“As pessoas com deficiência querem usar a internet”, afirma vice-presidente da ONCB



Ilustração de uma pessoa segurando uma xícara e tocando na tela de um tablet. Na tela, há o logo do YouTube.
Pessoa segura um copo e toca na tela de um tablet. Foto: mohamed_hassan / Pixabay / Creative Commons CC0.

“Hoje não podemos pensar mais nas pessoas com deficiência como aquelas que não compram. Elas estão consumindo e estão conectadas”, diz Beto Pereira, vice-presidente da Organização Nacional dos Cegos do Brasil (ONCB). Beto é cego e sabe dizer com propriedade – tanto pela experiência pessoal quanto profissional – que isso é uma realidade que todos precisam saber.

Beto afirma que faz compras online, mas as barreiras de acessibilidade nos sites dificultam as compras. “Isso acontece com frequência. O que era para ser um ganho de compra imediata com a facilidade de uma compra online vira uma barreira tal qual o que acontece em lojas físicas. Muitas vezes sou obrigado a contar com o auxílio de alguém ou desisto de comprar.”

Segundo ele, muitas barreiras na hora de navegar surgem em forma de captchas (um teste de desafio cognitivo, utilizado como ferramenta anti-spam em muitos sites, que aparece com verificação visual e textual) ou na hora de selecionar o cartão, de selecionar o produto ou nos próprios campos editáveis para inserir dados.

Estudo e caminhos para seguir

Esses e outros desafios foram apontados no estudo “As principais barreiras de acesso em sites do e-commerce brasileiro – 2º Estudo de Acessibilidade em sites” feito pelo Movimento Web para Todos e do Ceweb.br com o apoio do W3C Brasil.  “A pesquisa dialoga com o novo, com o chamar a atenção para um assunto que, infelizmente, só a legislação não estava dando conta. Nós, na ONCB, dialogamos com as pessoas e entidades e percebemos coisas fundamentais. As pessoas com deficiência querem usar a internet e estão cada vez mais com poder de compra”, destaca.

De acordo com o vice-presidente da ONCB, “descartar o público com deficiência é uma falta de visão comercial, além de uma falta de visão social. São duas coisas que se perdem”. Nesse sentido, ele entende que, ao chamar a atenção da sociedade e dos profissionais e empresas que desenvolvem sites, começamos a entender as dificuldades de um lado e de outro e gerar diretrizes e apontar caminhos.

Entrevistamos Beto Pereira sobre esse estudo, os caminhos da transformação dos sites, tecnologias assistivas para pessoas com deficiência visual e um pouco sobre autonomia. Confira o bate-papo abaixo!

WPT | Esse tipo de estudo pode colaborar a transformação dos sites?
BETO | Esse estudo pode transformar não só os sites de empresas como também os sites públicos. As boas práticas e referências de inclusão e acessibilidade devem partir, principalmente, do Estado. Importante lembrar também da acessibilidade digital já que é por meio dos sites públicos que temos acesso à informação, à transparência, à legislação. Por isso, eles devem ser os vanguardistas a disponibilizarem essa acessibilidade.

WPT | Vamos falar sobre os caminhos da acessibilidade digital. O que precisa ser feito?
BETO | A primeira questão é o caminho da concepção de um site – entender que nem todos têm as mesmas necessidades. A segunda questão é entender que transformar um site não o torna mais feio, nem mais caro. Pelo contrário: você atinge maior abrangência de público e, hoje, as tecnologias dão conta de boa parte da acessibilidade. Precisamos transformar isso em cultura da acessibilidade online. Precisamos romper com a falta de acessibilidade de forma sistemática. Por isso, a acessibilidade digital tem que ser cultural. As leis precisam ser seguidas, mas é preciso transformar isso em cultura. Se você não colocar uma descrição de imagem em um site, por exemplo, ele acaba tendo falha de acessibilidade. Não é tão difícil como muitos apresentam.

WPT | Quais tecnologias assistivas as pessoas com deficiência visual costumam usar? Mesmo assim encontram dificuldades?
BETO | Para Windows, as pessoas usam o NVDA – é um software gratuito usado em todo o mundo, inclusive é tão bom quanto os software pagos. No iPhone, usamos o VoiceOver. No Android, usamos o TalkBack. É importante que os sites tenham acessibilidade mínima para que esses softwares se comportem de forma efetiva.

WPT | Qual é a importância da autonomia da pessoa com deficiência na hora de fazer compra?
BETO | Eu diria que ter autonomia na hora de fazer compras na internet é garantir o ir e vir virtual da pessoa com deficiência; garantir o livre acesso da pessoa com deficiência; garantir a autonomia da pessoa com deficiência; garantir a liberdade de escolha, inclusive a privacidade na escolha do seu produto. Quando a pessoa com deficiência faz uma compra faz sozinha, ela tem maior liberdade para fazer as suas compras no seu tempo, no seu ritmo e privacidade de escolher aquilo que ela quer, na hora que ela quer, do jeito que ela quer.

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