Confira a história de Diniz Candido, criador do Mundo Cegal

Embaixador do Movimento Web Para Todos, que tem apenas 5% de visão, conta como surgiu a sua paixão pela internet



Diniz Candido em pé com leve sorriso. Ele tem cabelos curtos, castanhos e está usando uma blusa na cor cinza.
Diniz Candido. Foto: Arquivo pessoal.

Desde a infância, Leondeniz Candido de Freitas, também conhecido como Diniz Candido, percebeu o quanto os computadores e outras tecnologias poderiam ajudá-lo a ter mais autonomia e independência.

O servidor público federal, hoje com 36 anos, nasceu quase cego devido à uma doença rara chamada Amaurose Congênita de Leber, que afeta a retina. Ele cresceu no interior de São Paulo e tinha dificuldade em estudar, por conta da falta de material adaptado e profissionais capacitados.

Pensando nas barreiras enfrentadas ao longo da sua trajetória, Diniz criou, em 2009, o Mundo Cegal, iniciativa que disponibiliza conteúdos acessíveis para pessoas com deficiência visual. Apesar do site ter sido descontinuado no início de 2019, a iniciativa continua permitindo a interação dos usuários por outras plataformas como YouTube, no WhatsApp e no Facebook (tem o grupo Mundo Cegal e página Mundo Cegal).

Ativista pelos direitos da pessoa com deficiência no mundo on e offline, Diniz não perde uma oportunidade para explicar o que diz a legislação a respeito desse tema. E fala com muita propriedade, já que também é Bacharel em Direito, com especialização em Direito e Processo do Trabalho, ambos pela PUC do Paraná.

Ele também adora criar e editar seus próprios vídeos, viajar, curtir os amigos e se aventurar por aí, como foi o caso da escalada que fez com outros quatro colegas com deficiência visual na Pedra do Santuário, na cidade de Pedra Bela (SP).

Confira mais detalhes da história de Diniz Candido na entrevista concedida ao Movimento Web Para Todos.

WPT – Você nasceu cego ou perdeu a visão? Pode contar um pouco da sua história?
DC – Nasci quase cego. Tenho 5% de visão por conta de uma Amaurose Congênita de Leber, doença rara que afeta a retina. Cresci no interior de São Paulo, em uma época que ainda era muito difícil estudar por conta da falta de material adaptado e do despreparo dos professores.

Em 2006, fui aprovado no concurso para técnico judiciário da Justiça Federal do Paraná. No final de 2016, fui transferido para o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, onde trabalho até hoje.

WPT – Como é a sua relação com a tecnologia? Quanto tempo por dia você faz uso dela?
DC – Minha relação com a tecnologia começou muito cedo e eu faço uso dela quase que 100% do tempo. Desde a infância, percebi o quanto os computadores e as demais tecnologias poderiam me proporcionar autonomia e independência, o que me tornou um apaixonado.

WPT – Quais foram as maiores barreiras que você encontrou ao usar a web e o que você faz para contorná-las?
DC – As maiores barreiras são relativas à falta de acessibilidade nos sites, que decorrem da inobservância de desenvolvedores e das normas de desenvolvimento do W3C. As principais barreiras se materializam em imagens sem etiquetas e descrição, recursos gráficos que não interagem com leitores de tela e estruturas que dificultam ou impedem o carregamento das páginas quando estamos usando tecnologia assistiva. Geralmente contorno essas barreiras com o uso do resíduo visual que ainda tenho ou, quase sempre, solicitando auxílio de uma pessoa com visão normal, o que prejudica minha autonomia e compromete minha privacidade. Para comprar uma passagem aérea, por exemplo, necessito de auxílio para selecionar a data da viagem, porque o componente de calendário é, na maioria das vezes, inacessível.

WPT – O que é e como surgiu o projeto Mundo Cegal?
DC – O projeto surgiu em 2009, com a criação de um site que disponibilizava conteúdo acessível dos mais variados gêneros, tais como mensagens de reflexão, receitas culinárias, tutoriais, canais de interação entre os visitantes etc. A pretensão era ter um espaço onde usuários com deficiência visual pudessem interagir com acessibilidade. Com o passar do tempo e a Web2.0, a internet foi se transformando, alguns sites se tornando mais ou menos acessíveis e hoje estamos presentes nas redes sociais como canal de informação e interação.

WPT- De que forma o Mundo Cegal ajuda outras pessoas com deficiência?
DC – O projeto sofreu muitas transformações desde o início, há 10 anos. No site, que foi descontinuado no início de 2019, os usuários de leitores de tela podiam ler, fazer download e interagir plenamente naquele espaço. Nas redes sociais (hoje presente no WhatsApp, Facebook e YouTube), os usuários podem trocar informações, notícias e “formas de fazer” alguma atividade que, a princípio, é inacessível.

WPT – Na sua opinião, como é possível sensibilizar as pessoas à causa do Movimento Web Para Todos?
DC – A sensibilização depende do perfil de cada pessoa. É necessário fazer um estudo prévio para verificar como a acessibilidade pode impactar a ponto de fazer com que alguém saia de sua zona de conforto para promover a igualdade de condições de acesso.

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