Comunicação inclusiva é ferramenta estratégica na captação de recursos

Saiba mais sobre o termo, a aplicação dele nas empresas e organizações e o que pode ser feito para que ele realmente aconteça e possa transformar.



Foto do auditório fechado. Ao fundo, o telão com o nome da palestra ao fundo e uma mulher ao microfone. Ela é alta, branca, tem cabelos escuros presos em um coque e olha para o lado esquerdo.
Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, durante uma palestra. Foto: Web para Todos / Divulgação.

Falar de comunicação inclusiva é falar também de um mundo mais solidário, igualitário e com novas oportunidades de interação. Essa comunicação vai além, com benefícios diretos para empresas e organizações, mas poucos sabem disso.

O que é, afinal, essa comunicação inclusiva e qual é a diferença dela para a comunicação tradicional? Esclarecer a sociedade sobre esse assunto faz parte das ações do Movimento Web para Todos. 

Simone Freire, idealizadora do Movimento Web para Todos, explica o termo, conta sobre a aplicação dele nas empresas e organizações e o que pode ser feito para que essa comunicação realmente aconteça e possa transformar. Confira a entrevista!

Web para Todos: O que é comunicação inclusiva? O que a diferencia de uma comunicação tradicional?
Simone Freire: Como a própria expressão sugere, a comunicação inclusiva é pensada para todos. Ela não exclui, ela inclui. Na prática, é fazer a informação chegar às pessoas de maneira simples, fácil e direta, independentemente de o receptor ter ou não algum tipo de dificuldade. Algumas premissas são essenciais para se adotar uma comunicação inclusiva e envolvem aspectos humanos (como empatia) e técnicos (como acessibilidade comunicacional).

Especificamente no caso da comunicação digital inclusiva, deve-se considerar, por exemplo, a construção de um site acessível, que esteja preparado para receber a navegação de pessoas com deficiência, e a inserção de legendas, transcrição e audiodescrição em vídeos. A comunicação tradicional não costuma adotar esse olhar inclusivo, e o que vemos são sites com barreiras que dificultam a participação dessa grande parcela da população, estimada em 45 milhões de brasileiros (dados IBGE do Censo de 2010).

Web para Todos: A comunicação inclusiva tem sido uma prática comum das organizações que captam recursos?
Simone:
Longe disso. Analisamos recentemente os sites das maiores organizações do mundo (em termos de captação) e o cenário é bem alarmante. Praticamente nenhuma delas (inclusive aqui no Brasil) apresenta recursos de acessibilidade em suas páginas. Grandes ONGs globais investem um orçamento considerável em campanhas de arrecadação inspiradoras, vídeos impactantes, eventos que mobilizam milhares de pessoas ao redor do mundo. Apesar disso, elas infelizmente não conversam com o cidadão que apresenta algum tipo de deficiência.

Essas entidades estão deixando de comunicar suas causas, projetos e impactos para um quarto da população brasileira – e cerca de 1 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no mundo (dados da ONU). Não se trata mais apenas de uma visão humanitária, mas sim de cumprimento de leis e de gerar oportunidades de negócio/captação para uma parcela significativa da população que vem sendo desconsiderada!

Web para Todos: O que falta para que este quadro seja revertido?
Simone: Principalmente conhecimento. Em praticamente todas as nossas visitas às organizações acabamos iniciando a conversa com informações básicas, de sensibilização mesmo. O desconhecimento é muito primário – as pessoas não imaginam, por exemplo, que um cego navega, compra, estuda e quer fazer doações pela web! Ou que uma pessoa com deficiência auditiva pode não ter sido alfabetizada em Português, e sim em Libras (que é o segundo idioma oficial do Brasil) – e que, por essa razão, muitas delas não compreendem absolutamente nada do nosso vocabulário e necessitam de um avatar para compreender o conteúdo daquele site.

Quando explicamos esses conceitos para as equipes de comunicação e marketing das organizações, é como se uma porta se abrisse para um novo mundo – muito mais solidário, igualitário e repleto de novas oportunidades de interação!

Web para Todos: E como o Movimento Web para Todos pode contribuir nesse processo?
Simone:
Nascemos com o propósito de contribuir para a transformação da web em um lugar mais inclusivo para todos, independentemente das limitações de cada indivíduo. Descobrimos, pela nossa militância de anos neste universo, que muito do poder dessa transformação está nas mãos de quem desenvolve os sites que são programadores, designers e conteudistas. Eles são nossos grandes aliados nessa mudança!

E um dos nossos focos é capacitar esses profissionais para que, a partir de agora, só criem projetos que sejam para todos! Nesse sentido, promovemos workshops de sensibilização, oferecemos treinamento das equipes internas, realizamos consultorias para que as organizações passem a adotar uma comunicação verdadeiramente inclusiva para todos.

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