Número de sites que falham nos testes do Web para Todos cai, mas ainda preocupa

Pela segunda vez, desde agosto de 2019, Movimento Web para Todos e BigData Corp visitaram os 14,65 milhões de endereços ativos da web brasileira para avaliar o seu nível de acessibilidade com foco na experiência do usuário com algum tipo de deficiência


Ilustração da tela de um computador que mostra uma simulação do layout de um site. Há quatro ícones diferentes, que são: foguete, medalha, hexágono colorido e um escudo verde com marca de verificação verde.
Estudo traz realidade sobre a acessibilidade dos sites brasileiros. Imagem: Pixabay.

Na segunda extensa avaliação sobre a experiência de navegação das pessoas com deficiência no País, conduzida em conjunto pela BigData Corp e o Movimento Web para Todos em 14,65 milhões de sites no País, percebe-se que a web brasileira ainda é grandemente inacessível para os cidadãos com alguma deficiência. Ainda assim, há o registro de uma variação mínima no total de sites que tiveram sucesso em todos os testes de acessibilidade aplicados: se em agosto passado eles eram 0,61%, ao final de abril de 2020 chegaram a 0,74%.

“Esse é um crescimento pequeno, mas equivale, proporcionalmente, a um aumento superior a 21%”, pondera Thoran Rodrigues, CEO e fundador da BigData Corp, empresa responsável pelo levantamento. “Outra forma de enxergar uma tendência positiva, ainda que tímida, é o fato de que, se no ano passado havia 5,6% de sites que falharam em absolutamente todos os testes aplicados, hoje são apenas 0,01% que “zeraram” em nossos testes”, compara.

Para o executivo, analisados em conjunto, esses dois dados apontam para uma tendência em prol da redução de barreiras que dificultam o acesso a sites pelos mais de 45 milhões de brasileiros com deficiência (Censo IBGE/2010). “Mas o fato é que ainda temos 99,26% dos sites com pelo menos um problema a ser solucionado em termos de acessibilidade”, adverte.

O estudo também contou com o apoio técnico do Ceweb.br, Centro de Estudos sobre Tecnologias Web do NIC.br, que tem, entre suas atribuições, disseminar conhecimento sobre acessibilidade na web. A data de hoje foi escolhida para a divulgação da pesquisa porque marca a véspera do Dia Global de Conscientização sobre a Acessibilidade (GAAD – Global Accessibility Awareness Day –, na sigla em inglês).

“O momento é extremamente oportuno para lançarmos o estudo e conscientizarmos a sociedade sobre este grave problema de exclusão digital. Estamos há dois meses isolados em nossas casas por conta do novo coronavírus. A web, mais do que nunca, se tornou o nosso principal meio de comunicação com o mundo externo: para comprar, fazer reuniões virtuais, se informar, estudar e se divertir. Esses resultados evidenciam ainda mais o isolamento que esta grande parcela da população enfrenta todos os dias de suas vidas”, reflete Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos.

Os dados apurados apontam uma leve melhora na acessibilidade nos sites governamentais. No primeiro monitoramento, realizado oito meses atrás, 99,66% deles acusavam algum problema de acessibilidade; hoje são 96,71% uma queda próxima a três pontos percentuais. Visto de outra forma, apenas 0,34% dos sites governamentais não continham falhas; hoje são 3,29%. Ou seja, os sites governamentais “nota dez” mais que duplicaram no período.

O levantamento constatou também que os sites brasileiros com problemas nos links subiram de 83,56% para 93,65% no período entre as duas pesquisas. Aumentou de 95,18% para 97,22% o número de sites que não passaram pelos testes aplicados pelo verificador de markup (HTML) automático criado pelo World Wide Web Consortium (W3C), entidade referência de padrões a serem seguidos na web. 

“Para este estudo foram escolhidos três recursos de páginas Web: imagens, links e formulários, que se tornam barreiras ao acesso se não aplicados corretamente.. Imagens sem descrição são barreiras para pessoas cegas conseguirem compreender o conteúdo da foto ou figura publicada. Formulários com problemas de acessibilidade dificultam o acesso de pessoas cegas e também de pessoas com mobilidade reduzida que não conseguem usar mouse. A verificação de markup do padrão do W3C possibilita encontrar erros na estrutura da página que eventualmente trazem barreiras para pessoas com deficiência. Vale lembrar que outras barreiras não foram verificadas nesta pesquisa e podem estar presentes nas páginas”, explica Reinaldo Ferraz, especialista em Desenvolvimento Web do W3C Brasil e do Ceweb.br/NIC.br.

Tipos de problemas apurados nos testes Agosto 2019 Abril 2020
Têm problemas Não têm problemas Têm problemas Não têm problemas
Formulário (forms) 52,38% 47,62% 55,19% 44,81%
Links 83,56% 16,44% 93,65% 6,35%
Imagens 83,25% 16,75% 83,36% 16,64%
Verificação de markup do W3C 95,18% 4,82% 97,22% 2,78%

Este segundo monitoramento da web no País ampliou o seu detalhamento em tipos diferentes de sites e apontou uma leve evolução no nível de acessibilidade em alguns deles. Os de educação lideram o ranking em eliminação de barreiras de navegação para pessoas com deficiência, seguido dos sites de notícia e e-commerce.

Dentre os educacionais, 3,88% não apresentam nos testes realizados qualquer barreira de acesso a esse público, um resultado mais que 5 vezes melhor que o percentual geral, que é de 0,74%. Em seguida, os de notícia: 3,03% passaram em todos os testes. Os corporativos alcançaram o índice de 2,81% de sucesso; os de e-commerce, 1,30%; e os blogs, 1,24%. Outros tipos de sites, não classificados, puxam o percentual total para baixo.

Para Vagner Diniz, gerente geral do W3C Brasil e do Ceweb.br/NIC.br, a mudança da web brasileira em prol das pessoas com deficiências depende, basicamente, da adesão das empresas e instituições à causa. “A transformação seria muito mais rápida se a legislação especificasse quais critérios de acessibilidade um site deve atender. Por enquanto, a legislação nacional não passa de uma declaração de boa vontade do legislador, mas sem nenhuma aplicação prática”, ressalta.

Campanha de mobilização e educação para descrição de imagens

A avaliação conduzida pela BigData Corp constatou também que os sites com algum problema de acessibilidade nas imagens registraram um ligeiro incremento, passando de 83,25% para 83,36%. Segundo Rodrigues, esses números praticamente se repetem em todos os setores analisados com variações estatísticas irrelevantes.

 “Esse dado é muito chocante para nós, pois é um dos problemas mais simples e rápidos de serem resolvidos e que faria muita diferença na vida dos cerca de 6,5 milhões de pessoas cegas ou com baixa visão no nosso País”, aponta Simone. Por essa razão, o Movimento Web para Todos decidiu promover uma campanha para sensibilizar e educar os responsáveis pelos canais digitais dos setores analisados pelo estudo.

Serão divulgados conteúdos educativos sobre técnicas de descrição de imagens que serão úteis para conteudistas (de sites e redes sociais) e desenvolvedores. A equipe do Web para Todos, em parceria com o Ceweb.br, produzirá também materiais complementares sobre este tema em diversos formatos. Os detalhes serão sempre divulgados no site e redes sociais do Movimento Web para Todos. 

Metodologia

Nesta pesquisa, a BigData Corp utilizou o processo de captura de dados da internet extraídos de visitas a mais 28 milhões de sites brasileiros (ativos e inativos) em abril de 2020, dos quais são obtidos informações estruturadas e seus links. Foram desconsiderados os sites inativos, ou seja, os que estavam fora do ar ou que não responderam a visitas por quatro semanas seguidas. Também foram desprezados os que, por oito semanas consecutivas, não fizeram qualquer alteração em seu conteúdo. Por fim, não foram levados em conta os sites sem conteúdo, ou com conteúdo de texto simples, os sem tags, os sem links ou os sem imagens. Desta forma, os testes se aplicaram a apenas 68.18% do total de sites da web no País. Foram considerados neste estudo, portanto, cerca de 14,65 milhões de sites.  A metodologia detalhada está disponível no site do Movimento Web para Todos. 

Detalhes sobre a metodologia e critérios de avaliação podem ser obtidos neste link: Novo estudo de acessibilidade do Web para Todos em sites brasileiros

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