Quando tiver botões, ações e opções de menu com rótulos descritivos, sempre que possível, utilize um ícone com esses conteúdos ou também uma representação em áudio. O uso de ícones é mais comum. Esse recurso fornece uma representação mais diversificada da mesma informação, atende pessoas com autismo com habilidades distintas e facilita a memorização e reconhecimento. 

Estrutura e foco

Pessoas neurodiversas costumam apresentar dificuldades de concentração. Uma prática para eliminar esse tipo de barreira na experiência é usar espaços com grande respiro de tela – ou seja, pouco texto e uma imagem impactante ladeada por um espaço em branco. Isso ajudará a concentrar o foco no que é mais importante naquele bloco da página.

Convém evitar distrações com muitas animações, vídeos que são reproduzidos automaticamente, cores piscando e fundos de tela poluídos. Importante também atentar para o uso de pop-ups e elementos que se movem pela tela – recursos que certamente podem desencadear grandes frustrações em pessoas neurodiversas.

O uso excessivo de estilos diferenciados de fontes e recursos de diferenciação (como negrito, itálico, caixa alta etc) também pode prejudicar a experiência de navegação deste público. Então, avalie se realmente é necessário no contexto da página essas diferenciações. 

Lembre-se também que palavras não usuais são péssimas para qualquer pessoa. Além de prejudicarem a compreensão do avatar de Libras, podem impactar na compreensão de pessoas com dificuldade de aprendizado e outras questões cognitivas. E mais: evitar jargões, abreviações, palavras em outro idioma e termos técnicos devem estar na lista de prioridade quando você for produzir um conteúdo que pretenda incluir pessoas neurodiversas. 

Controle é fundamental

A lista de recomendações não para aí. Aspectos ligados ao controle da ação e à orientação espacial no ambiente virtual também são de extrema importância quando estamos incluindo pessoas neurodiversas. Alguns exemplos? Evitar recarregamento automático da página – isso pode afetar drasticamente a experiência de pessoas autistas, por exemplo. O mesmo com redirecionamento para páginas, sem informar que a pessoa sairá daquele link. 

Mensagens de erro inconsistentes também podem  influenciar negativamente a navegação deste público. É importante rever as mensagens e entender se elas estão, de fato, explicando o erro e direcionando as pessoas para um cenário de resolução. E, não menos importante, devemos sempre considerar múltiplas formas de se chegar a um conteúdo, oferecendo alternativas como menus objetivos e informativos, ferramenta de busca visível na aplicação e mapa do site. 

Seguindo essas e tantas outras regrinhas de acessibilidade que a gente compartilha constantemente em nosso site e nas nossas redes sociais, você estará contribuindo para a criação de uma sociedade digital muito mais acessível para todas as pessoas, incluindo as que possuem deficiências, transtornos ou síndromes como dislexia, autismo, síndrome de Down, discalculia, disgrafia, déficit de atenção de hiperatividade, demência, deficiências de aprendizagem em geral e muitas outras! Vamos começar?


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