Além da Letra


Ilustração de mão segurando um celular com a tela virada para frente. Nela, as letras da palavra "dyslexia" estão embaralhadas e conectadas por fios.

Por Ana Galante*

O ser humano apresenta uma enorme diversidade nas suas aptidões e características, sejam elas de natureza física, intelectual, emocional, comunicacional, social ou cultural, as quais implicam diferentes maneiras de perceber, compreender e interagir com o conteúdo da Web (Ceweb,2021).

“A dislexia é uma vulnerabilidade invisível porque não se vê nada: ela não representa uma restrição física ou financeira, nem negligência ou violência, o que seria bem mais fácil de reconhecer em um primeiro momento. No caso da dislexia, a vulnerabilidade se dá porque o disléxico tem um processamento cerebral diferente e, por isso, é colocado de lado no sistema. Como consequência, ele se enxerga como inviável, reflete a educadora Nadine Heisle. 

Nadine entendeu que ser disléxico tem muitas vantagens (que inclusive contribuem para o empreendedorismo) mas que, por demandar estratégias diferentes de ensino, a dislexia acaba se tornando o que ela denomina “uma vulnerabilidade invisível”. Além disso, mesmo estando presente no dia a dia de estimados 10% da população, o tema é ainda muito restrito ao meio acadêmico e pouco divulgado, o que dificulta o acesso a diagnósticos e suporte no desenvolvimento. Ela criou o Domlexia”, uma plataforma digital educativa com planos e metodologia pedagógica para auxiliar escolas e professores em salas de aula. Vale destacar que existe uma versão gratuita em iOS e Android (sem relatórios ou acompanhamentos) disponível para baixar.

Dona Sarkar, engenheira da Microsoft, em um acampamento para adolescentes, demonstrou como usa a Leitura Imersiva, o Modo de Foco e outras ferramentas do Office para gerenciar sua própria leitura. O exemplo dela tem ajudado também os colegas a compreenderem melhor o tema.

Um projeto para internet deve prever, desde o início, a acessibilidade, prevendo, na arquitetura da informação, o tratamento dos itens de navegação, interação, design e conteúdo, visando a sua acessibilidade, por exemplo: uma paleta de cores com contraste suficiente para atender pessoas com baixa visão ou daltonismo, mas sem arranjos cromáticos que afetem pessoas com espectro autista ou com dislexia. (Ceweb,2021)

As Normas do WCAG 2.1., trazem recomendações para adaptar os conteúdos para quem possui dislexia:

  • Usar imagens para complementar o significado do texto.
  • Dar preferência a fontes com maior espaçamento e parágrafos menores.
  • Garantir a responsividade (tela adaptada aos celulares), quando o conteúdo textual estiver com zoom em 200%.
  • Garantir contrastes textual e não textual dentro dos padrões mínimos, considerando além da dislexia também o daltonismo.

Esses cuidados com a apresentação de conteúdos no ambiente digital fornecem condições mais propícias para superar estigmas: “Ouvi de muitas pessoas, que eu não teria condições de trabalhar como jornalista porque não escrevia direito, mas hoje sou um jornalista isso ninguém tira de mim. É obvio que após o estágio eu fui reprovado em muitas entrevistas de trabalho por questões gramaticais, mas isso só me faz lutar ainda mais para chegar o mais longe possível”, relata Lucas Queiroz.

“A tecnologia trata da criatividade e arte, e de como você ouve os clientes e constrói a coisa certa. Precisamos de todos os tipos diferentes de pessoas para criar produtos para todos os tipos de clientes”, argumenta Dona Sarkar, Engenheira de Software.

Para além da letra, soletremos: i – n – c – l – u – s – ã – o.


Referências:


*Ana Galante é especialista em acessibilidade digital e analista de testes de acessibilidade. Ela se descreve assim: “meu nome é Ana e gosto de gente. Antes catava latinhas. Com apoio da Educafro, hoje cato conhecimentos. Trazer equidade a produtos e serviços digitais é o que me motiva. E, para além da profissão, espero aplainar os caminhos para todas as pessoas, onde estiver.”

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