Compartilhar conhecimento faz parte do dia a dia da Nathalia Blagevitch. Ela é engajada e, nos últimos anos, conta sua experiência de vida nas redes sociais e por onde passa. É uma de nossas embaixadoras, especialista em diversidade e inclusão, advogada pós-graduada na área trabalhista e psicóloga transpessoal.
Nathalia criou o blog Caminho Acessível há mais de cinco anos com a missão de trocar e difundir informações sobre os temas ligados ao dia a dia da pessoa com deficiência. Como palestrante em projetos voltados à inclusão da pessoa com deficiência, já se apresentou em grandes instituições, como TEDx, Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Faculdade Cásper Líbero e Fundação Bradesco.
“Na primeira vez que vocês me convidaram para gravar um vídeo para o Movimento, eu achei estranho porque eu achava que não precisava de acessibilidade na web. E foi neste ano de 2020 que comecei a compreender melhor o que é esse tema e o poder de transformação que todos nós temos de divulgar a causa”, afirma.
Segundo Nathalia, esse interesse em se aprofundar no assunto aconteceu durante a pandemia, quando começou a assistir aos vídeos dos meet ups (encontros online) do Web para Todos. “Percebi que precisava também da acessibilidade digital na minha vida. Entendi melhor sobre essa temática – antes, eu não tinha a noção e o conhecimento que tenho hoje. E percebi, de verdade, o quanto a acessibilidade digital é importante para todo mundo”, completa.
Nathalia nasceu com paralisia cerebral e, por isso, tem mobilidade reduzida no lado direito do corpo. Conversamos com ela para entender mais sobre as barreiras que encontra ao navegar na web e como seria uma web ideal para ela.
Atualmente, o seu trabalho na web busca também levar conscientização para as pessoas em relação à acessibilidade digital?
Nathalia Blagevitch – Sim. Depois de assistir aos webinários na pandemia, comecei a fazer a descrição de imagens de uma forma mais elaborada. Também me aproximei mais das atividades da rede do Web para Todos, fiz uma live com a Simone Freire (idealizadora do Movimento), e tive a honra de ser convidada para ser embaixadora de vocês. Sinto que posso usar as minhas redes para alertar as pessoas que elas podem praticar a acessibilidade digital em seu dia a dia.
Quais são as principais barreiras que você encontra na web – com e sem a tecnologia assistiva?
Nathalia – A principal barreira se apresenta quando eu não consigo usar a Siri (assistente de voz de dispositivos Apple) – eu aperto, falo e ela digita para mim. Tem muitos sites que esse recurso não funciona. Para mim, uma coisa boa é quando a Siri funciona no Instagram, já no Facebook surgem alguns problemas no uso, mas geralmente consigo escrever uma mensagem grande.O recurso de enviar áudios via plataformas também facilita muito a minha vida.
Você usa alguma tecnologia assistiva para navegar? E encontra barreiras?
Nathalia – Eu uso a Siri e eu uso tablet porque ela funciona melhor em tablet, que também é mais fácil de carregar. Infelizmente, essa tecnologia de voz às vezes não funciona em alguns sites e isso impede que eu realize ações que eu tenho direito.
Se fosse pensar em uma tecnologia ideal para você, o que ela teria para eliminar todas as barreiras na web?
Nathalia – Eu acho que seria um computador ou tablet que eu pudesse comandar tudo por voz. No computador comum, quando você vai copiar e colar, você precisa usar dois dedos. Tem muitas tarefas que quando você seleciona um documento, você precisa usar as duas mãos. Então, se eu pudesse falar, por exemplo: “Siri, seleciona do primeiro ao terceiro parágrafo” e ela selecionasse, seria melhor, pois eu não tenho precisão de clique e fico esbarrando. Para eu selecionar um texto, por exemplo, demoro horas. A Siri não funciona bem com o Excel e o Google Planilhas. Para mim, fazer planilha é um inferno porque tenho que fazer tudo na mão e eu não tenho essa coordenação motora fina.
Como você lida com a responsabilidade de levantar a bandeira da acessibilidade, principalmente pensando nas pessoas com mobilidade reduzida?
Nathalia – Nem sinto como uma responsabilidade. Eu compartilho a minha vida, as minhas dores e muitas vezes as pessoas compartilham as dores delas comigo e a gente acaba aprendendo muito umas com as outras. Eu faço parte de vários grupos de pessoas com mobilidade reduzida que também não têm precisão de clique, como eu. Eu aprendo muito com elas. O que eu tento é compartilhar meus aprendizados para tornar o dia a dia delas melhor e quando tem um feedback, procuro compartilhar e melhorar. Mostro o que consigo e as outras pessoas mostram o que elas conseguem. É um aprendizado constante, uma construção.