O Movimento Web para Todos acaba de concluir mais um ano intenso de mobilização em prol da promoção de uma sociedade digital mais inclusiva para todas as pessoas. Muita gente impactada pelas atividades nessa frente de trabalho decidiu ir mais a fundo ampliando seus estudos sobre acessibilidade digital com o apoio de nossa equipe. E, depois de aprenderem mais a respeito, muitas delas partiram para a ação, ou seja, para a transformação de seus canais digitais em plataformas mais acessíveis.
É exatamente esse movimento que desejamos manter para que pessoas com necessidade de acessibilidade, principalmente as que têm deficiência, possam usufruir de todos os benefícios que a web nos oferece. Apesar de ainda termos apenas 2,9% dos sites ativos no Brasil minimamente acessíveis a elas, comemoramos o salto de 190% neste índice desde a primeira edição do estudo em 2019.
“Acreditamos fortemente que nos próximos 12 meses teremos avançado muito mais porque o resultado desse trabalho coletivo pela acessibilidade digital é exponencial”, afirma Simone Freire, idealizadora do Web para Todos. “Um dos grandes papéis do Movimento é estimular a causa da acessibilidade digital nas organizações, na rotina de profissionais de desenvolvimento, design e comunicação, e também nas pessoas com as mais variadas deficiências que fazem parte da nossa rede, que cresce diariamente”, comemora Simone.
Confira a seguir um resumo das principais atividades conduzidas pela equipe do Movimento durante seu sétimo ano em operação.
Mobilização
“Acessibilidade digital não é opção. É direito!”
Este foi o lema da campanha deste ano que fizemos para celebrar o Dia Mundial de Conscientização sobre Acessibilidade (Global Accessibility Awareness Day – GAAD, em inglês), e que de certa forma guiou as ações nesta nossa frente de trabalho. O objetivo foi ressaltar que a acessibilidade não é uma etapa do desenvolvimento do projeto que pode ser contemplada apenas depois que o produto ou serviço digital for lançado ao mercado. Ao invés disso, a acessibilidade deve fazer parte do projeto desde sua fase de concepção.
Durante o mês de maio foram publicados em nossos perfis de redes sociais 20 depoimentos de pessoas com deficiência da nossa Liga Voluntária que compartilharam exemplos de barreiras que enfrentam diariamente no universo digital.
Além disso, foram divulgados diversos materiais educativos direcionados especificamente para pessoas leigas aprenderem mais sobre o tema. “Quanto mais pessoas souberem da importância da acessibilidade digital, maior é o potencial de transformação. Precisamos popularizar cada vez mais esse assunto”, explica Simone.
Neste aspecto, a Liga Voluntária do Web para Todos tem um papel ainda mais relevante. Já são cerca de 130 pessoas unidas por esta causa, dos mais diversos perfis e de diferentes localidades do Brasil. Elas se reúnem bimestralmente para trocarem experiências e debaterem sobre ideias para agilizar a transformação que tanto desejamos no universo online. Essa conversa é estendida para o grupo do WhatsApp.
Fora isso, elas participam ativamente de projetos produzindo textos informativos sobre os mais diversos aspectos da acessibilidade digital; desenvolvendo campanhas de conscientização pelo WPT e nas organizações onde trabalham, entre outras ações.
Ainda nesta frente de Mobilização do Movimento, ministramos palestras em empresas, como a Uber, ANAC e Globo; participamos de programas como TV Gazeta, DiverCidade e Inclunet; além de lives especiais, incluindo na Cognizant e no Link Festival Digital de Acessibilidade.
Promovemos também um painel sobre mercado de trabalho em acessibilidade digital, fruto de uma parceria com o Google, Organização Nacional de Cegos do Brasil e Programa Ágora, da Fundación ONCE Latinoamérica.
Educação
Conscientização com aprendizado prático
Estas mesmas organizações se juntaram para lançar a 2ª edição do curso introdutório de qualidade em acessibilidade digital para pessoas com cegueira e baixa visão. A iniciativa foi criada a partir do nosso desejo de contribuir efetivamente para o desenvolvimento técnico dessas pessoas e ampliar as oportunidades de empregabilidade desse público.
Este curso tem fila de espera e tem sido muito bem-sucedido. Um de nossos objetivos é ampliar a oferta para módulos mais avançados, permitindo que essas pessoas continuem seu processo de desenvolvimento nesta área.
No meio acadêmico, estudantes do curso de Tecnologia de Sistemas da Informação, da unidade Santo Amaro do Centro Universitário do Senac, e de Design, da ESPM São Paulo, receberam aulas especiais sobre acessibilidade digital ligada ao universo de cada disciplina.
“Precisamos expandir mais rapidamente esse tema nas universidades, transversalizando todas as disciplinas, pois todas lidam de alguma forma com o meio digital. É ali que tudo se inicia. Se essas turmas de jovens já saíssem das escolas para o mercado com essa consciência, não temos dúvida de que o universo online estaria muito mais acessível do que hoje”, pondera Suzeli Damaceno, coordenadora do Movimento e uma das instrutoras especialistas dos nossos cursos.
Pensando nisso, será criado um grupo de estudos dentro da Liga Voluntária focado em debater soluções para ampliarmos o acesso ao tema da acessibilidade nas universidades brasileiras. Aliás, este deverá ser o primeiro de vários grupos temáticos da Liga que serão lançados a partir do próximo ano.
Nas escolas da rede pública, levamos o assunto por meio de um capítulo do livro “Mídias Educativas e Impacto Social: as redes do Futura na era da comunicação de causas”, organizado e lançado pelo Canal Futura, uma de nossas organizações parceiras.
No meio empresarial, o interesse por oficinas de acessibilidade cresce a cada dia. Só neste ano, nossa equipe ministrou cursos práticos para a Rede Globo, Brazil Foundation, Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC e Senac, alguns feitos em parceria com a Espiral Interativa, principal mantenedora do Movimento.
Numa frente educativa mais popular, acabamos de lançar um canal no Spotify para abarcar todos os episódios do programa UX da Inclusão, iniciativa da Rádio ONCB, da Organização Nacional de Cegos do Brasil, e do Movimento Web para Todos.
O programa é veiculado desde 2019 na Rádio ONCB, como parte da programação diária. Os episódios têm cerca de dois minutos de duração cada, contendo dicas de acessibilidade. Estão em linguagem simples e acessível, além de contarem com a transcrição do áudio na área de descrição do episódio.
Transformação
A caminhada pode ser longa, mas não pode parar
Pelo sexto ano consecutivo, apoiamos o Campus Mobile, concurso de ideias e soluções para mobile voltado para quem está cursando a universidade, acabou de se formar ou está fazendo mestrado e/ou doutorado. O concurso é realizado pela LSITEC e tem o Instituto Claro como empresa patrocinadora.
“É muito bacana acompanhar o amadurecimento das equipes a cada ano do ponto de vista da acessibilidade digital. No começo, precisávamos de um esforço grande de conscientização e convencimento sobre a importância de considerar acessibilidade desde a fase inicial do projeto. Na edição deste ano, todos os projetos consideraram isso”, comemora Suzeli, que integra a banca de avaliação da iniciativa.
Este ano, encerramos o programa de letramento digital para pessoas ligadas à Associação Olha o Chico, de Piaçabuçu, em Alagoas, idealizado e financiado pela Iveco. Após a aplicação do curso, Simone Freire e Suzeli Damaceno continuaram em contato com a ONG até maio passado dando suporte, quando necessário, e estimulando a troca e o fomento de novas ideias.
Para concluir as atividades realizadas nestes últimos 12 meses na frente de Transformação, citamos o estudo de acessibilidade em sites ativos do Brasil, realizado em parceria com a BigDataCorp, e nossa participação na produção da nova norma ABNT para aplicações acessíveis, que deve ser lançada em breve.
Essas duas iniciativas se completam, de alguma forma. Uma mostra o triste cenário de exclusão no mundo online, destacando que apenas 2,9% dos sites ativos do país atendem aos requisitos mínimos de acessibilidade. Por outro lado, a nova norma traz esperança para mudar essa situação, já que pretende facilitar o entendimento sobre a aplicação das diretrizes de acessibilidade adotadas no mundo todo.
“Este é o papel do Movimento: chamar a atenção da sociedade para o problema, mostrar possíveis soluções e apoiar as organizações nesta jornada de transformação. Celebramos muito estes nossos sete anos e agradecemos a todas as pessoas que estão conosco neste processo. Quando atuamos em conjunto, fica tudo mais forte e sustentável”, finaliza Simone.