Acessibilidade em CAPTCHAs: o que os especialistas dizem sobre isso?




Foto de um laptop em cima de uma mesa de madeira. A tela mostra o sinal de verificação dentro de um quadrado. Ao lado, há o ícone de uma seta branca do mouse.

Talvez você já tenha encontrado com o recurso CAPTCHA em algum momento da sua navegação na web. Ele costuma aparecer com frequência: na hora de fazer cadastro em um site de compras; durante a navegação em um portal de notícias; na criação de um perfil em uma rede social; entre outras situações.

Nós, do Movimento Web para Todos, trouxemos esse tema porque sabemos que muitas pessoas reclamam dessa ferramenta como algo que atrapalha e/ou impede a navegação, sendo uma barreira de acessibilidade.

Por isso, conversamos com alguns especialistas em acessibilidade digital digital para explicar sobre o assunto e conscientizar empresas, profissionais de comunicação e sociedade em geral sobre o uso do CAPTCHA.

Entenda o contexto

De acordo com o Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (eMAG), o CAPTCHA é um teste interativo humano, completamente automatizado para diferenciar computadores de seres humanos. Os CAPTCHAS comuns usam imagens que expressam símbolos e caracteres. Esse tipo de CAPTCHA não é interpretado e lido pelos softwares leitores de tela.

A orientação do eMAG é que esse recurso seja utilizado somente em casos de extrema necessidade. Nessas situações, o CAPTCHA deverá ser disponibilizado em forma alternativa, podendo ser de perguntas de interpretação ou testes matemáticos que só poderão ser respondidas por seres humanos.

O nome completo, em inglês, é Completely Automated Public Turing Test to Tell Computers and Humans Apart. Ele significa, em uma tradução direta, teste de Turing público completamente automatizado para diferenciação entre computadores e humanos. Segundo o W3C, o problema com os CAPTCHAs é que eles não são acessíveis a todos os tipos de usuários, o que significa que alguns usuários não poderão preencher o formulário no site.

“Para resolver um CAPTCHA, você precisa ler e transcrever uma série de letras e números irregulares e distorcidos. As formas de áudio também existem, mas são igualmente difíceis de resolver, muitas vezes usando voz gerada por computador ou vozes humanas gravadas para ler uma série de números que são difíceis de distinguir do ruído de fundo gerado”, diz Derek Featherstone, especialista em acessibilidade e desenvolvimento web, em seu artigo “A acessibilidade do No CAPTCHA do Google” (texto em inglês).

Esse recurso costuma ser usado por muitas empresas para diferenciar pessoas de robôs e, consequentemente, proteger os seus sites de hackers, invasões ou qualquer tipo de softwares maliciosos que invadem sistemas e sites.

Mas o que os especialistas acham sobre o CAPTCHA?

Os CAPTCHAs podem significar uma falha de UX (User Experience, em inglês), o que quer dizer “experiência do usuário”, em tradução literal. Na prática, essa falha seria uma barreira que pode atrapalhar a navegação de qualquer pessoa, inclusive impedir a navegação de pessoas com deficiência (depende do tipo de deficiência).

Segundo Reinaldo Ferraz, especialista em desenvolvimento web do W3C Brasil, “CAPTCHA tem barreiras porque as imagens e até o áudio podem ser inacessíveis. CAPTCHA não é mais sinônimo de segurança, já que boa parte deles pode ser quebrada com simples plugins. Se você precisa mesmo usar o CAPTCHA, uma solução proposta é evitar os CAPTCHAs automatizados (plugins) e fazer perguntas simples em texto (não em imagem), como ‘quantos dias tem uma semana’ , ‘qual o primeiro mês do ano’ e por aí vai. Assim não se usa imagens que não são acessíveis”, conta.

Leonardo Gleison, técnico em Tecnologia Assistiva da Laramara – Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual, destaca que o formato em que o CAPTCHA se apresenta já é uma barreira de acessibilidade. “Infelizmente muitos sites de governo usam essa ferramenta. Ela não é acessível porque uma pessoa com deficiência visual nunca vai conseguir decodificar aquele código em forma de imagem – porque o leitor não faz a leitura da imagem – e posteriormente não vai conseguir concluir um formulário. Essa prática do CAPTCHA é ruim pra todo mundo”, afirma.

Michelle Frasson, consultora de acessibilidade e desenvolvedora no iFood, lembra que, dependendo da deficiência, a pessoa não consegue decifrar o CAPTCHA. Os leitores de tela não conseguem decifrá-lo. E quando tem captcha de áudio, fica pior ainda porque você pode ser uma pessoa com deficiência auditiva, um idoso que não entende o áudio ou até mesmo um cego que pode não entender o áudio distorcido. Ele é uma forma de segurança, de provar que a pessoa não é um robô, mas não é eficiente. Existem várias formas alternativas, como deixar um e-mail ou usar o reCAPTCHA”, diz.

Talita Pagani, UX Designer e especialista em acessibilidade digital para pessoas com autismo, também é contra o CAPTCHA. “Sou contra porque ele não é acessível para as pessoas com deficiência. Não basta ter um texto alternativo. Muitas vezes para quem não usa um leitor de telas, como pessoas com deficiência cognitiva, o texto é impossível de interpretar. O erro recorrente pode frustrar e gerar muito incômodo para essas pessoas”, afirma.

Para Taiane Fernandes, desenvolvedora especialista em acessibilidade na web, uma alternativa é a utilização de formulário com perguntas simples que podem ser respondidas por qualquer pessoa independente de culturas e níveis de instrução, podendo ser testes matemáticos ou de interpretação. “Porém, deve-se tomar cuidado no uso para que pessoas com deficiência cognitiva ou analfabetos funcionais encontrem barreiras”, destaca.

OUTRAS ALTERNATIVAS

No artigo do especialista Featherstone, ele conta sobre o lançamento do Não CAPTCHA em 2014, feito pelo Google. Segundo ele, a iniciativa contou com algumas ações significativas para a remoção de barreiras para pessoas com deficiência e que ainda defendem os sites contra bots. Eles chamaram de “Não CAPTCHA reCAPTCHA”.

Nessa opção, eles substituíram o desafio de decifrar caracteres ou áudio com uma ação simples a ser tomada pela pessoa que usa o site. Agora você só precisa marcar uma caixa que declara orgulhosamente: “Eu não sou um robô”. Sugerimos a leitura do texto em que Derek explica os testes que realizou em relação à acessibilidade dessa ação do Google.

Em seu site, o W3C mostra uma tabela com as vantagens e desvantagens de tipos específicos de CAPTCHA. Apesar disso, a maioria das soluções mencionadas não atende a todos os requisitos de um CAPTCHA acessível e utilizável. Existem algumas soluções alternativas para evitar que o spam seja possível e esteja disponível.

Fontes:

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