Acessibilidade cognitiva: como avaliar e melhorar experiências no digital


Ilustração de um grupo de pessoas colaborando na criação de um site, com elementos visuais de design, codificação e construção.

*Tradução e adaptação feita por Eli Maciel

Você já parou para pensar em como uma página da web pode ser confusa, sobrecarregada ou difícil de entender, mesmo sem conter erros técnicos? Para muitas pessoas com deficiências cognitivas, esse tipo de experiência é comum. A acessibilidade cognitiva ainda é pouco debatida, mas tem um papel fundamental na construção de ambientes digitais verdadeiramente inclusivos. 

Neste artigo, traduzido e adaptado do site da WebAim, você vai entender o que é acessibilidade cognitiva, por que ela importa e como avaliá-la de forma eficaz, com empatia, escuta ativa e atenção à experiência real de quem navega.

Vamos lá?

Por que pensar em acessibilidade cognitiva?

Quando falamos de acessibilidade digital, é comum pensarmos em leitores de tela, contrastes de cor ou navegação por teclado. Mas há outro aspecto igualmente importante e muitas vezes negligenciado: a acessibilidade cognitiva. 

Ela se refere à forma como pessoas com deficiências cognitivas (como dislexia, TDAH, deficiências intelectuais ou limitações temporárias de memória e concentração) acessam, compreendem e interagem com conteúdos online.

Segundo o WebAIM, esse grupo de pessoas é extremamente diverso, o que exige abordagens personalizadas, empáticas e centradas na experiência real de quem navega na internet.

Pessoas com deficiências cognitivas frequentemente encontram dificuldades como:

  • Textos longos e complexos, com vocabulário técnico ou estrutura confusa;
  • Informações sobrecarregadas, com muitos elementos visuais ou múltiplas tarefas na mesma tela;
  • Instruções pouco claras em formulários ou interfaces interativas;
  • Mudanças inesperadas de contexto, como redirecionamentos automáticos ou pop-ups;
  • Limitações de tempo, que dificultam a leitura ou conclusão de tarefas.

Esses obstáculos não afetam apenas pessoas com deficiência: também impactam quem sente cansaço, quem está aprendendo um novo idioma ou acessando a internet em condições adversas. Tornar o digital mais acessível para esse público é, portanto, uma prática de usabilidade universal.

Mas como avaliar a acessibilidade cognitiva?

Avaliar esse tipo de acessibilidade pode ser desafiador porque não existe uma única lista de verificação que atenda todos os casos. Mas há diretrizes e boas práticas que ajudam bastante:

1. Envolva pessoas com deficiência cognitiva nos testes de usabilidade

A melhor maneira de entender as dificuldades reais é falar com quem enfrenta as barreiras. Testes com pessoas diversas revelam limitações que muitas vezes passam despercebidas em avaliações automatizadas ou feitas apenas por equipes técnicas.

2. Observe e registre comportamentos

Durante os testes, perceba onde há hesitação, confusão ou abandono de tarefas. Questione: o conteúdo é claro? O caminho até o objetivo está lógico? A pessoa conseguiu completar a tarefa com autonomia?

3. Analise a linguagem

A linguagem simples e direta é essencial. Evite jargões, metáforas complexas e frases muito longas. Prefira listas com marcadores, verbos na voz ativa e explicações etapa por etapa.

4. Verifique a previsibilidade da navegação

A navegação deve ser consistente em todas as páginas, com menus, botões e links sempre nos mesmos lugares. Mudanças bruscas ou não anunciadas de layout ou funcionalidade confundem a pessoa usuária.

5. Teste a flexibilidade do tempo e da atenção

Evite limite de tempo para completar ações, ou ofereça opções de extensão. Reduza distrações visuais e sonoras. Ofereça foco automático em campos de formulários apenas quando isso fizer sentido.

Diretrizes que podem ajudar

As WCAG (Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web) trazem critérios que, mesmo não sendo exclusivos para acessibilidade cognitiva, contribuem muito para esse aspecto.

Criar experiências digitais que respeitam a diversidade cognitiva não é apenas uma obrigação legal ou técnica. É um compromisso com a inclusão. Ao facilitar o acesso à informação e à tecnologia, permitimos que milhões de pessoas participem plenamente da sociedade digital.

Como destaca o WebAIM, avaliar a acessibilidade cognitiva exige mais do que seguir diretrizes técnicas – requer compreensão, flexibilidade e, acima de tudo, empatia. E é com essa empatia que podemos transformar a web em um espaço verdadeiramente para todas as pessoas.

Fonte: Este artigo é uma adaptação do conteúdo publicado originalmente pelo WebAIM, organização referência internacional em acessibilidade digital. A versão em português busca contextualizar o tema para o público brasileiro e fomentar práticas mais inclusivas na web. 

*Eli Maciel é especialista em acessibilidade digital e comunicação inclusiva, mobilizadora e voluntária do Movimento Web para Todos.


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