Por Fernanda Peixoto Miranda*
As pessoas com deficiência enfrentam barreiras cotidianas que impedem sua autonomia e acesso a bens, produtos e serviços públicos e culturais. Isso significa dizer que, neste instante, enquanto você lê este artigo, a falta de acessibilidade está impossibilitando a participação social de milhares de pessoas com deficiência que descobrem, por exemplo, que um filme em cartaz no cinema não possui recursos de acessibilidade, ou que um determinado espaço educacional não oferece rampas, banheiros adaptados e elevadores acessíveis.
Hoje, no país, segundo estimativas do Censo Demográfico 2010 do IBGE, mais de 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que representa 23,9% do total de brasileiros. Diante desse cenário, qual é o papel – e o dever – de nós, comunicadores, para garantir que nossos conteúdos e plataformas alcancem e sejam acessíveis e compreensíveis a todos? Como pensar em estratégias na comunicação que eliminem barreiras e garantam que ninguém fique para trás?
Para contribuir no campo da comunicação acessível e inspirar outros comunicadores e instituições a se pautarem nos princípios da inclusão, o Instituto Alana lançou, em setembro, a publicação Um caminho para a comunicação acessível, que narra os caminhos trilhados até aqui na construção de conteúdos acessíveis, auxiliando na conscientização das barreiras de acessibilidade na informação, comunicação e cultura.
Nossa história de aproximação com a comunicação acessível se iniciou há alguns anos, na tentativa de localizar e solucionar as principais fragilidades nas nossas práticas. O primeiro passo foi dado por meio de formações e workshops, onde pudemos conhecer boas práticas de acessibilidade. Com isso, aprendemos a construir nossos conteúdos para que texto, imagem, foto e vídeo fossem reconhecidos por todo tipo de tecnologia assistiva.
No início, precisamos incorporar na nossa rotina o olhar para a acessibilidade. Mas, com o passar do tempo, passamos a nos guiar pelo propósito de seguir em direção a uma comunicação para todos.
Nas redes sociais, optamos por implementar as hashtags #PraCegoVer e #PraTodosVerem, com o objetivo de disseminar a cultura de acessibilidade por meio de descrição de imagens. Também iniciamos a reestruturação de alguns sites para que eles se tornassem acessíveis, e tivemos (e seguimos tendo!) aprendizados na construção de publicações digitais com o maior número possível de recursos.
Em nossos vídeos, além de priorizar a acessibilidade com recursos de legenda fechada, audiodescrição e Libras, também tivemos uma experiência na elaboração de um edital inclusivo lançado pela plataforma Videocamp.
Em todas essas frentes de atuação, fizemos muitas trocas com pessoas com deficiência e outras instituições, que foram fundamentais para esse processo de construção de conhecimento. Também constatamos que uma estratégia assertiva no campo da comunicação acessível é buscar identificar, desde a fase inicial, os obstáculos que limitam ou impedem a fruição de todas as pessoas aos nossos conteúdos. Para tanto, é preciso garantir que a acessibilidade se dê desde a concepção, sem a necessidade de recorrer a uma adaptação futura.
Acreditamos que a comunicação pode reforçar ou quebrar estereótipos, excluir ou incluir. Considerando que todo ser humano tem o direito de desfrutar de todas as condições necessárias para o desenvolvimento de seus talentos e aspirações sem ser submetido a qualquer tipo de discriminação, é fundamental que os comunicadores e as instituições construam e disseminem seus conteúdos numa perspectiva acessível e inclusiva, contribuindo desta forma com a redução das desigualdades e equiparação de oportunidades.
É nosso dever garantir o direito à comunicação e de acesso à informação a todos – e a cada um – para a consolidação de uma cultura em direitos humanos.
A publicação Um caminho para a comunicação acessível segue em construção e aberta a novas sugestões. Esperamos você para fazer parte dessa conversa. Vamos juntos?
*Fernanda Peixoto Miranda faz parte da equipe de comunicação do Instituto Alana.