Pessoas com deficiência buscam mais cultura na web durante a pandemia apesar das barreiras, diz estudo


Foto de um jovem branco deitado em um sofá. Ele usa próteses nas duas pernas e tem os dois braços atrofiados. Ele segura um celular com as duas mãos, olha para a tela e sorri.

Uma pesquisa de opinião realizada com 256 pessoas com algum tipo de deficiência, entre maio e junho deste ano, mostrou que esse público está bastante ativo nas redes e ávido por mais conteúdo cultural digital com acessibilidade. 

Os resultados do “Estudo CCBB sobre acesso a arte e cultura por pessoas com deficiência” foram divulgados no dia 14 de junho com o objetivo de difundir informações sobre os hábitos culturais desse público no ambiente digital, além de estimular o debate sobre uma web mais inclusiva para todas as pessoas.

Conduzida entre maio e junho de 2021, a pesquisa contou com a participação de pessoas com deficiência das cinco regiões do Brasil. “Embora a disputa por audiência online em sites culturais seja grande, a oferta de acessibilidade ainda é fortemente negligenciada”, explica Tales Rocha, da Agência Galo, idealizador da iniciativa. “A geração de dados sobre a experiência cultural online dessa parcela da população mira uma produção mais inclusiva e o despertar do mercado”, completa.

“Uma das grandes barreiras para transformar a realidade atual de exclusão é a falta de conhecimento sobre os hábitos e as dificuldades que as pessoas com deficiência encontram em seu dia a dia”, afirma Simone Freire, curadora dos Encontros CCBB Sobre Acessibilidade Digital. “A pandemia escancarou a necessidade há muito manifestada pelas pessoas com deficiência”, explica ela. “Consumir cultura, interagir socialmente, comprar e estudar são direitos essenciais de uma web mais democrática”, defende.

O levantamento divulgado faz parte dos Encontros CCBB Sobre Acessibilidade Digital, série de debates e oficinas gratuitas sobre o tema. O evento foi uma realização do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), patrocinado pelo Banco do Brasil, e contou com a curadoria do Movimento Web para Todos. A idealização e produção executiva dos Encontros foi da Agência Galo.

Confira os resultados do estudo a seguir.

Público ativo, mesmo com a falta de acessibilidade

A pesquisa ouviu um público de perfil diverso. A maior parte de quem respondeu tem entre 25 e 45 anos, sendo 30,9% entre 35 e 45 anos e 25% entre 25 e 35 anos. Quanto ao tipo de deficiência, participaram pessoas com deficiência visual (43% dos respondentes), auditiva (25,8%), motora (17,6%), cognitiva (3,1%) e múltipla (2,3%), entre outras (8,2%), como autismo, TDAH, dislexia e TOC.  

Pessoas de 20 estados do Brasil participaram, com predominância de respostas de São Paulo (35,2%), Rio de Janeiro (17,6%) e Minas Gerais (6,6%). Do total de respondentes, 88,3% costumam acessar conteúdos culturais virtuais, em sua maioria (61,6%) pelo celular. O sistema operacional da maior parte dos celulares desses usuários é o Android (61,7%), seguido pelo iOS (35,9%).

Mesmo com essa participação expressiva das pessoas com deficiência na busca por conteúdos sobre arte e cultura na web, ainda há espaço para uma presença maior: 85,9% dos respondentes afirmam que acessariam mais conteúdos culturais online se a navegação fosse acessível.

Sites mais acessíveis e plataformas favoritas

A maior parcela do público entrevistado (51,2%) considera os sites de notícias os mais acessíveis e fáceis de navegar, seguidos com larga margem pelos sites de educação (16,8%) e as lojas virtuais (12,1%). Das pessoas com deficiência que participaram da pesquisa, apenas 0,8% consideram os sites de serviços de saúde acessíveis.

Quando vão assistir lives, shows, exposições e palestras online, 67,6% preferem o YouTube, 13,3% o Google Meet e 8,6% o Zoom. Foram citados, ainda, o Facebook (5,9% da preferência), Microsoft Teams (1,6%) e outros (3,1%), como Instagram e Skype.

Pandemia de Covid-19 e hábitos culturais

72% das pessoas com deficiência que responderam à pesquisa afirmam usar a internet com mais frequência, durante a pandemia, em busca de conteúdos culturais.

30,3% dos respondentes passaram a acompanhar mais lives, seminários e cursos online durante a pandemia; 29,1% afirmam que estão lendo e pesquisando com mais frequência temas de seu interesse na web; 22,6% assistiram mais filmes e shows, e 12% passaram a ouvir mais podcasts e programas de rádio em geral durante o período.

Os participantes assistiram, no último ano, espetáculos teatrais (45,7%) e filmes (45,7%) transmitidos pela internet com recursos de acessibilidade e gostariam de ter mais experiências semelhantes de acesso. Uma parcela similar de pessoas (43,8%, no caso de espetáculos teatrais, e 44,1% para filmes e festivais de cinema) afirma que nunca conferiu espetáculos ou exibições com tais recursos, mas gostaria de conhecer.

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