Comunicação inclusiva no Marketing Digital



Débora Brandão está com um leve sorriso. Ela tem cabelos negros e lisos, está usando óculos e batom vermelho. Ao fundo, há uma estante com diversos livros.
Débora Brandão. Foto: Arquivo pessoal.

Por Débora Brandão*

Após 12 anos trabalhando com comunicação no meio digital, o conceito de inclusão associado ao mundo online entrou na minha vida há pouco tempo.

Por mais que sempre tentemos nos colocar no lugar do outro por meio da empatia e ver diferentes perspectivas e realidades, nada se compara a quem vive a situação. Me enxergar dentro dessa realidade foi um divisor de águas sobre como eu agiria com o mundo.

Recebi meu diagnóstico de autista já na vida adulta e, ainda que eu trabalhe com comunicação, sempre tive problemas com literalidades, ambiguidades, metáforas, tempos de conversa e tons a serem utilizados. Falar com outras pessoas sempre foi desgastante, pois era como se todos possuíssem um manual de como fazer as coisas, menos eu. Isso me trouxe grande foco em copiar comportamentos, tentar compreender a comunicação e, atitudes recorrentes no universo autista.

No começo do ano, tive um episódio de não entender o título de uma notícia, que me pareceu absurda à primeira leitura. Era minha literalidade interpretando (ou não) aquilo. Em um desabafo em um grupo de autistas adultos, vieram vários comentários em comum: “é muito difícil compreender e vivenciar algumas coisas na internet.”

Pronto, foi esse o estalo para pesquisar sobre o assunto, quando, então, entrei em hiperfoco; outra característica do espectro autista.

Já lia muito sobre o conceito de neurodiversidade e os modelos social e médico de deficiência. Foi a partir daí que comecei a direcionar o meu trabalho na área: se temos o modelo social de deficiência, o que eu, como comunicadora, posso fazer para melhorar isso dentro da minha atuação?

Mergulhei em grupos de pessoas com diversas deficiências, conversei principalmente com autistas, pessoas com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), dislexia e discalculia. Tudo isso para entender o que eu poderia fazer nas minhas ações que facilitasse a compreensão de todos, sempre tendo em mente que nenhum autista é igual ao outro e o que cabia a mim poderia não funcionar para outro.

Cheguei a uma lista de sugestões que procuramos adaptar dentro de nosso trabalho nas redes sociais:

1. Seu texto está claro? Passe a informação de forma que não haja dupla interpretação (se esse não for o objetivo). Use uma linguagem visual e textual simples, sem erros ortográficos, metáforas, abreviações, jargões e acrônimos;

2. Evite parágrafos muito extensos e utilize marcações, como títulos, quebra de linhas, numeração, entre outros, a fim de facilitar a leitura;

3. Utilize imagens de fácil compreensão. Não adianta colocar textos grandes com fontes minúsculas (como para entrar nas regras de 20% do Facebook) se eles não são fáceis de ler. E aqui entramos em vários públicos até fora do TEA, como idosos, pessoas de baixa visão, uso de aparelhos celulares antigos, entre outros. Sempre colocando, também, o texto alternativo para imagens;

4. Não utilize as cores como única forma de transmitir um conteúdo. Trabalhe adequadamente o contraste e plano de fundo de forma que seja claro a diferenciação da informação da imagem e sua assimilação;

5. Ao colocar músicas de fundo em vídeos, como tutoriais, atenção ao volume da mesma para que não influencie no recebimento da mensagem do vídeo para pessoas com Transtorno de Processamento Sensorial (TPS);

6. Dentro da mesma ideia acima, cuidado também com volume de vinhetas em edições de vídeos e podcasts. Já deixei de ouvir alguns programas pois a vinheta entre os blocos me atrapalhava a concentração, pois tenho grande sensibilidade auditiva;

7. Edição de vídeos com luzes piscando, transições muito claras e luminosas podem fazer muitas pessoas fecharem seu vídeo antes de terminar, também devido ao Transtorno de Processamento Sensorial;

8. Sabe o Call to Action (CTA – Chamada para Ação)? Eles são bem- vindos. Orientações claras sobre o que fazer, após a informação passada, não só estimulam e motivam o usuário como facilita a entender qual ação deve ser feita;

9. Evite utilizar elementos que distraem e não são de importância ao conteúdo, como GIFs saltitantes;

10. Atenção ao uso de emoticons. Eles podem ser muito difíceis de serem compreendidos quanto à expressão que querem passar. Não consigo diferenciar um emoticon de ironia ou raiva, então evito usá-los. Ao mesmo tempo, o uso de emoticons adequados e fáceis de assimilação podem auxiliar na compreensão do tom da mensagem, mas nunca devem substituir conteúdo textual;

Item extra: tenha cuidado ao responder alguma mensagem do consumidor. Você pode julgar que houve falha de interpretação da pessoa ou mesmo que ela não leu toda a informação, mas já revisou se sua comunicação foi clara? E, caso tenha sido, já pensou que pode ser uma pessoa que, por inúmeros motivos, tenha dificuldades de compreender o que você publicou? Empatia em primeiro lugar sempre!

É importante que todos tenham em mente que a melhoria na forma como nos comunicamos reflete em qualidade de informações não só para pessoas neurodivergentes, mas toda a sociedade. Clareza de informação e facilidade de acesso são essenciais para recebermos a mensagem que está sendo passada.

Ter ciência de como meu cérebro funciona, me permite entender um pouco mais sobre como outras pessoas recebem o que eu publico dos meus clientes. Acredito e defendo que o modelo social de deficiência deve ser propagado e que, dentro da web, muito não é feito simplesmente por desconhecimento dos profissionais. Precisamos falar sobre isso.

A inclusão começa com a comunicação e temos o dever de falar para o maior número de pessoas possível. Isso deve fazer parte da rotina de trabalho de todos, trazendo não só a valorização da diversidade como o respeito ao ser humano.

*Débora Brandão é Consultora e Gestora de Marketing Digital.

Artigo publicado originalmente em 18/06/2019.
Atualização feita no dia 19/03/2020. 

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