Cinco dicas de acessibilidade digital para inclusão de pessoas com autismo

Talita Pagani, especialista em acessibilidade digital para pessoas com autismo, compartilhou dicas sobre o tema.




Foto de uma criança segurando um tablet com as duas mãos. Ela sorri e está com o rosto muito próximo à tela.

Há muito a ser aprendido pela sociedade em relação à inclusão das pessoas com autismo ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), principalmente na web. Neste caso, é importante destacarmos o impacto que essa ação pode ter no dia a dia delas.

Uma solução web feita de forma inadequada para a inclusão de pessoas com autismo pode levar não apenas a uma frustração, mas causar estresse, irritação, desconforto e ansiedade. Além disso, a má usabilidade e acessibilidade para esse público impedem que a pessoa use a internet com toda a gama de possibilidades que ela tem direito.

O autismo é um transtorno de desenvolvimento global que afeta principalmente as habilidades sociais, de comunicação, interesse e imaginação. As pessoas com esse transtorno podem apresentar as seguintes características:

  • Alta valorização de rotina, ordem e previsibilidade;
  • Repertório restrito de interesse (ex.: grande foco em um determinado assunto);
  • Déficit nas habilidades sociais e de comunicação;
  • Dificuldade de compreender emoções e sentimentos;
  • Dificuldade com imaginação e metáforas;
  • Tendem a ser ótimos pensadores visuais, lógicos e concretos;
  • Podem ter habilidade maior de foco e concentração do que pessoas neurotípicas.

Hoje, no Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo, conversamos com Talita Pagani, UX Designer e especialista em acessibilidade digital para pessoas com autismo, sobre o tema.  Ela compartilhou informações gerais sobre autismo, cinco dicas de acessibilidade digital para esse público e indicou algumas fontes de estudo.

1) Interfaces simples e previsíveis

Pessoas com TEA podem ficar frustradas com a grande quantidade de informações apresentadas em uma mesma página. Além disso, podem não relembrar instruções para realizar uma tarefa quando essas instruções são apresentadas com várias outras ações a serem realizadas.

Ao planejar o design de uma aplicação ou página web, evite o excesso de elementos e conteúdos na página. Isso porque eles podem distrair ou causar uma sobrecarga cognitiva por apresentar muita informação. Interfaces simples ajudam no foco e guiam a pessoa para realizar as ações necessárias na tarefa atual. Reduza a complexidade projetando telas mais sucintas, com uma ação principal por página e dividindo em várias telas caso a tarefa tenha várias ações.

A previsibilidade é algo muito importante para a pessoa com autismo. Por isso, é essencial que o alvo dos links seja sempre previsível (links externos devem ser indicados). O comportamento dos botões deve ser claro e consistente ao longo das páginas. A pessoa deve saber onde ela está e até qual lugar pode ir na aplicação. Sempre que possível, forneça instruções sobre os próximos passos em uma tarefa que dependa de várias etapas, como cadastros.

2) Represente uma informação em mais de um formato

Um ícone nem sempre é uma representação óbvia de uma ação ou conteúdo, assim como um rótulo de botão pode ser mais difícil de compreender caso a pessoa tenha alguma dificuldade com escrita.

Quando tiver botões, ações e opções de menu com rótulos descritivos, sempre que possível, utilize um ícone com esses conteúdos ou também uma representação em áudio. O uso de ícones é mais comum. Isso fornece uma representação mais diversificada da mesma informação, atende pessoas com autismo com habilidades distintas e facilita a memorização e reconhecimento. Lembre-se também de não associar somente a cor para representar um elemento.

3) Elimine distrações que possam causar estresse

Excesso de propagandas em páginas, popups de marketing que aparecem repentinamente, propaganda que interrompe o conteúdo ou o vídeo em vários momentos. Todos esses recursos podem ser considerados invasivos e inesperados, gerando grande estresse para a pessoa com autismo por ela não esperar aquela ação e ter o seu foco interrompido. Este tipo de conteúdo deve ser evitado ao máximo, pois eles também rompem com a previsibilidade.

Parágrafos complexos e longos também podem ser distrativos e prejudicar a atenção da pessoa ao conteúdo da página. Evite passagens longas de texto. Divida o conteúdo em blocos que alternem parágrafos com frases mais simples e conteúdos organizadores em marcadores ou listas. Os rótulos de formulários, botões ou outras partes do conteúdo também devem ser consistentes, objetivos e utilizar termos de fácil compreensão.

4) Atenção ao uso de cores saturadas e sons que possam perturbar

Hipersensibilidade sensorial é uma característica recorrente a pessoas com Autismo. Elas podem ser mais sensíveis a determinados sons, cheiros, luzes e cores. Por isso, é importante evitar o uso de cores muito saturadas e com excesso de brilho que causam desconforto.

Sons devem ser usados com cautela, não inserindo músicas ao entrar nas páginas e tomar cuidado com sons que são inseridos em botões ou outros elementos da interface, como, por exemplo, para comemorar uma conquista em uma aplicação gamificada. Sons muito agudos e que remetem à explosão devem ser evitados.

5) Evite metáforas e figuras de linguagem

Pessoas com Autismo podem ter dificuldade com expressões em sentido figurado: elas tendem a ser mais literais. Se você expressar que está “chovendo canivete”, a pessoa tende a crer que de fato está chovendo o objeto canivete e não que está chovendo muito.

Para evitar esse problema, facilite a compreensão do conteúdo por meio de textos e elementos visuais com linguagem simples que evitem metáforas, jargões, abreviações ou termos técnicos. Evite também termos e nomes que podem não ser familiares a todos os usuários, como expressões usadas somente por pessoas de uma determinada área.

Mais conteúdos sobre o assunto

Talita fez uma seleção de conteúdos sobre pessoas com autismo para você se aprofundar mais sobre o assunto. Confira, abaixo, conteúdos para ler e para assistir.

Para ler

Para assistir

– Filmes: “Gilbert Grape – Aprendiz de sonhador”, dirigido por Lasse Hallström; “Rain Man”, dirigido por Barry Levinson; “Tão forte e tão perto”, dirigido por Stephen Daldry.

– Série da Netflix: “Atypical”, criada por Robia Rashid.

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