Acabamos de encerrar o sexto ano de atividades do Movimento Web para Todos em prol da promoção de uma sociedade digital mais inclusiva para todas as pessoas. Neste período, realizamos dezenas de encontros virtuais e presenciais com organizações parceiras, clientes e especialistas dos mais variados setores, ampliamos ainda mais a nossa rede de voluntariado, a Liga Voluntária, e também atuamos bem mais próximos a órgãos do Governo dispostos a ampliar a acessibilidade em seus canais digitais.
“Foi um ano muito desafiador em termos operacionais, principalmente devido ao fato de nossa atuação ter se expandido para outras áreas além das que atuamos tradicionalmente (Comunicação, Marketing e Tecnologia)”, comenta Simone Freire, idealizadora do MWPT, acrescentando que Compliance, Sustentabilidade, Diversidade e Inclusão foram, no ano encerrado, grandes novos demandantes dos serviços oferecidos pelo Movimento.
A ampliação de alianças estratégicas com organizações de altíssimo poder de impacto também marcou o período, resultando em projetos transformadores com órgãos variados do Governo, além de parceiras como Globo, Greenpeace, Amazon e Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB). “Nossa rede vem se consolidando como o principal hub de conteúdo e serviços de acessibilidade digital do País”, afirma Simone.
Neste último ano, conscientizamos diretamente milhares de pessoas sobre a importância de criarmos uma sociedade digital mais inclusiva. Foram realizadas dezenas de palestras e rodas de conversa para organizações como Caixa Econômica Federal, Liberty Seguros, Suzano, Fundação Bunge, De Ônibus, Ultragaz e Vivara, entre outras.
Também produzimos um estudo inédito em parceria com a HandTalk, uma de nossas principais apoiadoras institucionais. O objetivo foi entender com mais profundidade os principais desafios que permeiam a priorização da acessibilidade digital no mercado, a percepção das pessoas com deficiência a respeito dessa temática e o que especialistas entendem em relação aos avanços que a sociedade fez e que ainda precisa fazer para tornar o ambiente web de fato inclusiva.
O resultado parcial da pesquisa foi apresentado em agosto, durante o Link Festival de Acessibilidade Digital, promovido pela HandTalk. Além de nossa participação neste evento, também marcamos presença no Digitalks, no E-commerce Brasil e no Futech Summit.
Já nas ações educativas foram desenvolvidos projetos incríveis de capacitação em parceria com a maior parte das marcas citadas anteriormente. Uma delas envolveu a ONCB e o Programa Ágora Brasil: o “Curso de qualidade em acessibilidade digital para iniciantes”.
A iniciativa foi criada a partir do nosso desejo de contribuir efetivamente para o desenvolvimento técnico de pessoas com deficiência visual e ampliar as oportunidades de empregabilidade desse público. “Foi uma experiência incrível! Durante um mês, foram compartilhados conceitos gerais sobre acessibilidade digital, critérios que devem ser considerados ao testar websites, demandas atuais de mercado, entre outros temas necessários para quem quer ingressar neste mercado de trabalho”, explica a nossa coordenadora, Suzeli Damaceno.
Sob a sua coordenação pedagógica, o curso foi virtual e ministrado gratuitamente por especialistas reconhecidos do mercado, entre eles, a própria Suzeli e a Simone, além do Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento web do W3C; da Marília Suzart, engenheira de software especialista em acessibilidade digital; e do Diego Rocha Conceição, analista de qualidade em acessibilidade digital e embaixador do Movimento Web para Todos.
Mais proximidade com órgãos públicos
Jornadas de acessibilidade digital também foram aplicadas em órgãos públicos, incluindo o Tribunal Regional do Trabalho de Porto Alegre e o Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília. Palestras, oficinas e rodas de conversa estiveram entre as iniciativas contratadas por essas instituições com foco em aprofundar o conhecimento de seus times internos em relação à temática.
Mas foi com a equipe dos ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos e o de Direitos Humanos e da Cidadania, em parceria com a Embaixada Britânica e o Nic.br, que lideramos um dos projetos mais estratégicos da nossa história – um programa completo de acessibilidade digital.
A iniciativa contemplou inúmeras ações, incluindo:
- Webinário sobre a importância da acessibilidade digital;
- Levantamento de documentação sobre acessibilidade no Governo Federal;
- Rodas de conversa com profissionais das áreas técnicas do Governo Federal;
- Produção de relatórios de análises de acessibilidade de sites e aplicativos do Governo;
- Aplicação de oficinas de boas práticas de acessibilidade;
- Revisão e tradução das WCAG 2.1;
- Produção do “Guia de Boas Práticas em Acessibilidade Digital” com dicas colhidas durante a realização das atividades;
- Redação de uma proposta de regulamentação do artigo 63 da Lei Brasileira de Inclusão (projeto ainda em andamento).
Participação na criação da NBR 17060
Uma grande conquista desse último ano foi a nossa participação ativa na criação da NBR 17060, código da norma técnica com 54 requisitos e recomendações baseadas na WCAG (Web Content Accessibility Guidelines, traduzido para o português como Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo na Web).
É a primeira norma relacionada diretamente à acessibilidade digital que traz requisitos sobre elementos não textuais, controle e interação, legendas, interação por toque, tamanho da área de toque, como descrever botões, etc. A NBR 17060 é válida para aplicativos nativos Android e iOS, aplicativos web e híbridos.
Esse trabalho levou dois anos para ser desenvolvido pela ABNT em conjunto com o CGI.br, parceiro estratégico do Movimento Web para Todos. Contou também com a participação de mais de 90 especialistas em acessibilidade digital, incluindo diversos integrantes da nossa rede.
O próximo passo é a criação de uma nova norma ABNT, agora com foco mais amplo em aplicações web. Desde março deste ano, nossa equipe tem participado das reuniões da Comissão de Estudo que está desenvolvendo o conteúdo de forma colaborativa com especialistas em acessibilidade digital.
Outras inúmeras ações de Educação foram desenvolvidas em parceria com as mais variadas instituições de ensino, incluindo a UNESP Bauru, PUC-SP, Inclua (IPEA), ESPM, Cesar School e Universidade Barão de Mauá, as duas últimas por meio de docentes integrantes de nossa Liga Voluntária.
Vale relembrar ainda a parceria estratégica que continuou ativa neste sexto ano com a Globo e o Futura, canal de televisão focado em Educação e pertencente ao grupo de mídia. Entre os projetos desenvolvidos, destacam-se a aplicação de oficinas de produção de conteúdo acessível para todo time de Valor Social da organização, a cocriação da principal campanha institucional de 2023 com foco na pessoa com deficiência e a assinatura de um capítulo do livro comemorativo de 25 anos de Futura.
Web para Todos nos Estados Unidos
O ano foi marcado também pela participação de Simone em um evento de celebração dos 15 anos do Programa 10.000 Mulheres, da Goldman Sachs Foundation, em Nova Iorque e Washington. A iniciativa, que em 2017 resultou na criação do Movimento, visou a ajudar um seleto grupo de 15 empreendedoras a potencializar ainda mais seus negócios e a transformar em maior escala seus mercados de atuação.
“Foi impressionante e triste constatar que acessibilidade digital ainda é um tema pouco debatido e priorizado em empresas do mundo todo. Por outro lado, fiquei feliz em saber que provoquei a curiosidade e empatia daquelas pessoas, que é o primeiro passo para a conscientização e a mudança”, comenta Simone.
Liga Voluntária mais forte
O Web para Todos vem sendo construído com base em relações transformadoras ao longo dos últimos 6 anos. São especialistas, profissionais com e sem deficiência das mais diversas áreas, empresas e organizações sociais. Pessoas que entendem a necessidade, importância e urgência de criarmos um mundo digital mais inclusivo para todo mundo.
Com um pouco mais de um ano de existência, nosso programa de voluntariado, a Liga Voluntária, tem potencializado incrivelmente a nossa mobilização na sociedade e, ao mesmo tempo, promovido a troca de conhecimento técnico no grupo, contribuindo para que a acessibilidade digital se torne ainda mais presente na vida de nossos voluntários e voluntárias.
O próximo passo agora é organizar melhor essa rede de voluntariado para que possamos deixá-la ainda mais potente e desenvolvermos projetos com grande impacto social. “Poder contar com a nossa rede é essencial para acelerarmos esse processo de transformação por uma sociedade digital mais justa e inclusiva pra todo mundo”, finaliza Suzeli.